06 julho 2016

CPFL ganha fôlego para consolidar setor de distribuição

O acordo para aquisição da participação da Camargo Corrêa no bloco de controle da CPFL Energia pela chinesa State Grid agradou os investidores. A expectativ a no setor é que a elétrica, a partir de agora, tenha um papel ainda maior na consolidação do segmento de distribuição de energia no país, devido a existência de um sócio capitalizado por trás da companhia.

As ações da CPFL tiveram alta de 8,51% no pregão de ontem. Fecharam a R$ 22,31, acumulando ganho superior a 50% neste ano. Hongxian, presidente da State Grid no Brasil, buscava aquisições de empresas de distribuição, mas com baixo risco

A operação pode alterar o cenário do setor elétrico no país, uma vez que a chinesa pode adotar uma postura mais "agressiva" como consolidadora no Brasil por meio de seu novo veículo, afirmou o BTG Pactual em relatório enviado a clientes ontem.

Segundo o professor Nivalde de Castro, coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel), da UFRJ, a operação foi feita pela corporação chinesa em Pequim, que não deve incorporar a fatia na CPFL pela State Grid Brazil Holding (SGBH), pelo menos em curto e médio prazo.

"O negócio foi de tamanha importância estratégica pela State Grid que foi tratado em Pequim. Na nossa avaliação, eles [State Grid] não devem fundir [a CPFL com a SGBH]. Devem deixar a CPFL com sua governança própria", disse Castro, ao Valor. "A SGBH tem governança própria, com foco no setor de transmissão. É uma governança que não deve ser misturada com a da CPFL.

" De acordo com fato relevante publicado na sexta-feira (1) pela CPFL, a proposta de aquisição da participação de 23,6% que a Camargo Corrêa tem na empresa foi feita pela State Grid International Development. A chinesa propôs R$ 25 por ação da CPFL Energia, prêmio de 21,6% em relação ao fechamento de sexta.

Com a aquisição da fatia da Camargo, a chinesa enfim vai colocar os pés no setor de distribuição de energia no Brasil. Esse era o segundo objetivo na lista da empresa, que chegou ao Brasil em 2010 com a meta inicial de arrematar a concessão dos linhões de transmissão da hidrelétrica de Belo Monte.

Apesar do parque gerador de 5.304,6 megawatts (MW) de capacidade instalada da CPFL, o foco da State Grid foi o braço de distribuição do grupo, que detém oito concessões no país, com 14,3% de participação no mercado e responsáveis pelo faturamento de 57.558 gigawattshora (GWh) ano de energia.

Além disso, as distribuidoras da CPFL Energia estão entre as mais eficientes do país. Nas últimas entrevistas concedidas ao Valor, o presidente da State Grid no Brasil, Cai Hongxian, sinalizou que a empresa estudava ativos de distribuição de energia no país.

Ele sempre disse observar as distribuidoras da Eletrobras, entre elas a Celg Distribuição (Celg D), que será leiloada em agosto.

Em todas as ocasiões, porém, o executivo explicava que, para ingressar no mercado de distribuição, fortemente regulado, era importante começar por empresas com situação econômico-financeira equilibrada e bom nível de qualidade do serviço. Segundo ele, a State Grid estava em processo de aprendizagem no país e não queria tomar riscos elevados.

Para Castro, com a entrada do capital chinês, a CPFL Energia ganha fôlego para acelerar o processo de consolidação do setor de distribuição no Brasil,  visando Celg Distribuição (Celg D), de Goiás; CEEE, do Rio Grande do Sul; e Eletropaulo, em São Paulo. "O negócio dá gás para a CPFL disputar a Celg", afirmou Castro. "A CPFL será o grande consolidador do setor de distribuição, com acesso a linhas de financiamento."

A CPFL já tinha um papel de empresa "consolidadora" no segmento de distribuição de energia, como chegou a dizer em diversas ocasiões o ex-- presidente da companhia, Wilson Ferreira Junior. Em medos de junho, a companhia anunciou a compra da AES Sul, por R$ 1,7 bilhão.

Para Murilo Riccini, analista do banco mexicano GBM, ao ter um sócio com maior capacidade financeira e "vasta experiência na indústria global de energia", a CPFL poderá avançar na tão falada consolidação do setor. Presença da State Grid no controle deve ajudar CPFL a avançar em aquisições no segmento de distribuição

De acordo com dados do balanço da State Grid de 2015, a companhia terminou o ano com aproximadamente US$ 17 bilhões em caixa e dívida líquida de cerca de US$ 92 bilhões. Com isso, o endividamento medido pela relação entre dívida líquida e resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) de pouco mais de duas vezes.

Por esse motivo, a presença de cláusulas contratuais restritivas (covenants) na dívida da CPFL energia não deve ser um problema, na visão de analistas do setor.

As debêntures da elétrica têm cláusulas que poderão ser acionadas, ocasionando vencimento antecipado dos títulos, se a Previ e a Camargo Corrêa deixarem o bloco de controle da empresa. "No entanto, não esperamos que isso imponha risco à CPFL e às suas subsidiárias, dadas a capacidade financeira e a qualidade de crédito do potencial novo acionista", disse, em nota, a S&P Global Ratings.

Além da Camargo Corrêa, o bloco de controle da CPFL Energia é composto também pela Previ, que tem 29,4% das ações, e pela Bonaire (que reúne os fundos Funcesp, Petros, Sistel e Sabesprev), com 15,1% das ações.

A conclusão da venda da participação pela Camargo Corrêa ainda depende de diligência da chinesa nas operações da companhia e de aprovação pelos órgãos regulatórios. Depois disso, a oferta da State Grid deverá ser estendida aos demais controladores. Posteriormente, se estes aceitarem, a chinesa terá que fazer uma oferta pública de aquisição de ações (OPA) destinada aos minoritários.

"Nossa crença de que ambas as partes [Previ e Bonaire] estão dispostas a vender é baseada em uma recente mudança no acordo em que o direito de  venda para os acionistas foi estendido à Bonaire. Anteriormente, somente Previ e Camargo Correa tinha esse direito", afirmou o analista Pedro Manfredini, do Itaú BBA, em relatório. A avaliação do banco é que, caso aceitem vender sua participação para a State Grid, Previ e Bonaire receberão R$ 7,3 bilhões e R$ 3,7 bilhões, respectivamente.

Em nota, a Previ disse que analisa "tecnicamente" a oportunidade que poderá surgir se a oferta da State Grid pela participação da Camargo Corrêa na CPFL for estendida aos demais integrantes do bloco de controle. Em posicionamento enviado pela assessoria de comunicação da Previ, a fundação disse analisar a oportunidade "com foco no melhor interesse de seus associados, que serão devidamente informados tão logo haja decisão dos órgãos de governança da entidade". (Colaboraram Fernando Torres, Rodrigo Rocha e Juliana Machado, de São Paulo) Fonte: Valor Econômico Por Camila Maia e Rodrigo Polito Leia mais em sinicon 05/07/2016

06 julho 2016



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