07 março 2014

Empresas correm para abrir capital e aproveitar otimismo do mercado

Numa agitação que lembra o auge da internet nos anos 90, empresas estão correndo para abrir seu capital no ritmo mais acelerado em anos. A ideia é aproveitar o boom no mercado acionário e a demanda dos investidores, enquanto eles duram.

 Entre janeiro e fevereiro, 42 empresas abriram o capital nos Estados Unidos, levantando US$ 8,3 bilhões. O ano de 2014 já compete com 2007 como o mais concorrido início de ano para ofertas públicas iniciais de ações desde 2000, quando foram feitas 77 operações do gênero, de acordo com a Dealogic.

 Em 2013 — ano que também foi forte em aberturas de capital — foram realizadas 20 ofertas no primeiro bimestre.

 Muitas outras empresas se preparam para apresentar seus planos de estreia na bolsa aos investidores, entre elas o banco de investimento Moelis & Co., que divulgou esta semana que vai abrir seu capital. O Alibaba Group Holding Ltd., gigante chinês de comércio eletrônico, também pretende abrir o capital neste ano ou no próximo, segundo pessoas a par do assunto, no que promete ser uma das operações mais aguardadas pelo mercado em muitos anos.

 Em alguns aspectos, o mercado de aberturas de capital está mais aquecido hoje do que estava em 2007, às vésperas da crise financeira, e se assemelha a 2000, ano em que as bolsas alcançaram um pico. Segundo um indicador-chave, os investidores estão apostando mais agressivamente em ações estreantes em 2014 do que nos últimos dez anos, pagando uma média de 14,5 vezes as vendas anuais das empresas, comparado com 6 vezes em 2007, diz Jay Ritter, professor de finanças da Universidade da Flórida. No auge do frenesi da internet no início do ano 2000, eles pagaram a proporção colossal de 30 vezes as vendas anuais.

 Essa onda de interesse "está abrindo as portas para muitas empresas que não poderiam abrir seu capital no passado", diz William Bowmer, chefe de operações do Barclays BARC.LN -1.40% PLC para emissões de ações de empresas de tecnologia nas Américas.

 Investidores dispostos a dar uma chance às novas empresas listadas este ano têm sido recompensados generosamente. As ações das companhias que abriram o capital este ano nos EUA subiram, em média, 19% entre a estreia delas nas bolsas e 28 de fevereiro e 5% em relação à cotação de fechamento no seu primeiro dia de negociação, de acordo com a Dealogic.

 O índice S&P 500, enquanto isso, acumula apenas uma ligeira alta no ano, embora esteja em níveis recorde.

 Bancos de investimento, firmas de capital de risco, fundos de private equity e empreendedores que controlam empresas afirmam que estão tendo dificuldade para acompanhar o ritmo das novas emissões. 

Kate Mitchell, sócia da firma de capital de risco Scale Venture Partners, da Califórnia, diz que sua empresa está desmontando armários que há tempos não eram usados para criar mais espaço para salas de reunião. O objetivo é acomodar o fluxo de profissionais de bancos que vêm conversar com os executivos das empresas que a firma controla e que cogitam abrir o capital.

 Ao menos três das empresas nas quais a Scale investe estão planejando uma oferta pública de ações, segundo documentos e comunicados das companhias.

 Algumas empresas que vêm considerado abrir o capital estão acelerando o processo, temendo que a janela de oportunidade se feche em algum momento.

 A Wayfair LLC está trabalhando com subscritores em uma oferta que pode ocorrer ainda no primeiro semestre, segundo pessoas a par do assunto. A varejista on-line de produtos para o lar havia informado anteriormente que abriria seu capital entre o fim de 2014 e o início de 2015. Mas, diante da estreia bem-sucedida de outras empresas similares, a Wayfair decidiu antecipar o processo, dizem as pessoas.

 "Entre as empresas que sentem que precisarão de dinheiro adicional nos próximos dois ou três anos, as mais sofisticadas estão fazendo [a abertura de capital] agora", diz Kevin Hartz, diretor-presidente da Eventbrite, empresa de eventos de gestão que está considerando abrir seu capital em algum momento no futuro.

 O mercado para listagem de novas empresas está mostrando sinais de superaquecimento. Até agora, cerca de 75% das companhias que abriram o capital nos EUA ainda não são rentáveis, segundo Ritter, da Universidade da Flórida. Aproximadamente 65% têm vendas anuais de menos de US$ 50 milhões. As duas medidas são as mais altas desde 2000, apesar de ainda estarem longe do auge registrado naquele ano.

 "Em muitas reuniões que tivemos com investidores, que realmente começaram no fim de 2013, as expressões 'bolha' e 'ano de 1999' têm sido mencionadas como relevantes", escreveram analistas do Morgan Stanley MS +2.07% em um relatório de pesquisa recente.

 Algumas das novas empresas que abriram capital desapontaram os investidores. As ações da Cyan Inc., CYNI -4.52% por exemplo, caíram 65% em relação ao fechamento do primeiro dia de negociação, em maio de 2013, depois que a empresa de redes de computadores informou que sua receita para o quarto trimestre ficou muito aquém das estimativas.

 Nas operações deste ano, também há algumas empresas de biotecnologia, cujas ações normalmente envolvem altos riscos porque essas companhias ainda estão desenvolvendo medicamentos e têm pouco ou nenhum faturamento quando abrem seu capital. Isso tem contribuído para o menor porte, em média, e para a falta de rentabilidade e preços de estreia mais altos das ofertas deste ano. Quatro empresas de biotecnologia cujas principais apostas são remédios ainda em fase inicial de testes estrearam este ano nas bolsas.

 "Investidores que antes se mostravam tímidos em atribuir valor a projetos de desenvolvimento [de medicamentos] agora estão dispostos a atribuir um prêmio a eles", diz o investidor em ações de firmas de biotecnologia Vikram Khanna, do banco Silicon Valley.

 Enquanto isso, profissionais de bancos de investimento estão correndo pra ajudar as empresas — e a eles próprios — a abocanhar uma fatia desse bolo.

 Após encontros com profissionais de bancos de investimento, a Opower Inc., que elabora relatórios a consumidores de energia sobre seus padrões de consumo, elevou no ano passado sua estimativa para o valor da empresa, de US$ 275 milhões para US$ 917 milhões, de acordo com documentos de sua oferta pública de ações apresentados este mês. Ela afirma que houve "uma mudança na forma em que somos vistos pelos investidores e um aumento geral no valor das empresas com soluções baseadas em nuvem".

 Os profissionais dos bancos dizem que as disputas entre as instituições financeiras para liderar as aberturas de capital como subscritores se intensificaram este ano, exigindo que eles mantenham contato frequente com potenciais clientes, mesmo enquanto estão em aviões, a caminho de reuniões pelo país afora.

 Aliás, o maior provedor de internet a bordo nos EUA, a Gogo Inc., GOGO +2.10% abriu seu capital em junho do ano passado. Desde então, suas ações subiram 50%. Por Telis Demos | Leia mais em The Wall Street Journal 07/03/2014

07 março 2014



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