20 setembro 2017

Wall Street abre 'porta do fundo' para IPO de tecnologia

Na manhã de 14 de setembro, Chamath Palihapitiya, um executivo de venture capital e ex-funcionário do Facebook, twitou uma foto da fachada da Bolsa de Nova York. O prédio estava enfeitado com uma bandeira trazendo o nome da empresa que fazia sua estreia naquele dia - Social Capital Hedosophia Holdings - mas em letras maiores, dizia: "Apresentando o IPO 2.0".

Palihapitiya e um grupo de outros executivos do Vale do Silício acreditam saber como reverter a diminuição do interesse que as empresas de tecnologia têm em abrir seu capital. Na semana passada, eles realizaram o primeiro lançamento inicial de ações (IPO) do que, esperam eles, venha a ser uma série de empresas de aquisição com finalidades especiais (Spacs), que comprarão empresas de tecnologia e criarão uma "porta dos fundos" para o mercado de ações.

Embora as Spacs não sejam novas - esse tipo de empresa, também conhecida como empresa de "cheque em branco" - estão tendo um renascimento e parecem prestes a apresentar seu melhor ano em uma década. Isso acontece num momento em que outras empresas de tecnologia estão explorando rotas alternativas de acesso às bolsas. O Spotify, popular serviço de streaming de música, quer ter ações privadas existentes negociadas diretamente na Bolsa de Valores de Nova York já no quarto trimestre, em vez de realizar uma oferta pública inicial formal.

Palihapitiya disse ao "Financial Times" já ter recebido um "maremoto" de consultas de "algumas das maiores 'empresas unicórnio' mais notórias", e que seu veículo foi estruturado de modo a abrir o capital de empresas com um valor entre US$ 2 bilhões e US$ 20 bilhões. "Unicórnios" são empresas que alcançaram um valor de US$ 1 bilhão ou mais por meio de rodadas de financiamento privado.

Mas o novo veículo teve uma recepção cética por parte de alguns financistas, inclusive por causa dos custos. Palihapitiya e seus parceiros receberão 20% do valor de qualquer negócio fechado, em comparação com honorários de 6% que os bancos normalmente cobram para realizar um IPO.

O que não está em dúvida é que o número de IPOs envolvendo empresas de tecnologia caiu nos últimos anos. Em vez disso, a mais recente safra de inovadores, como a Airbnb, Uber e Pinterest, encontrou capital abundante no mercado privado, pois fundos mútuos, fundos hedge e outros tipos de investidores aderiram a iniciativas de captação de capital de risco para financiar empresas de tecnologia em seus estágios iniciais.

Palihapitiya disse que seu veículo Spac incentivará os empreendedores tecnológicos a abrir seu capital, reduzindo a duração de um processo de IPO de um ano para 60 a 90 dias, além de consumir apenas um quinto do tempo da administração sênior - em vez de metade. "Ele também sustenta que seus investidores vieram de uma lista de renomados fundos de investimento, fundos soberanos e fundos hedge, criando uma base de acionistas estável que permitirá às empresas evitar o tipo de volatilidade de cotações das ações que pode acontecer na esteira de um IPO.

Ações da Snap, proprietária do aplicativo de mensagens Snapchat, por exemplo, estão sendo negociadas por cerca de US$ 15, tendo revertido uma forte alta superior a 40% nos dias após o IPO, em março. As ações da Social Capital estão sendo negociadas a US$ 10,60, em comparação com a cotação de US$ 10 no IPO.

As patrocinadoras dos novos veículos focados em IPOs - as empresas de capital de risco Social Capital e Hedosophia - cobram algumas taxas, mas seu ganho efetivo é de US$ 150 milhões em ações de "fundadores". No total, o veículo levantou cerca de US$ 700 milhões.

Alguns investidores, como Sean Stiefel, da Navy Capital, encaram positivamente as ambições da Social Capital. "É preciso encontrar uma maneira de conseguir que pessoas como eu possamos nos expor a essas empresas fora do mercado privado", disse ele. "Eu acredito efetivamente que mercados em bolsa são mais transparentes e eficientes, e considero importante que empresas de capital aberto permitam que tanto investidores como funcionários gerem riqueza e não apenas os fundadores".

Outros mostram-se menos convencidos. "Eu acho que eles estão focados na questão errada", disse Lise Buyer, sócia na Class Group V, consultora para IPOs e anteriormente membro da equipe do IPO do Google. "Abrir o capital não é difícil. Auditagens são demoradas, mas são necessárias independentemente do mecanismo de IPO. Reuniões com investidores são uma oportunidade rara para aprender com gente de fora possuidora de uma ampla perspectiva de mercado avalia a oportunidade. Não está claro por que uma empresa saudável gostaria de renunciar a essa aprendizagem".

Depois que uma Spac compra uma empresa, ela precisa manter conformidade às regras de divulgação e transparência exigidas de uma empresa de capital aberto.

David Golden, sócio na Revolution Ventures, também advertiu para a produção de condições de "seleção adversa", uma vez que as empresas de tecnologia mais procuradas continuariam achando fácil lançar um IPO elas mesmas, deixando sobrar apenas as startups de pior qualidade.

O requisito de que uma Spac tem de devolver o dinheiro aos investidores caso não realize negócios num prazo de dois anos também cria um incentivo para que seus gestores aceitem realizar IPOs de baixa qualidade, em vez de perder a oportunidade de faturar comissões, acrescentou.

Segundo Palihapitiya, a experiência, os cérebros e as redes de venture capital por trás do novo veículo implicam que eles serão capazes de originar e precificar esse tipo de negócio melhor do que os bancos de investimento, que geralmente atuam como "guardiões da governança" dos mercados - e por isso fazem valer a pena os 20% que cobram. - Valor Econômico Leia mais em portal.newsnet 20/09/2017

20 setembro 2017



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