Evitar o rebaixamento do Brasil por mais uma agência de classificação de risco é tarefa quase impossível, e isso pode ocorrer, na conta de analistas e economistas, até o primeiro trimestre do ano que vem. A passagem de grau de investimento, que equivale a um selo de bom pagador, para junk (grau especulativo, com maior risco de calote) deve levar investidores a venderem parte dos ativos financeiros atrelados ao país — as projeções chegam a US$ 20 bilhões. Além disso, o custo de captação de recursos ficará mais elevado para as empresas, em um momento de crise econômica interna e perspectiva de juro maior nos Estados Unidos.
A Standard & Poor’s (S&P) retirou o grau de investimento do Brasil no dia 9 de setembro, e na quarta-feira a Moody’s alertou que pode fazer o mesmo em até três meses. O país também é considerado bom pagador pela Fitch, outra agência que prepara a revisão da nota do Brasil. O problema é que alguns fundos de investimento globais têm como regra aplicar apenas em papéis que tenham o selo de bom pagador em duas agências. Sem esse aval, a expectativa é que ocorra uma venda forçada (o chamado sell off) de títulos brasileiros negociados no exterior.
DECISÃO PODE OCORRER NO 1º TRIMESTRE DE 2016
Em meados deste ano, relatório do banco de investimento JP Morgan estimou que a perda do grau de investimento por duas agências levaria a uma venda forçada de US$ 6,2 bilhões em títulos soberanos brasileiros em moeda estrangeira. Além disso, haveria uma retirada provável de US$ 14 bilhões em títulos da dívida de empresas brasileiras. O Deutsche Bank, por sua vez, afirmou ontem em relatório que um novo rebaixamento levaria à revisão das classificações de risco das empresas brasileiras. O setor bancário seria um dos mais pressionados, com US$ 12 bilhões em títulos sob o risco de sell off.
Já o Barclays estima venda líquida de ativos de US$ 1,6 bilhão, já que o movimento de venda seria parcialmente compensado pela compra por investidores especializados em títulos especulativos. Além disso, segundo relatório do banco em outubro, a maior parte dos ativos brasileiros está em fundos exclusivamente dedicados a mercados emergentes, que não exigem grau de investimento.
Para o português Alberto Ramos, economistachefe do Goldman Sachs para América Latina, a maior parte dos investidores já se antecipou a um eventual downgrade.
— Esses gestores não esperam um rebaixamento para agir. Na verdade, esse movimento já está acontecendo. A perda do grau de investimento, então, não representará surpresa, já está no preço dos ativos. Os investidores já vêm protegendo sua exposição ao risco do Brasil — afirmou Ramos, que prevê que o Brasil perca mais um investment grade “certamente no primeiro semestre de 2016, possivelmente no primeiro trimestre”.
Em relatório a clientes, o banco Santander avaliou que o rebaixamento pela Moody’s “pode acontecer em uma questão de meses, no primeiro trimestre de 2016”. E ressalta que parte desse risco já está no preço dos ativos financeiros. Pablo Spyer, diretor da corretora coreana Mirae Asset Securities, também espera um corte no primeiro trimestre de 2016. Mas, em sua opinião, um downgrade “não está completamente no preço dos ativos”:
— Quando vier o segundo rebaixamento, o país vai sofrer.
Devido a uma sucessão de notícias ruins, Spyer não espera mudança nesse quadro. Segundo analistas, embora o governo possa tomar medidas fiscais, como aumento de tributos, o maior problema é o cenário político. A crise política, que envolve o início do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, não deve ser resolvida a curto prazo, o que aumenta as incertezas sobre a economia brasileira.
Além da possibilidade de downgrade pela Moody’s, em relatório publicado ontem sobre o cenário para os mercados emergentes em 2016, a S&P reafirmou a perspectiva negativa para a nota do Brasil, o que significa a possibilidade de um novo rebaixamento no ano que vem. Como fatores de instabilidade, a agência citou o processo de impeachment e “investigações de empresas e pessoas de destaque”.
Ontem, o dólar comercial avançou 1,55%, a R$ 3,799. Já a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) recuou 1,04%, aos 45.630 pontos. Na quartafeira, o anúncio da Moody’s ocorreu próximo ao fechamento dos mercados.
— A ameaça de rebaixamento ajudou a pressionar o dólar — disse Paulo Gomes, economistachefe da Azimut Brasil Wealth Management.
FITCH: MAIOR ‘DOWNGRADE’ DE EMPRESAS
Segundo relatório da Fitch, em 2016 o número de rebaixamentos de firmas brasileiras deve ser dez vezes maior que o de elevação de notas. Atualmente, 31 das 61 companhias brasileiras analisadas têm perspectiva negativa ou já estão em revisão para rebaixamento.
“Entre elas, 12 serão provavelmente rebaixadas se o rating soberano do Brasil for rebaixado em 2016. Apenas três brasileiras têm perspectiva positiva. Inflação alta e juros elevados vão prejudicar a atividade econômica”, afirmou a Fitch.
A agência estima que um terço das empresas brasileiras por ela analisadas gasta hoje mais de metade de sua geração de caixa com o serviço da dívida, frente a 24% no fim de 2013. “As companhias com os maiores percentuais são as que têm grau de investimento e incluem ALL, Gol e CSN”.
Ontem, no fim do dia, a Moody’s rebaixou a nota da Vale, de “Baa2” para “Baa3” — ainda grau de investimento —, com perspectiva negativa. A agência citou a queda nos preços do minério de ferro.
Já a S&P tirou, este ano, o grau de investimento de 11 empresas brasileiras, acompanhando o rebaixamento do país promovido em setembro. Apenas a Rússia, com 15, teve mais empresas perdendo o selo de boas pagadoras.
Após a retirada do grau de investimento pela S&P em setembro, o custo de captação das empresas brasileiras já aumentou. Um dos indicadores dessa tendência é o aumento do rendimento (yield) dos títulos de dívida emitidos pelas empresas de 1º de setembro até ontem. Quanto maior o rendimento, maior o risco identificado pelos investidores e mais a empresa tem de pagar para emitir novos títulos.
— É difícil dizer quanto, mas não há dúvida de que ocorreria aumento do custo de captação das empresas. Isso porque a economia como um todo sai da faixa de confiança e entra na faixa duvidosa.
No caso de estatais, o impacto é direto. No restante das empresas, esse impacto se dá de forma indireta — explicou Alex Agostini, economista-chefe na Austin Rating. — Para o mercado, se o país é rebaixado, é porque a politica econômica tem problemas, o que afetará de forma negativa as empresas. O Globo Leia mais em newsnet 11/12/2015
11 dezembro 2015
A conta bilionária do rebaixamento
sexta-feira, dezembro 11, 2015
Compra de empresa, crise, Desinvestimento, Plano de Negócio, Riscos, Tese Investimento, Transações MA, Venda de Empresa
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Ruy Moura
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