Em um ano que não tem dado trégua para o mercado acionário brasileiro, a paciência do investidor tem passado por testes diários e o questionamento sobre se vale a pena continuar aplicando na bolsa volta a ganhar força. Com foco apenas em ofertas públicas iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês), a gestora de recursos Rio Bravo revisitou um estudo feito em 2010 para demonstrar ao investidor se valeu ou não a pena apostar nos papéis de empresas estreantes na bolsa. E o resultado pode dar um ânimo em um momento em que boas notícias são mais do que nunca bem-vindas.
A primeira conclusão importante do levantamento, intitulado "IPOs no Brasil - Excessos, conflitos e resultados", é que os resultados das ofertas feitas no Brasil entre 2004 e 2011 foram "razoavelmente positivos" para os investidores e para a economia brasileira. Das 137 empresas pesquisadas, 53% tiveram retorno anualizado acima do Ibovespa desde os respectivos IPOs até o fim de maio deste ano. A Abril Educação liderou a lista, com um retorno excedente de 57 pontos percentuais em relação ao índice, seguida da Mills, com 53 pontos. Mas também chama atenção os outros extremos do estudo, com a Laep na pior posição, com um prejuízo de 71 pontos percentuais além do Ibovespa, e as ações da HRT, com variação negativa excedente de 50 pontos no período.
Ainda assim, o resultado foi bem melhor que o verificado no estudo anterior - referente ao intervalo de 2004 a 2008 -, quando apenas 26 companhias, ou 24% do total, tinham registrado retorno acima do Ibovespa. Naquela época, o saldo se provava majoritariamente negativo aos investidores.
Segundo a Rio Bravo, o aumento dos "casos de sucesso" pode ser em parte explicado por uma maior sobriedade dos investidores em relação aos IPOs. "Houve uma sensível redução do apetite de investidores para comprar IPOs do pós-crise para cá. Notamos que os investidores se tornaram mais céticos e o ambiente econômico, não só no Brasil, está menos expansionista e com menos atração de capital", afirma Fernando Bevilacqua e Fanchin, autor do levantamento.
Apesar da melhora dos resultados entre as amostras, a gestora faz uma ressalva em relação ao aumento do peso de setores como o elétrico, de commodities e bancos no Ibovespa, o que teria pressionado seu desempenho para baixo. "Nos últimos três anos "ficou mais fácil ganhar do Ibovespa"", diz a gestora.
Além disso, problemas estrututurais identificados em processos de IPO no estudo anterior seguiram como alerta ao aplicador. Desta vez, a Rio Bravo decidiu se concentrar em três questões geradas por conflitos de interesse entre empresários, bancos e investidores: desempenho de empresas pré-operacionais, financiamento pré-IPO e viés dos analistas.
Num momento de maior agitação do mercado com as empresas do empresário Eike Batista, a análise da trajetória de ações de empresas pré-operacionais ganha maior relevância. E a conclusão é desalentadora para aqueles que ainda estão esperançosos com uma recuperação de seus papéis.
A Rio Bravo analisou o desempenho de companhias pré-operacionais e daquelas sem escala suficiente para uma listagem com liquidez em bolsa e apontou que, na média, os investimentos desde os respectivos IPOs foram péssimos.
Os retornos excedentes das três companhias já presentes no estudo anterior - Vanguarda Agro (na época Brasil Ecodiesel), MPX e Nutriplant - seguiram negativos. "Mesmo com o mau desempenho do Ibovespa nos últimos anos, teria sido ainda pior ter investido nestas três companhias", afirma a Rio Bravo.
E os investidores que aplicaram em ações de empresas como HRT, OGX e OSX também têm razão de sobra para se preocupar, já que as perdas superam em mais de 65 pontos percentuais a queda do Ibovespa no período acumulado desde o IPO, o que, na visão da Rio Bravo, mostra que a destruição de capital é irrecuperável.
De um total de sete novas companhias pré-operacionais analisadas na pesquisa mais recente, a gestora mostrou que a exceção ficou por conta da Renova Energia. Os papéis da empresa subiram 193% desde o IPO, ante uma queda de 15% do Ibovespa. A participação pouco expressiva dos estrangeiros na oferta pode ser uma explicação para o bom desempenho da Renova, de acordo com a Rio Bravo.
"Empresas pré-operacionais não têm geração de caixa e algumas não contam sequer com receita, então o nível de risco é muito grande", afirma Fanchin, da Rio Bravo. A gestora defende que, nesses casos, o ideal seria que as companhias, antes de ingressarem na bolsa, recebessem uma rodada de financiamento privado ou de investidores qualificados.
Num segundo momento, a Rio Bravo reavaliou o desempenho das ações de empresas que tiveram financiamento pré-IPO com "equity kicker", mecanismo que proporciona ao banco um ganho diretamente associado à maximização do valor atribuído à empresa na oferta. A Rio Bravo considera a combinação a mais perversa para o investidor, dado que o banco atua tanto como agente colocador quanto como parte interessada.
O BicBanco se enquadra nesse caso. O investidor que aplicou em suas ações desde o IPO amarga um prejuízo acumulado 17 pontos percentuais além da queda do Ibovespa. A situação se agrava quando se refere à Agrenco e ao Cruzeiro do Sul, que tiveram retornos excedentes negativos de 80 e 93 pontos nos respectivos intervalos. "Fica claro que esta situação deve mesmo acender uma luz vermelha no painel de controle do investidor", diz a Rio Bravo.
A boa notícia é que, segundo o autor do estudo, essa combinação está cada vez mais rara em IPOs. "Esse movimento foi típico entre 2007 e 2008, quando o mercado estava num módulo de euforia tão grande que esse tipo de problema passava despercebido", comenta.
A terceira e última questão colocada pela Rio Bravo diz respeito ao viés dos relatórios de início de cobertura de analistas, que sugerem um otimismo exagerado. O levantamento indica que a grande maioria dos analistas das corretoras dos bancos envolvidos na oferta publicou relatórios iniciais com recomendação de compra para os papéis e potencial de valorização médio estimado de 54%. Para a infelicidade dos investidores, entretanto, o retorno médio visto no período indicado ficou negativo em 6%. "A lição que fica para o investidor é que é preciso ter prudência e ceticismo. Ele precisa fazer seu papel para não se prejudicar", comenta Fanchin.
Pedro Rudge, sócio da gestora Leblon Equities, ressalta que, por definição, o IPO tende a ser um processo que requer maior cuidado e embute maior risco. "O importante é o investidor entender realmente quanto vale o negócio e se o preço está ou não adequado, minimizando, assim, o risco de entrada", diz Rudge, que chama atenção para a necessidade de uma educação financeira por parte de investidores, especialmente as pessoas físicas.
Autor(es): Por Beatriz Cutait | De São Paulo
Valor Econômico -
Fonte: clippingmp11/07/2013
11 julho 2013
IPO: valeu a pena?
quinta-feira, julho 11, 2013
Investimentos, IPO, Plano de Negócio, Tese Investimento, Transações MA
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Ruy Moura
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