Uma baixa taxa de juros combinada à recuperação econômica colocará o Brasil em destaque nas fusões e aquisições no próximo ano na América Latina.
Com o volume esperado de operações, o petróleo e o gás, juntamente com a TI, liderarão.
As transações de fusões e aquisições aumentaram quase 2% em relação ao ano anterior, de janeiro a novembro, atingindo 2.070 – incluindo transações de risco e private equity, de acordo com a consultoria Transactional Track Record (TTR).
Enquanto isso, os valores negociados atingiram quase US $ 115 bilhões no período, um aumento de 39,5% em relação ao mesmo período do ano anterior. O Brasil concentrou mais da metade do valor e número de todas as operações na região, seguido pelo México (US $ 18,3 bilhões), Chile (US $ 12,6 bilhões), Colômbia (US $ 10,5 bilhões), Peru (US $ 7,4 bilhões) e Argentina (EUA). US $ 5,06 bilhões).
Wagner Marques Rodrigues (foto), diretor de pesquisa e inteligência de negócios da TTR, conversou com a BNamericas sobre o cenário de M&A projetado na região para o próximo ano.
BNamericas: Qual é a sua previsão para a atividade de M&A de 2020 na América Latina? As turbulências no Chile e na Argentina, entre outras, devem impactar a atividade de M&A na região?
Rodrigues: As tensões geopolíticas e a desaceleração econômica que ocorreram nas principais economias da região, como México, Chile e Argentina, contribuem para uma perspectiva mais cautelosa para 2020 em comparação a 2019.
Embora seja necessário cautela, prevemos que as operações que envolvem transações de private equity estarão no radar dos investidores.
BNamericas: Em quais países o volume de transações deve aumentar e em quais países deve diminuir?
Rodrigues: Brasil, México e Chile têm as condições mais favoráveis ​​para a dinâmica das transações na região. Por outro lado, declínios significativos podem ser previstos na Argentina porque a tendência de queda observada em 2019 provavelmente continuará no próximo ano devido à incerteza econômica e política que esse mercado experimentou nos últimos meses.
BNamericas: No Brasil, o setor de petróleo e gás ficou entre os destaques em fusões e aquisições em termos de volume este ano, em grande parte devido ao plano de desinvestimento da Petrobras . Esses efeitos ainda estarão presentes no próximo ano ou a atividade diminuirá, pois a Petrobras agora possui menos ativos em oferta?
Rodrigues: Sem dúvida, o setor de petróleo e gás teve uma influência importante nos números do ano, especialmente medidos nos valores das transações. Não apenas o plano de desinvestimento da Petrobras, mas também seu plano de investimentos, contribuem para o movimento nesse setor.
A Petrobras está trabalhando para direcionar seu foco para a exploração e produção, e a recente aquisição do campo de Búzios é um ótimo exemplo desse movimento. A empresa anunciou recentemente seu plano estratégico para 2020-2024, o que deixa claro que a empresa deseja continuar com seu plano de desinvestimento em várias frentes, como refino, usinas térmicas, tubulações offshore, entre outras. É por isso que é possível olhar para 2020 com otimismo de que será um ano muito dinâmico neste setor.
BNamericas: Quais outros setores liderarão o volume de operações de M&A em 2020? Você acredita que os valores financeiros e o volume de operações podem exceder os números alcançados em 2019? Se sim, por quê?
Rodrigues : É provável que em termos de volume o setor de tecnologia continue a desempenhar um papel de liderança. Este é o caso todos os anos e pode ser explicado pela necessidade de otimização em todas as áreas, aplicando novas tecnologias, o que permite o surgimento de modelos de negócios muito potentes (proptech, fintech, sportstech etc.) que são atraentes para os investidores.
Dado que, de acordo com nossos registros, o número de transações permaneceu relativamente estável durante anos de grande incerteza política e econômica (2015, 2016, 2017, 2018), é possível prever um crescimento adicional em 2020, considerando o cenário atual de recuperação econômica.
BNamericas: O Brasil tem uma taxa de juros baixa e muitos economistas esperam que investidores que anteriormente focaram suas carteiras em títulos do governo invistam na economia real para obter retornos mais altos. Esse fenômeno gera mais fusões e aquisições, mesmo com mais atividades de private equity?
Rodrigues: Sim, é claro, a busca por mais retorno sobre o capital geralmente reflete aquisições, fusões, levando as empresas a tomar decisões estratégicas para crescer por meio de aquisições.
Além disso, os investidores podem direcionar investimentos por meio de private equity, que possui um horizonte de investimento mais longo, mas maior potencial de retorno.
BNamericas: A China é um importante parceiro comercial do Brasil e vem fazendo investimentos diretos em infraestrutura brasileira, mas em termos de fusões e aquisições ainda vemos um grande domínio de players dos EUA e de outros países. Por que você acha que a China ainda é tímida – considerando o tamanho de sua economia – na arena de fusões e aquisições?
Rodrigues: Historicamente, observamos um número relativamente baixo de transações (por jogadores chineses) em comparação com outros países. Pode-se esperar que a recuperação econômica também tenha um efeito no clima chinês de fusões e aquisições no Brasil.
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Ruy Moura
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