24 maio 2018

Bancos médios dos EUA devem passar por consolidação

Oferta do Fifth Third nesta semana, de US$ 4,7 bi, para comprar o MB Financial trouxe novo ânimo para o segmento

Os bancos dos Estados Unidos em grande medida ficaram de fora da onda generalizada de fusões e aquisições dos últimos anos. Enquanto quase todos os setores de negócios viram transações com valores recorde, os grandes bancos passaram praticamente em branco. E a atividade de fusões e aquisições entre os bancos pequenos e médios - 5.607 pelo último levantamento - foi ainda menor.

Mas, na segunda-feira, quando o Fifth Third Bancorp, de Cincinatti anunciou sua oferta de US$ 4,7 bilhões pelo MB Financial, de Chicago, as ações de outros bancos na área de Chicago também começaram a subir. Os papéis do Wintrust, um banco de tamanho similar com sede em Rosemont, Illinois, encerraram o dia em alta de quase 4%, enquanto os do First Midwest, de Itasca, avançaram 3%.

As implicações são óbvias: depois de anos de poucas fusões bancárias, essa aquisição poderia ser o marco de uma virada.

As condições para as fusões e aquisições parecem estar melhores do que nunca desde a crise financeira. Taxas de juros mais altas e impostos mais baixos impulsionaram os lucros dos bancos, dando às equipes executivas plataformas mais sólidas para contemplar passos ousados. Dados divulgados na terça pelo Federal Deposit Insurance Corp. (FDIC), agência do governo dos EUA que garante depósitos bancários, mostraram que o lucro líquido dos bancos no primeiro trimestre subiu 27% em relação ao mesmo período de 2017, somando o recorde de US$ 56 bilhões.

Acionistas ativistas também começaram a pressionar, defendendo novas maneiras de elevar os lucros de nomes como Ally Financial, Comerica, Citigroup, Morgan Stanley e Regions Financial, entre outros.

E, mais importante ainda, houve uma mudança de atitude dos órgãos reguladores.

Durante grande parte do período pós-crise, as agências de supervisão fechavam a cara para qualquer transação que pudesse tornar os bancos maiores, mais complexos e mais difíceis de policiar. Várias propostas de fusão foram abandonadas porque as autoridades demoravam muito para avaliá-las, como a oferta do New York Community Bancorp pelo Astoria Financial e a do Investors Bancorp pelo The Bank of Princeton. A combinação de US$ 5,3 bilhões entre o M&T Bank, de Nova York, e o Hudson City Bancorp, de Nova Jersey, levou mais de três anos para ser concluída.

Agora, sob a presidência de Donald Trump, há claros sinais de que essa atitude vem mudando. Em 2017, o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) facilitou a fusão de bancos ao elevar, de US$ 25 bilhões para US$ 100 bilhões, o limite de ativos combinados que exige investigações reguladoras mais profundas.

Além disso, o Fed estuda mudar a forma como classifica as equipes administrativas dos bancos, de uma escala de cinco pontos para uma de quatro. Na prática, disse Rodgin Cohen, presidente sênior do conselho de administração da Sullivan & Cromwell, isso pode significar que muitos executivos vão passar de uma nota 3 ("abaixo de satisfatória") para uma 2 ("satisfatória"). No passado, ter uma nota 3 era um obstáculo para fusões, deixando à margem muitos interessados em negócios.

Outro incentivo à consolidação foi o novo projeto de lei de ajuda aos bancos aprovado na terça pelo Congresso, que vai liberar os de pequeno e médio porte de muitas das restrições que se aplicam aos megabancos, como J.P. Morgan Chase e Bank of America.

Os beneficiados mais óbvios são as instituições regionais, com ativos entre US$ 50 bilhões e US$ 100 bilhões, disse Quyen Truong, sócia da Stroock & Stroock & Lavan.

Ela destacou que esses bancos agora se encontram livres de todos os "padrões prudenciais incrementados" do Fed - exigências mais rigorosas de capital e de liquidez, limites à alavancagem e à concessão de empréstimos, comitês obrigatórios de avaliação de riscos, planos de liquidação ordenada das operações e testes anuais de resistência. Os bancos com ativos entre US$ 100 bilhões e US$ 250 bilhões ainda vão precisar passar por testes periódicos de resistência, mas vão ficar livres das outras exigências 18 meses depois da entrada em vigor da lei.

Tudo isso sugere a probabilidade de termos mais aquisições bancárias. "Acho que estamos em um possível ponto de virada", disse Cohen. "Você tem bons incentivos para fazer fusões e a remoção de obstáculos para fazer fusões."

O único porém, por enquanto, é o valor relativo das ações de bancos. Os papéis do Fifth Third tiveram a maior queda em quase dois anos na segunda-feira, de 8%, depois de os investidores receberem mal a notícia sobre a transação com o MB Financial. Criticaram, em particular, a projeção de aumento no lucro por ação em 2019 de apenas 2% - mesmo presumindo altos cortes de custos - e a estimativa de que vai levar sete anos para que se supere o impacto no valor patrimonial tangível, bem maior do que os três a cinco anos considerados normal para aquisições bancárias, segundo especialistas em fusões.

Chris Marinac, cofundadora da FIG Partners, uma firma de assessoria e análises financeiras com sede em Atlanta, disse que o Fifth Third pode ter sido pressionado a agir pelos rumores, na semana passada, de interesse no MB de outros possíveis compradores. Dois dos bancos relacionados ao MB, o US Bancorp e o Bank of Montreal, não comentaram o assunto.

A queda nas ações do Fifth Third foi "claramente um alerta" para outros possíveis compradores, segundo Marinac. "Você precisa ter sua transação bem amarrada e com um período mais rápido de retorno."

Caso uma onda de fusões e aquisições realmente ganhe força, os investidores podem acabar analisando com melhores olhos os que se anteciparem em vez dos que perderem o bonde.  por Valor Online Christopher Dilts/Bloomberg Leia mais em gsnoticias 24/05/2018

24 maio 2018



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