A decisão da Gerdau de adquirir participações minoritárias em quatro controladas de capital fechado no Brasil, anunciada ontem dentro do "Projeto Gerdau 2022", foi recebida com surpresa e desconfiança pelo mercado. As principais ressalvas destacaram o valor da compra, de R$ 1,986 bilhão, e o momento da operação, em meio à crise na siderurgia.
O Citi considerou, em relatório, a transação cara demais para a companhia. O preço representa quase 20% do valor de mercado da siderúrgica gaúcha, ou 7% de seu valor de empresa - que leva em conta também a dívida. Nas contas do banco, essas fatias das subsidiárias vão representar cerca de R$ 100 milhões do Ebitda durante 2015 - ou seja, a empresa estaria pagando mais de 20 vezes o que as operações geram.
Um analista ouvido pelo Valor também considerou os valores pagos pelas participações, que variam de 2,39% a 4,90% na Gerdau Aços Especiais, Gerdau Açominas, Gerdau Aços Longos e Gerdau América Latina Participações, bem acima do valor justo, levando em conta os resultados que elas apresentaram em 2014 comparativamente aos números consolidados da empresa.
Esta sobrevalorização mantém-se mesmo considerando a incerteza quanto ao recebimento integral, pelos vendedores, da cota do Fundo de Investimentos em Direitos Creditórios (FIDC) de R$ 802 milhões, dada como parte do pagamento, entende o analista. O fundo refere-se à cobrança, por parte da Gerdau, de juros e correção sobre o empréstimo compulsório sobre energia pago entre 1977 e 1993 à Eletrobras.
De acordo com ele, as participações que estão sendo adquiridas geraram R$ 83 milhões dos R$ 85,5 milhões em lucros atribuídos aos minoritários da empresa em 2014, enquanto os controladores ficaram com R$ 1,4 bilhão. Ele também avalia que a aquisição contraria o discurso de proteger caixa e reduzir o comprometimento de capital de giro.
Para este analista, a forma como a operação foi comunicada, sem informar quem são os vendedores, por exemplo, ainda contribui para alimentar rumores, aí incluídos a eventual oferta pública de aquisição de ações (OPA) da Metalúrgica Gerdau e os motivos da renúncia do diretor de relações com investidores do grupo, André Pires de Oliveira Dias, que assinou o fato relevante de ontem e deixa o cargo hoje.
"Com o mercado siderúrgico brasileiro enfraquecido e a necessidade de reter caixa e reduzir a alavancagem", a hora pode não ser a melhor para se realizar a aquisição, escrevem os analistas Alexander Hacking e Thiago Ojea, do Citi.
O BTG Pactual também classificou a operação como cara. "Temos dificuldade em entender o porquê de pagar um preço tão elevado por fatias minoritárias nesses mercados, especialmente quando suas ações estão em baixas históricas", disse, em relatório. A instituição decidiu cortar o preço-alvo das ações preferenciais (PN) da Gerdau, de R$ 12,50 para R$ 9, refletindo a transação "inesperada". A recomendação foi mantida em compra.
Os termos do pagamento são favoráveis, acrescenta o BTG. O banco, porém, discorda do uso de 30 milhões de ações PN da companhia como pagamento, por poder diluir ligeiramente o valor das ações. É a mesma opinião do Citi.
Procurada, a Gerdau informou que não teria mais informações além das divulgadas ao mercado.
A reação na BM&FBovespa foi negativa. As ações preferenciais da Metalúrgica Gerdau tiveram a pior queda do Ibovespa, principal índice, no dia, com perda de 10,51% para R$ 4,68 - menor preço desde fevereiro de 2004 - e no ano, desvalorização de 56,5%. Gerdau PN, por sua vez, ficou na segunda pior baixa do índice, com recuo de 7,25% para R$ 6,52, o nível mais baixo desde julho de 2005.
Gerdau também vai reestruturar seus negócios. As atividades no México, República Dominicana e Guatemala vão integrar a operação "América do Norte". Argentina, Chile, Colômbia Peru, Venezuela e Uruguai farão parte da unidade "América do Sul". No negócio "Brasil", a siderurgia nacional e as atividades com carvão na Colômbia serão unidos com o segmento de mineração.
Fonte: Valor Econômico/Por Sérgio Ruck Bueno, Renato Rostás e Camila Maia | De Porto Alegre e São Paul Leia mais em portosenavios 16/07/2015
21 julho 2015
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Compra de empresa, Consolidação, Plano de Negócio, Tese Investimento, Transações MA, Venda de Empresa
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Ruy Moura
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