25 junho 2018

Incerteza, turbulência e impactos na economia

As mudanças do cenário global, associadas às incertezas do quadro econômico e político doméstico, têm dado munição para um substancial aumento da instabilidade e volatilidade no mercado, afetando o risco Brasil, a bolsa de valores, a taxa de câmbio e os juros futuros.

Mas esse impacto não se restringe, obviamente, ao mercado financeiro.

O nível de atividade e os investimentos produtivos e na infraestrutura são negativamente afetados pela dificuldade de tomada de decisões em meio a um quadro turbulento e ainda, mais recentemente, pelos reflexos da crise dos combustíveis e os efeitos da greve dos caminhoneiros.

Há uma clara percepção de que a economia crescerá menos e a inflação, embora dentro da meta, deva subir.

A taxa de câmbio R$/US$ chegou a quase 4,00 no início de junho, apresentou reversão logo depois, mas a volatilidade persiste. No entanto, é interessante notar que, ao contrário de períodos anteriores de grande estresse no mercado, em que o ponto fundamental era a vulnerabilidade das contas externas brasileiras, o movimento atual se revela mais associado às questões fiscais e a especulação, especialmente tendo em vista a incerteza quanto ao futuro político do País.

Sob o ponto de vista fiscal, o déficit nominal atual da ordem de 7% do Produto Interno Bruto (PIB) é impactante por qualquer parâmetro, embora deva se destacar que cerca de dois terços desse montante se referem ao custo financeiro da dívida, inflado pelos juros elevados. Ou seja, o déficit primário, que registra a diferença entre arrecadação e gastos correntes, é de cerca de 2% do PIB.

Da mesma forma a dívida pública bruta de cerca de 70% do PIB.

Pelo lado das contas externas, o quadro é bem mais controlado. O déficit em conta corrente do balanço de pagamentos brasileiro acumulado em 12 meses, até abril passado, é de apenas 0,4% do PIB, ou US$ 8,9 bilhões. Só para efeito de comparação este déficit chegou a US$ 104 bilhões em 2014. Em contrapartida, o País recebeu, no mesmo período mencionado, US$ 61,7 bilhões de Investimento Diretos no País (IDP), um capital considerado menos volátil.

Além disso, o Brasil conta com reservas cambiais de cerca de US$ 380 bilhões.

Com relação à divida externa, ela atinge um total de US$ 548 bilhões (abril de 2018) dos quais, apenas US$ 76 bilhões são dívida governamental.

US$ 232 bilhões se referem a empréstimos intercompanhia, de empresas transnacionais que em geral adotam normas rígidas de limitação de exposição cambial, contando na sua maioria com o chamado “hedge natural”, ou seja, receitas em dólares.

US$ 133 bilhões de dívidas de bancos, e dívidas de empresas de US$ 106,4 bilhões, dos quais, mais de 80% contam com alguma proteção (hedge).

No que se refere ao capital mais volátil, aquele da Bolsa de Valores, ou do mercado financeiro, o quadro é mais instável. Por ser um capital mais móvel ele é afetado pelos movimentos especulativos domésticos, assim como alterações no mercado internacional. Os EUA, depois de um longo período de quase dez anos de juros baixos, têm elevado a taxa de juros básica, fazendo com que as taxas para títulos de dez anos, por exemplo, praticamente dobrem nos últimos anos para cerca de 3% ao ano.

No Brasil, observa-se ainda uma busca de proteção, operações de hedge, ou posições especulativas apostando na desvalorização do real. Em maio passado, por exemplo, os contratos de dólar a termo (NDFs, na sigla em inglês) na Bolsa de Valores cresceram 36%, atingindo R$ 14,4 bilhões.

Ou seja, no curto prazo, diante da inexistência de qualquer trava aos ingressos de capital especulativo e as operações no mercado futuro, resta ao Banco Central oferecer swaps cambiais para atender à demanda de hedge. Da mesma forma, poderá ter que atuar no mercado à vista. Munição para isso não lhe falta. O Estado de S.Paulo  Leia mais em portal.newsnet 25/06/2018

25 junho 2018



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