Prevista para ser lançada até o fim deste ano, a oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) da BR Distribuidora testará a procura até agora tímida das pessoas físicas por papéis de empresas estreantes na bolsa de valores. A combinação de uma marca bastante conhecida com a criação de fundos de investimento que permitem aplicação a partir de R$ 200 tem o potencial de trazer o varejo com mais força de volta aos IPOs.
Levantamento feito pelo Valor mostra que nenhum dos oito IPOs de 2017 conseguiu atingir o volume mínimo de venda de 10% da oferta total percentual reservado para os investidores de varejo. Hermes Pardini, IRB Brasil e Biotoscana ficaram bastante próximas disso, mas outras companhias, como Omega Geração e Carrefour, não chegaram nem a 5%. (veja tabela abaixo)
Esse é um cenário bastante diferente daquele dos anos áureos das ofertas de ações, de 2007 a 2009, quando a procura das pessoas físicas por ações nos IPOs superava em várias vezes o lote disponível ao varejo, o que levava a um rateio. Foi o que aconteceu com os investidores de empresas como BM&F, Bovespa, Banco do Brasil, Petrobras e Visanet.
Neste ano, o rateio não chegou a acontecer em nenhuma das oito ofertas iniciais de ações, nem mesmo no caso de companhias bastante conhecidas dos investidores, como a aérea Azul e a varejista Carrefour. Em quantidade, a companhia que mais atraiu pessoas físicas foi o grupo ressegurador IRB Brasil, com 7.324 investidores. Isso representou 9,29% do total.
No geral, a B3 ganhou mais investidores de varejo em 2017, principalmente por causa da valorização do Ibovespa no ano, de 26,84%. Ao fim de setembro, havia 599,7 mil pessoas físicas cadastradas na bolsa. Esse número é 6,3% maior - ou 35.726 investidores a mais - do que em dezembro do ano passado.
"Houve uma melhora no apetite por investimento em bolsa, mas isso ainda não veio para os IPOs", diz André Rosenblit, diretor de renda variável do Santander.
Em IPOs de safras anteriores, um chamariz para as pessoas físicas era a valorização dos papéis já no dia da estreia. Ações de empresas como Redecard, Anhanguera, São Martinho e GVT tiveram altas de dois dígitos percentuais no dia da estreia. Isso fazia com que investidores comprassem o papel já para vendê-lo ao fim do dia do lançamento e embolsar os ganhos são os chamados "flippers".
Na atual safra de IPOs, ganhos estrondosos não aconteceram ainda, apesar de os papéis de cinco companhias terem se valorizado já na largada. A maior valorização foi da Hermes Pardini, de 8,95%. "Não houve estreias cinematográficas neste ano. Isso pode ser positivo porque o investidor não enxerga a bolsa como um cassino", afirma Rosenblit.
Quem avalia o passado dos IPOs também pode desanimar de comprar as ações estreantes. Estudo recente conduzido pelos professores Pierre Souza e William Eid Júnior, do Centro de Estudos em Finanças da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da FGV, mostrou que a safra de ofertas iniciais de 2006 e 2007 trouxe ganhos inferiores ao Ibovespa para os investidores. O retorno médio dos 76 IPOs estudados em dez anos ficou em 20%, contra 42% do Ibovespa. "A experiência passada mostrou que comprar o papel no IPO não deu em nada", afirma Eid.
Para Bruno Constantino, sócio da XP Investimentos, as perdas do Ibovespa nos últimos anos ainda está muito presente na memória dos investidores, o que tem feito com que eles se mantenham mais afastados dos IPOs. "As pessoas físicas estão na renda fixa, mas, se tivermos uma sequência de bons IPOs, é natural que elas voltem." Por enquanto, o que se vê é que, dos oito IPOs, seis estão com valorização desde a estreia, mas apenas três batem o Ibovespa.
Para atrair mais as pessoas físicas, a BR Distribuidora vai permitir que elas invistam nas ações por meio de fundos a partir de R$ 200. É um tíquete bem menor que os R$ 3 mil exigidos para a compra direta dos papéis. Em um período mais recente, esse modelo foi usado pela BB Seguridade, em 2013, que contou com 103,4 mil investidores individuais, além daqueles que entraram via fundos criados especificamente para aplicadores de varejo. No total, as pessoas físicas representaram 20,8% do IPO. No passado, Visanet, BB, Petrobras e Vale também usaram os fundos para o varejo. - Valor Econômico Leia mais em portal.newsnet 23/10/2017
23 outubro 2017
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segunda-feira, outubro 23, 2017
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Ruy Moura
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