Os principais acionistas da empresa de energia Eneva preparam o relançamento da companhia na bolsa, com uma oferta de ações que pode movimentar até R$ 1,5 bilhão, o equivalente a 40% de seu valor de mercado hoje.
O objetivo é levantar recursos para desalavancar o negócio e ampliar a capacidade de investimento. Uma parcela secundária na oferta também é avaliada, a depender das condições de mercado e caso a venda de ações pelos atuais sócios faça sentido para melhorar a liquidez em bolsa.
Avaliada em cerca de R$ 3,5 bilhões na B3, apenas 15% do capital da Eneva está em circulação - apesar de a empresa não ter um sócio-controlador definido e nem acordo de acionistas entre os atuais investidores.
O desejo da companhia é vir a mercado ainda neste segundo semestre de 2017. O assunto está em discussão internamente e ainda não começaram as reuniões preliminares com investidores. Mas, segundo o Valor apurou, os bancos BTG Pactual, Goldman Sachs, Citi, Itaú BBA e Santander já foram contratados para tocar a oferta de ações. Consultada, a Eneva não comentou.
Idealmente, o plano é captar perto de R$ 1 bilhão para o caixa e, se possível, vender cerca de R$ 500 milhões da posição de alguns acionistas. A empresa possui projetos em carteira nos quais gostaria de investir, mas que hoje não consegue tocar por insuficiência de recursos.
A Eneva encerrou março com R$ 5,2 bilhões em dívida bruta e R$ 620 milhões em caixa. Nos três primeiros meses deste ano, a receita líquida somou R$ 445,4 milhões e o Ebitda recorrente (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, excluídos ajustes extraordinários), de R$ 256,8 milhões - equivalente a uma margem de 58%.
A despeito dos avanços no desempenho operacional e da readequação dos prazos das dívidas, os compromissos ainda pesam nas contas da Eneva.
Tanto que a gestão vinha renegociando alguns créditos, como fez com Bradesco e Caixa Econômica Federal em janeiro. De janeiro a março, a despesa financeira líquida somou R$ 156 milhões, mesmo com a queda na taxa de juros (mais da metade da dívida financeira é atrelada ao CDI).
A oferta de ações chega pouco mais de um ano depois de a empresa sair da recuperação judicial, um processo que contou com a conversão de R$ 983 milhões em dívidas em capital, em novembro de 2015, o que transformou diversos bancos credores em sócios do negócio.
A reestreia é chamada internamente de re-IPO (nova oferta pública inicial, na sigla em inglês). Além de capitalizar o negócio, a colocação pode deixar definitivamente no passado a herança de Eike Batista e coroar o fim do processo de reestruturação pelo qual a maior operadora privada de gás natural do país passou ao longo dos últimos quatro anos - desde a derrocada do Grupo X.
A Eneva chegou à bolsa há dez anos, no auge da euforia do mercado brasileiro, como MPX, o braço de Eike em energia. Captou, na estreia, R$ 2 bilhões.
De lá para cá, passou por mudanças profundas, tanto no posicionamento estratégico e operacional, como nas estruturas financeira e societária - o que modificou por completo a governança do negócio.
Atualmente, os maiores acionistas são o BTG Pactual, com 36,4%, e o fundo Cambuhy, que conta com recursos de Pedro Moreira Salles, com 25,7%. O grupo alemão E.On (por meio da holding Uniper), que já foi cocontrolador com Eike, tem 8,3%.
A Cambuhy Investimentos chegou à companhia mais tarde, em março do ano passado, por meio da antiga OGX Maranhão, a Parnaíba Gás Natural (PGN).
Na origem, MPX e a OGX detinham participações cruzadas, em estrutura que incluía a operação de gás. Então, após comprar a PGN, a Cambuhy acordou com os acionistas da Eneva incorporar a operação de gás na empresa, junto com alguns outros créditos - o nome MPX ficou para trás quando a alemã E.On tornou-se sócia de Eike Batista, há cerca de cinco anos.
O re-IPO dará a alguns dos antigos credores da Eneva uma chance de recuperar seus recursos, caso fique confirmada a distribuição de uma parcela secundária na oferta. Entre os bancos que converteram o que tinham a receber em ações estão os bancos BTG Pactual, Itaú Unibanco, Pine, Citi e HSBC.
Os dois maiores sócios, porém, não têm interesse de vender a participação em volume significativo, conforme pessoas com conhecimento do assunto ouvidas pelo Valor. Ambos acreditam que há valor no longo prazo.
A Cambuhy Investimentos, segunda maior acionista, enxerga a Eneva como uma plataforma na qual pretende ficar pelos próximos dez anos, segundo o Valor apurou. A gestora avalia que a empresa ainda precisa passar por alguns processos de transformação para alcançar seu potencial.
Mas, para outros acionistas, uma saída via oferta de ações pode ser bastante interessante, já que atuam no setor de energia. O banco Pine, por exemplo, tem R$ 107 milhões em ações da Eneva - volume que representa quase 10% do patrimônio líquido do banco de médio porte.
Na avaliação de uma pessoa próxima à companhia, a saída de alguns sócios que foram parar na Eneva via conversão de crédito pode ser benéfica para a gestão, ao trazer um maior alinhamento de interesses de longo prazo entre aqueles que permanecerem.
Durante o primeiro semestre de 2017, de maior estabilidade operacional e financeira, os sócios se organizaram e já fizeram mudanças na estrutura de gestão.
O conselho de administração foi todo remodelado. No fim de junho, os acionistas convidaram Carlos Marcio Ferreira para presidir o colegiado, no lugar de Fabio de Barros Pinheiro, e atuar de forma participativa na administração do negócio. Ferreira tem 13 anos de experiência no setor de energia, com passagem por empresas do Grupo Rede, CPFL Energia e Elektro.
Além disso, em um conselho com sete membros, BTG Pactual e Cambuhy assumiram dois assentos cada. Em abril, assumiram Renato Antonio Secondo Mazzola e Edwyn Neves, ambos do banco fundado por André Esteves, e Marcelo Medeiros e Guilherme Bottura, da gestora que conta com recursos do banqueiro Pedro Moreira Salles.
Também a administração executiva foi renovada para deixar o passado para trás. Pedro Zinner assumiu a presidência e em breve, conforme fontes próximas à empresa, a Eneva vai anunciar a contratação de nomes conhecidos do mercado para conduzir as diretorias operacional e financeira. - Valor Econômico Leia mais em portal.newsnet 26/07/2017
26 julho 2017
Eneva prepara reestreia na bolsa com nova oferta
quarta-feira, julho 26, 2017
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Ruy Moura
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