25 abril 2017

O dono da Arapuã quer voltar aos negócios

Herdeiro e presidente da extinta e endividada rede de eletrônicos, Renato Simeira Jacob compra participação em empresa de bebidas para tentar escrever uma nova história

A década de 1990 pode ser considerada uma das mais dramáticas da história para o varejo brasileiro. Naquela época, algumas das principais redes do setor fecharam milhares de lojas em meio à queda nas vendas e aumento de suas dívidas, que, ao longo dos anos, se tornariam impagáveis. Mappin, G. Aronson e Mesbla encerraram as suas operações em 1999, e a Arapuã seguiu caminho parecido. A empresa, que chegou a faturar R$ 2,2 bilhões, em 1996, e a ser a maior varejista de eletrodomésticos do País, deu seu último suspiro em 2003, diante de um endividamento estimado em R$ 1 bilhão à época.

Quatorze anos depois, um dos controladores, Renato Simeira Jacob, filho do fundador Jorge Jacob e último CEO antes do fechamento, volta a apostar no mercado corporativo. Ele desembolsou R$ 400 mil para adquirir uma fatia de 20% na empresa de bebidas Beba Rio, criada pelo empresário Francisco Montans. Apesar de um faturamento tímido, próximo a R$ 20 milhões, a fabricante, que produz chás e água de coco, pretende rivalizar contra grandes participantes do mercado, como a Wow Nutrition, dona das marcas Sufresh e Feel Good, de sucos e chás, respectivamente. “Vamos crescer 60% neste ano e estamos atrás de investidores estratégicos que auxiliem essa expansão”, diz Montans.

Oficialmente, a Beba Rio não confirma o aporte feito por Jacob. Segundo Montans e o próprio Jacob, o ex-presidente da Arapuã está somente “ajudando a empresa” em sua atual reestruturação financeira e administrativa. “Sou apenas um prestador de serviços”, disse Jacob à DINHEIRO, por mensagem. Fontes ligadas às negociações, no entanto, garantem que o aporte de Jacob já faz parte de uma nova configuração societária, e que a intenção do herdeiro da Arapuã é aumentar ainda mais a sua participação no capital. As empresas responsáveis por intermediar o negócio foram a Target Advisor e a IBN-Brasil. A Beba Rio, segundo Montans, prevê aumentar a sua capilaridade no Brasil. Por enquanto, a companhia está apenas em Estados do Sul e do Sudeste, com destaque para São Paulo e Rio de Janeiro.

A ofensiva de Jacob ocorre em um ano em que a novela com os credores da falecida Arapuã pode ter um novo e decisivo capítulo. Quando pediu a sua concordata, em 1998, a empresa passou a sofrer com as cobranças de seus credores, entre eles multinacionais como Phillips, Sony e a Evadin, que fabricava eletrônicos da marca japonesa Mitsubishi. No total, a Arapuã devia cerca de R$ 700 milhões para distribuidores e investidores. O restante ficava dividido entre funcionários e tributos para os governos federal, estadual e municipal. No plano de recuperação judicial, que foi aprovado em 2009, a empresa se comprometeu a pagar R$ 75,6 mil a cada um dos cerca de 600 ex-funcionários que entraram na Justiça.

Para os credores, no entanto, a família Jacob ofereceu apenas R$ 3,5 milhões, cerca de 0,5% do total da dívida à epoca. Apesar do valor considerado baixo, a maioria dos credores já aceitou o acordo oferecido pela Arapuã, segundo Ricardo Tepedino, advogado da empresa desde 1998. “Eles perceberam que era o melhor caminho a seguir”, afirma Tepedino. “Esse ano tudo deve ser resolvido.” Há, contudo, um credor que não pretende desistir tão cedo do que lhe é devido. O advogado Miguel Pereira Neto representa a Primafer, fabricante de máquinas e ferramentas, que comprou US$ 4 milhões em títulos de dívida da Arapuã um pouco antes da crise estourar.

De acordo com ele, a empresa ainda espera a falência da Arapuã para poder acessar os bens pessoais da família Simeira Jacob, que não fizeram parte das negociações. Em 2009, a empresa chegou a ter a sua falência decretada, mas a decisão foi revogada após a aprovação do plano de recuperação judicial. “O caso pode ser julgado ainda neste ano pelo Supremo Tribunal de Justiça”, diz o advogado, que também representa a Evadin. “E, se eles decidirem pela falência, outros credores também vão atrás do que tem a receber.” Enquanto a Arapuã aguarda as decisões judiciais, a empresa continua operando dez lojas de roupas populares em regiões periféricas de São Paulo e Belo Horizonte.

Chamadas de Sette Bello, a empresa vende produtos como camisetas que custam a partir de R$ 9,99, sempre anunciadas com fervor por locutores com microfones e caixas de som nas ruas. Em 2015, a Arapuã sofreu mais um golpe. Ela precisou alterar a sua denominação social para Kosmos Comércio de Vestuário, mas o CNPJ foi mantido. O nome Arapuã deve ser leiloada para pagar parte da dívida, mas, até agora, nenhuma proposta foi apresentada. Segundo seu último balanço divulgado, nos primeiros nove meses de 2016, a empresa faturou R$ 2,6 milhões, enquanto suas dívidas de curto prazo estavam R$ 7,9 bilhões. Questionado sobre a atual situação da Arapuã, Jacob limitou-se a dizer que ainda está tocando a empresa. Leia mais em istoedinheiro 07/04/2017

25 abril 2017



0 comentários: