No exterior, a tendência também foi de queda para as demais moedas de países exportadores de commodities
O dólar subiu 1,09% ontem e chegou a R$ 3,417, a maior cotação desde 20 de março de 2003. Em julho, a moeda americana subiu quase 10% em relação ao real e, em 2015, perto de 30%.
O mês de julho foi de forte pressão para o real. Em meio às disputas entre o Planalto e o Congresso, às mudanças nas metas fiscais pelo governo e a ameaça de perda do grau de investimento do país, o real despencou.
No exterior, a tendência também foi de queda para as demais moedas de países exportadores de commodities. O real foi uma das três divisas que mais cederam no mês passado. No resultado acumulado de 2015, o real lidera o ranking de perdas.
"Não há como negar que o dólar reina hoje absoluto no mundo, contra todas as moedas e, particularmente, ante as divisas de emergentes e exportadores de commodities. Mas a queda está sendo maior no Brasil porque você tem um aumento da percepção de risco em relação ao país", disse José Faria Júnior, diretor da consultoria Wagner Investimentos.
Levantamento feito pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, com base em 47 divisas negociadas à vista mostra que, em julho, o dólar subiu 10,09% ante o real, o que coloca a moeda na terceira posição de perdas no mês.
A moeda americana subiu 10,54% comparada ao peso colombiano em julho e 10,91% em relação ao rublo russo, as duas piores. No ranking do ano, o real é a pior moeda, sendo que a alta acumulada do dólar está em 28,57%.
O fato de os preços das commodities estarem caindo em todo o mundo, incluindo as matérias primas da pauta de exportação do Brasil, tem pressionado as divisas de vários países desde o início do ano. A proximidade do início do processo de alta de juros nos Estados Unidos é outro fator de alta para o dólar, com investidores já se antecipando a este movimento do Federal Reserve (Fed, o banco central americano).
O problema é que o ambiente interno do país também intensifica a busca por dólares. Em julho, houve o rompimento do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, com o governo, o corte da meta fiscal para 2015, 2016 e 2017 e o rebaixamento, pela S&P, da perspectiva do crédito do país. São fatores que levaram a uma corrida em busca da segurança do dólar.
"Se você olhar um histórico mais longo e comparar o real frente ao dólar, e uma cesta de países contra a moeda americana, em vários momentos verá que a brasileira se descolou. E isso acontece, tipicamente, em situações de aumento do risco doméstico", comentou Mauro Schneider, economista da MCM Consultores Associados.
Disparada. Com as cotações encerrando julho acima dos R$ 3,40, parece claro que os tempos de dólar mais baixo, na faixa dos R$ 3,15, como visto no início do mês, ficaram para trás.
Schneider disse que a consultoria revisará as projeções nos próximos dias porque os R$ 3,15 que estavam prevendo para o fim do ano ficaram "obsoletos". "Há muito tempo não vejo tamanha frequência na revisão de projeções como temos visto."
"Nessa virada de julho, já imaginávamos que o dólar ficaria mais forte. Só que o movimento foi potencializado pelo fiscal horrível do governo", comentou Faria Júnior, da Wagner.
"A chance de perda de grau de investimento é enorme. A Páscoa do ano que vem (no fim de março) pode ser uma data chave, porque a S&P costuma levar em média nove meses para fazer uma nova avaliação sobre o país. E neste momento o primeiro trimestre de 2016 já estará fechado."
Faria Júnior diz que, por isso, fica difícil "recomendar venda de dólar", ainda mais em um ambiente de indefinição política e até possibilidade de impeachment da presidente. Fabrício Castro, do Estadão Leia mais em Exame 01/08/2015
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domingo, agosto 02, 2015
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Ruy Moura
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