22 novembro 2011

Dinheiro na mesa: veja para onde irão os investimentos em TI em 2012

Gartner estima que 144 bilhões de dólares serão gastos com TI e telecom no Brasil no próximo ano, sendo que cerca de 65 bilhões de dólares virão do corporativo. A consultoria forneceu dados verticais exclusivos do mercado nacional

Há uma montanha de dinheiro sobre a mesa. Para ser mais exato: 143,8 bilhões de dólares. Este é o montante que o Gartner estima que o mercado brasileiro gaste com tecnologias da informação e telecomunicações em 2012. De acordo com a consultoria, quase metade disso – 65,3 bilhões de dólares – virá de projetos corporativos. Perspectivas animam.

O Brasil é o país que apresenta a expansão mais acelerada depois de China e Índia. O crescimento por essas terras será superior ao verificado na Europa, Estados Unidos e Japão, muito puxado pela estabilidade macroeconômica nacional, pelo fortalecimento da indústria local frente a um cenário global de crise e por uma inegável onda de consumo interno. O contexto cria um cenário favorável para a profissionalização das ações de tecnologia.

Conversamos com Kenneth Brant, analista do Gartner, que detalhou os investimentos corporativos em TI e telecom por mercados verticais em um intervalo que apresenta um cenário até 2015. Além disso, ele destrinchou os números por categoria tecnológica. Para complementar, ouvimos CIOs de importantes representantes de algumas dessas indústrias para saber para que direção seus olhos estarão voltados a partir de janeiro.

Finanças – bancos pós-fusões


Instituições financeiras funcionam como motores da adoção tecnológica. Este é um fato brasileiro histórico que rendeu até um livro com mais de 400 páginas lançado em 2010 (Tecnologia Bancária no Brasil, da editora FGV RAE). Trata-se de um sistema complexo, construído com características próprias que remontam a complexidades locais, competitividade entre players e busca por inovação. Tanto que as quantias investidas são substantivas.

Pelas projeções do Gartner, essa indústria deve avançar 8,8% sobre os gastos com TI verificados este ano e fechar 2012 alocando um total de 9,9 bilhões de dólares em tecnologia.

O crescimento do volume de operações e da bancarização nos últimos dez anos foi alto. Transformando isso em números, houve um saldo de 63,7 milhões para 141,3 milhões de contas correntes entre 2000 e 2010. No período, as transações pela internet intensificaram-se.

“As instituições financeiras brasileiras foram obrigadas, durante o longo período de alta inflação, a adequar sua infraestrutura às mudanças de moeda, pacotes econômicos e etc”, comenta Luis Antonio Rodrigues, diretor setorial de Tecnologia e Automação Bancária da Febraban (Federação Brasileira de Bancos) e CIO do Itaú Unibanco, que acrescenta: “mais recentemente, os investimentos também foram caracterizados pelas grandes fusões que marcaram o setor.”

Na visão do executivo, o setor financeiro local continuará sua curva de crescimento de investimentos em TI nos anos de 2011 e 2012 na ordem de 10% a 15%.

“O grau de investimento, porém, sofre mudança: desloca-se o polo de infraestrutura para tecnologias inovadoras. Para novas aplicações, novos canais de relacionamento, sempre alinhados com a meta de melhor atender o cliente”, sinaliza, dizendo que investimentos para o ano que vem ainda contemplarão atendimento da terceira versão da Basileia e gestão de riscos.

Novos meios de pagamento, mobilidade (mobile banking & payment), moedas digitais, interoperabilidade e convergência digital, inteligência analítica, novos canais e avanço dos meios eletrônicos de transação continuam na pauta do setor que deve chegar, em 2015, a um patamar de aportes em TI de 12,4 bilhões de dólares no Brasil.


Educação – ensino sem fronteiras


Quando um executivo deixa a presidência do Google Brasil para assumir o posto de líder de uma das maiores universidades privadas do País, algumas leituras menos óbvias da importância da tecnologia para o setor de educação soam inevitáveis. Existem muitas discussões sobre os avanços tecnológicos direcionados ao ambiente educacional brasileiro. O segmento deve aplicar quase 1,6 bilhão de dólares em projetos de TI.

O segmento é aberto à adoção de novas tecnologias e mostra certo engajamento para incorporar recursos na sala de aula de forma consistente e agregando valor para criar um modelo aderente, inovador e atualizado.

Além disso, a vertical vive uma expectativa a partir de intensificação de modalidades de ensino a distância e criação de novos cursos. Muitas faculdades, por exemplo, aguardam ansiosas por uma definição nessa frente para alocar recursos no incremento de redes, servidores, hospedagem (o site é a escola) e sistemas que permitam uma boa experiência aos alunos.

Outro componente é a consolidação, que coloca na agenda dos departamentos de TI um esforço grande de integração de sistema. “Há uma tendência de unificação no segmento educacional.

As fusões e aquisições pedem profissionalização da gestão em busca de diferenciais para atrair alunos num mercado com grande oferta”, avalia Bruno Henrique de Macedo Machado, gerente de TI da Anima Educacional, que opera universidades em Belo Horizonte (MG) e Santos (SP), atendendo 37 mil alunos.

Justamente por isso, o executivo cita que muitos representantes do segmento ainda lutam para achar um ERP aderente às especificidades de sua atuação. “Ainda há um movimento de entendimento dessa questão, pois não há um sistema de referência, já que os modelos acadêmicos têm muita diferença processual”, comenta.

Comunicações – redes e conhecimento dos clientes


O setor de telecom brasileiro passou por uma onda de consolidação nos últimos anos. Operadoras “fixas” uniram forças com “móveis”. A integração entre estes negócios norteou grande parte dos esforços.

Considerando apenas os players de telecomunicações, estima-se que os investimentos em tecnologia movam 3,3 bilhões de dólares no Brasil em 2012, com tecnologias que ajudem a preparar uma cadeia de entrega de serviços para melhor atendimento à base de clientes, o que significa esforços para aprimorar ferramentas de CRM e BI, por exemplo.

Ainda há o trabalho contínuo de ampliação de infraestrutura de transporte de voz e dados. “A expansão da rede de fibra não vai parar”, comenta Allan Sato, diretor de operações da Transit Telecom, que quer saltar dos atuais 800 km para 3 mil km de rede até metade de 2012.

Ampliando o escopo para “comunicações” de uma forma geral, esse número salta para 10,5 bilhões de dólares, no mesmo período.

Governo – o peso do planejamento

Há uma sinalização de retração no crescimento dos investimentos do governo brasileiro em TI e telecom. Os gastos, que expandiam a taxas anuais de dois dígitos (20,3% em 2010 e 10,2% no ano seguinte) devem entrar numa faixa de 7% a partir do próximo ano. Contudo, os orçamentos públicos continuam vultosos, com projeções da ordem de 10,1 bilhões de dólares em 2012.

“Temos buscado, cada dia mais, fazer a integração entre os negócios e a tecnologia da informação”, ilustra Cláudia Maria de Andrade, coordenadora-geral de Tecnologia da Informação da Receita Federal, expondo uma visão estratégica do alinhamento entre as ações de TI e os princípios-base que norteiam as ações da instituição. Tanto que, em 2011, a RF implantou um comitê para fazer com que as decisões sejam colegiadas.

O modelo adotado vincula-se a um contexto de desafios na vertical que, na grande maioria das compras, baseia-se em processos licitatórios e trâmites que lhe exigem planejamentos mais efetivos e um “time” maior do que em outras indústrias.

Adquirir máquinas, softwares ou serviços exige um série de documentos e pesquisas. Isso ganha amplitude quando trazemos à tona as urgências de conceitos emergentes. Há de se ter cuidado para não cair em modismos. “Temos de ter transparência, rigor e análise, pois estamos lidando com dinheiro público, temos que ter austeridade em cada processo”, comenta Claudia.

Quando conversou com a CRN Brasil, no final de setembro, a CIO começava a preparar materiais de licitação de 2012.

Do que enxerga como tendência tecnológica para o setor – e talvez isso não se restrinja à vertical –, surgem soluções

  • de mobilidade aderentes às peculiaridades do negócio,
  • tecnologias de virtualização de servidores e redução de consumo de papel por meio de processos mais virtuais (dentro das diretrizes de TI verde),
  • comunicações unificadas,
  • expansão de um projeto de arquitetura orientada a serviço (SOA),
  • modernização do sistema aduaneiro para o ambiente web e
  • Business Intelligence.
  • Além disso, a executiva cita compra de aceleradores de WAN e solução de backup.

O caso da Receita dá apenas uma pequena dimensão deste gigante que é o governo. Há muitos projetos nas três esferas (Federal, Estadual e Municipal) que vêm para atender à demanda de um mercado que cresce e de uma sociedade que se moderniza pedindo mais recursos.

Manufatura – ritmo acelerado

A gênese brasileira remonta a extração de recursos naturais. O agronegócio e as commodities minerais provam isso até os dias de hoje. Contudo, a modernidade deu novos contornos e colocou fábricas na equação que compõe as receitas do País. Os números comprovam. Os segmentos devem aplicar 12,1 bilhões de dólares em TI no próximo ano, chegando a 15 bilhões de dólares ao final de 2015.

Muito dos recursos aplicados em tecnologia no passado recente estiveram vinculados a redução de custo e otimização dos processos de produção. A postura das organizações atrelou-se aos abalos causados pelos respingos da crise econômica global de 2008.

Agora, há um processo de intensificar a modernização da estrutura tecnológica.

“Temos visto um investimento grande, mesmo entre aquelas empresas que passam por um período econômico ruim, em busca de diferenciais”, opina Sandro Tavares, gerente corporativo de TI da Tigre. O executivo observa muitos esforços puxados por um processo de integração e automatização da cadeia produtiva suportada por informações.

O cliente na ponta puxa a adoção tecnológica por parte da indústria e o processo de adoção vira algo sistêmico. Segundo ele, a exigência aumenta ainda mais para a indústria quando a tecnologia passa para o patamar de diferencial competitivo.

O departamento de tecnologia da Tigre pautou seus trabalhos em 2011 na conclusão do roll out de um ERP para sete unidades do grupo. Isso desencadeou trabalho forte em BI, por exemplo.

No que toca infraestrutura, a empresa passou pela troca e estruturação da parte de servidores e switches. Além disso, houve iniciativas em direção a ferramentas de colaboração e revisão dos contratos de Telecom. O software de gestão deve continuar no radar de Tavares no próximo ano, com ajuste de versão. De fato, as iniciativas visam preparar a empresa para suportar uma expansão para que dobre de tamanho e fature 5 bilhões de reais em 2014.

A Alcoa também se volta para a atualização de seu sistema de gestão, com grande investimento para revisão de processos. Segundo a CIO da companhia, Tania Nossa, o orçamento nos últimos anos ficou estável, com alguns picos. “O desafio é fazer cada vez mais com menos”, sintetiza, dizendo que há uma busca por ações estratégicas que atuem sobre a base já montada, tirando proveito do investimento realizado, e tragam valor ao negócio.

Saúde – trabalho integrado

A indústria de saúde passa por uma revolução impulsionada pelas tecnologias da informação.

O setor deve investir algo como 2,4 bilhões de dólares, crescendo quase 9% sobre o montante de 2011. Muitos fornecedores já se atentaram para isso e movimentam-se nessa direção, montando divisões de negócio especializadas e criando soluções para healthcare.

Um exemplo desse interesse reside no fato de que a própria HP lançou, há alguns anos, solução de hospital digital que vinha com a missão de melhorar a qualidade e produtividade das organizações do setor. Há iniciativas de especialização de outros provedores, como Oracle, SAP e IBM, que partem para soluções mais específicas. Vale ressaltar que muitas empresas de saúde ainda rodam sistemas caseiros.

Pelo lado do usuário de tecnologia, acho que diz muito quando vemos que um dos primeiros cases de adoção corporativa de iPads no Brasil foi da Amil. O projeto foi apenas uma ponta nas estratégias da organização de levar informações relevantes para as mãos de seus profissionais. Mais amplo, e ainda conectado ao tema, há o que o CIO da organização, Telmo Pereira, chama de levar a empresa para um patamar “webificado”. “Web e dispositivos móveis têm impactado profundamente o segmento de saúde”, avalia o executivo, contabilizado cerca de 105 projetos previstos para 2012.

O cenário aponta para um horizonte onde a vertical de saúde deva gastar 3 bilhões de dólares em TI e telecom no ano de 2015. O contexto mostra uma expansão anual dos gastos entre 8% e 6%.

Varejo – realidade concorrencial

Para os fornecedores de TI, o mercado sempre foi difícil porque o varejo trabalha com margens baixas, que refletem em orçamentos curtos. De uns tempos para cá, os ventos mudaram e a vertical virou uma espécie de “menina dos olhos” dos fornecedores de tecnologia.

Não poderia ser diferente em um país onde o consumo está a todo o vapor e há uma mobilidade social, com ascensão das classes C e D. Compreender o comportamento dessa massa desafia grandes e pequenas redes varejistas que procuram na tecnologia uma forma de vencer esse obstáculo.

Em um intervalo de três anos, os gastos da vertical com TI e telecom aumentaram em 1 bilhão de dólares e há indícios de que em 2012, os recursos alocados nesta frente cheguem à casa dos 4,7 bilhões de dólares.

Anderson Cunha, CIO da Leroy Merlin, no início do ano, foi aos Estados Unidos observar as novidades apresentadas na feira de varejo NRF. Não por acaso, a delegação brasileira foi uma das maiores do evento. “Mostra a aceleração de consumo e crescimento da classe média brasileira”, diz o executivo, citando uma alavancagem do segmento que cresce “dois dígitos” no País faz alguns anos.

Dá pra se dizer que ainda há uma longa estrada tecnológica para pavimentar na vertical. Os investimentos históricos tratavam de fazer a operação funcionar. Isso continua no foco, mas com uma camada a mais.

Cunha aposta em um período de compra e implementação de sistemas de gestão (ERPs) pelo varejo. Olhando para a grande massa de lojas espalhadas pelo País, não se veem esses softwares rodando. “Essa cara vai mudar”, define o executivo, sinalizando que a ferramenta tende a se espalhar para lojas de menor porte e pequenas redes nos cantos mais remotos do Brasil. “A realidade é concorrencial. Ou faz ou morre”, estabelece.

Organizada a retaguarda, será possível inovar e crescer soluções.

Outras tendências observadas pelo CIO é o atendimento multicanal, sinalização digital cada vez mais interativa, ferramentas de gestão de clientes (CRM) e mobilidade. O executivo cita, ainda, uma discussão que surgiu durante a NRF que versa sobre dar ou não acesso à internet para os clientes, o que contemplaria redes de telecomunicações dentro das lojas, a exemplo do que ocorre em cafés.

Fonte:crnitweb22/11/2011

22 novembro 2011



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