30 novembro 2011

Consolidação de Brasil afeta negociações

Na nova composição de controle da Usiminas não haverá um sócio preponderante que consolidará o resultado total. Os ganhos e as perdas da empresa serão divididos entre os dois principais acionistas, os japoneses da Nippon e os ítalo-argentinos da Ternium, conforme sua participação no capital total.

Dessa forma, a nova integrante do bloco poderá ampliar sua receita líquida em aproximadamente US$ 900 milhões ao ano, o equivalente a um aumento de 10% sobre a base atual. Já a Nippon deve manter sua política de consolidar a Usiminas por equivalência patrimonial, método em que somente o resultado líquido proporcional é adicionado ao balanço, numa única conta.

A definição sobre a forma de consolidação dos resultados de uma companhia alvo de aquisição, normalmente, afeta sensivelmente as negociações.

A maior exposição global do Brasil e as perspectivas positivas para o país, em contraponto ao cenário negativo para as nações desenvolvidas, têm ampliado o apetite de compradores estrangeiros por consolidar as participações detidas nas empresas brasileiras.

Esse objetivo teve peso relevante em grandes negociações recentes. Consolidar integralmente o desempenho de Brasil era determinante, por exemplo, para o interesse do Carrefour numa potencial fusão com o Pão de Açúcar. A questão ajuda a entender o complicado modelo da polêmica proposta do empresário Abilio Diniz para essa transação.

Antes disso, a Portugal Telecom enfrentou de perto essa preocupação com a sua saída da parceria com a Telefónica, no controle da Vivo, e sua entrada no bloco controlador da Oi. O acordo de acionistas foi desenhado de forma que o grupo português pudesse consolidar sua participação na operadora, equivalente a aproximadamente 24% do capital total, linha a linha.

Mas a definição sobre como registrar a participação em uma companhia investida não depende apenas do gosto do freguês. Dentro do padrão contábil internacional IFRS, usado no Brasil desde 2010, a consolidação de 100% da receita e dos ativos só pode ser feita por um sócio que detenha mais de 50% das ações e caso nenhum outro minoritário tenha direito de veto nas decisões.

Já o registro por equivalência patrimonial - em apenas uma linha no balanço e em uma linha na demonstração de resultado - ocorre quando a investida é considerada uma coligada. Isso se configura quando a investidora exerce "influência significativa" na administração da investida, mas não a controla. Grosso modo, se presume essa influência quando a fatia no capital votante fica entre 20% e 50%, embora ela possa existir com percentuais menores.

Há um terceiro modelo, permitido pelo IFRS para joint ventures (e obrigatório no Brasil, por enquanto), que é a consolidação proporcional. Nesse sistema, usado pela Ternium em suas operações do tipo, a investidora registra linha a linha sua fatia no capital total da investida. A Ternium foi questionada se manterá a mesma política para seu investimento de cerca de 13% no capital da Usiminas, mas não respondeu até o fechamento desta edição.

Seja qual for a decisão da empresa ítalo-argentina, ela valerá somente para o balanço de 2012. Uma nova regra do IFRS, que passará a valer em 2013, determina que todas as joint ventures sejam registradas apenas por equivalência patrimonial.
Na prática, espera-se que a partir de 2013 entrem na moda os balanços pro forma ou, as análises proporcionais, como devem ser rebatizadas essas demonstrações de resultado.

Mesmo sem ter a maioria do capital votante, as companhias que compartilham controle de outras vão querer continuar mostrando isso aos seus investidores - em especial se os números vierem do Brasil e trouxerem crescimento.

A exposição a Brasil se valorizou não apenas para os investidores de ações, mas também para credores, ou seja, tem auxiliado na redução do custo de capital de algumas companhias.

Mas até mesmo para fazer os balanços pro forma haverá critérios, ainda que dependa apenas do bom senso de mercado.

Por exemplo, nessa transação mais recente, da Usiminas, se a Nippon aceitasse o modelo que a Gerdau gostaria de negociar - que necessitava da integração dos ativos - ela seria fortemente diluída.

Num exercício simples de uma combinação pela média dos preços em bolsa, a Nippon, que detém aproximadamente 13% do capital total da Usiminas seria diluída para 6% em caso de união dos dois grupos. O objetivo da Gerdau era juntar Açominas e Usiminas.
Não se sabe se a questão da consolidação foi determinante na decisão da Nippon sobre o futuro da Usiminas. Ao recusar integrar ativos, o grupo japonês afetou a disposição da Gerdau em pagar preços mais elevados. Contudo, segundo fontes, não houve um leilão pela siderúrgica mineira. A companhia da família Johannpeter teria abandonado as negociações antes da definição pela Ternium.

Mesmo assim, em teleconferência com investidores, o presidente da Ternium, Daniel Novegil, fez questão de dizer que o preço de R$ 36 por ação pago para entrar na Usiminas foi resultado de um processo competitivo, e não só de cálculos sobre o fluxo de caixa futuro da companhia.

O Valor apurou ainda que a "afinidade" entre Nippon e Techint, controladora da Ternium, foi decisiva para o sucesso da operação.

Mas é fato, também, que a Nippon não sofrerá nenhuma alteração em seu balanço, após a transação com o sócio ítalo-argentino, com o qual também compartilha uma siderúrgica no México.

E, para o futuro pro forma dos balanços, a dúvida é como reagirão as agências de rating. Isso porque elas possuem critérios mais rígidos e objetivos para suas análises de risco de crédito. Por Graziella Valenti, Fernando Torres, Daniele Madureira e Denise Carvalho
Fonte:Valoreconômico30/11/2011

30 novembro 2011



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