26 dezembro 2020

Um próspero 2030

Com a perspectiva de que a renda per capita do brasileiro caia 6,3% neste ano e só retorne ao patamar de 2013 em 2030, estudo da ONU alerta: uma população mais pobre é uma população mais infeliz.

Um dito popular muito difundido no Brasil, mas sem autor conhecido, prega que felicidade não se compra. Mas não é bem assim.Um estudo contínuo feito pela ONU (Organização das Nações Unidas) com a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) é capaz de relacionar a taxa de felicidade de uma nação com o nível do PIB per capita de seus habitantes. Nessa análise, que leva em conta também questões como capacidade distópica de entender a realidade e suporte social dado pelo governo, o Brasil figurar entre os países mais apáticos (nem tão felizes, nem tão tristes). Pelo menos até 2019.

Segundo o relatório macroeconômico da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) enquanto o PIB do País deve cair 4,7%, a fatia de cada um dos brasileiros nas riquezas totais produzidas encolherá 6,3%. E com a diminuição gradual da renda média dos brasileiros acontecendo desde 2014, vem caindo também o nível de serotonina. Agora – além de uma pandemia que afastou entes queridos, elevou a ansiedade das pessoas e colocou em questão a fragilidade da vida – a perspectiva de diminuição do salário médio dos brasileiros em 2020 garantirá que o sorriso não reapareça até 2030. E se o ano de pandemia é responsável pela infelicidade geral, depois dela a coisa não irá melhorar de bate pronto. 

De acordo com a FGV, para atingirmos a renda per capita de 2013 (melhor resultado das últimas duas décadas) o Brasil levará, no ritmo atual, ao menos dez anos. Se uma década é muito tempo, retornar ao patamar do ano passado também não será um caminho tão curto. Segundo o boletim macroeconômico da Fundação, repetir os números de 2019, com otimismo, fica para 2023. “Mesmo em um cenário-base otimista, em que o PIB do País cresça 3,6% em 2021 e 3% em 2022, a volta para [a renda per capita de] 2019 está ainda distante”, disse Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Ibre/FGV.

Mas nem todos os brasileiros vão ficar tristes até lá. Como o PIB per capita médio se caracteriza pela divisão das riquezas de um país pelo número de habitantes, o tamanho do Brasil cria algumas distorções. Exemplo disso é que Brasília, que tem o maior PIB per capita do País, soma renda média de R$ 2,6 mil, enquanto o Maranhão, lanterna do ranking, fechou 2019 com renda média de R$ 635, segundo dados do IBGE.

ANSIOLÍTICOS 

Se confirmada queda de 6,3% na renda média do brasileiro este ano, vivenciaremos o maior tombo no índice desde 1981, o que exigirá um esforço extra por parte dos governadores e prefeitos. Em São Paulo, que ocupa a segunda colocação no ranking, com uma renda média mensal de R$ 1,9 mil, o governador João Doria (PSDB) afirma que haverá esforço contínuo para geração de emprego e recomposição da renda perdida neste ano. De acordo com ele, um dos objetivos é agregar valor e competitividade para áreas mais distantes do centro econômico do Estado. Nesse sentido, na quarta-feira (9) ele anunciou investimento de R$ 57 milhões no Vale do Ribeira, região que abriga famílias de baixa renda, quilombolas e têm problemas de infraestrutura e saneamento básico. Com a medida, segundo o governador, o Estado age para desenvolver a região. “Para isso é preciso ação, planejamento, investimentos públicos em todos os setores e também atração de investimentos privados”, disse.

No lanterna Maranhão, estado governado por Flávio Dino (PCdoB), a situação é tão periclitante que a ação do governo estadual se tornou ainda mais urgente. Por lá, o governador garantiu que a principal ação é o estímulo direto de geração de emprego. Para colher os frutos já em 2021, Flávio Dino lançou em agosto o Plano Emergencial de Empregos (PEE) Celso Furtado, que consiste em execução de obras de infraestrutura para estimular empregos diretos. Para as empresas, o governo passou a oferecer benefícios fiscais, tudo para tentar evitar demissões e ao menos segurar a renda. É uma espécie de uso de desfibrilador para manter a economia.

“O desafio é cuidar da saúde dos maranhenses, e garantir condições dignas de vida”, disse ele. Segundo Dino, para o próximo ano, a tendência é que as ações de estímulo se multipliquem. “Criamos 62 mil vagas com o PEE, e vamos manter o ritmo em 2021, tendo o estado como impulsionador”, afirmou. Outros estados ouvidos pela reportagem, como Minas Gerais, Pernambuco, Rio de Janeiro e Santa Catarina garantem que a geração de emprego será o foco para recuperar a renda (e a felicidade). O poetinha Vinícius de Moraes até pode ter razão ao afirmar que é melhor ser alegre que ser triste. E a ONU acrescenta que é muito mais fácil se as contas estiverem pagas... Leia mais em istoedinheiro 23/12/2020

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26 dezembro 2020



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