A tentativa de compra de uma empresa na Europa completou dois anos sem uma perspectiva de solução de curto prazo
Os tribunais suíços podem demorar ainda mais tempo para solucionar a mais complexa disputa
A vida de um predador é árdua. Gasta muita energia na caça à presa e mesmo o sucesso pode ter um alto custo. A fabricante francesa de vidros e materiais de construção Saint-Gobain está aprendendo essa lição. A companhia multinacional cresceu em grande parte com a aquisição de pequenas empresas, mas a tentativa de comprar a empresa de médio porte Sika, sua concorrente suíça, se prolonga há dois anos. Os tribunais suíços podem demorar ainda mais tempo para solucionar a mais complexa batalha corporativa na Europa.
Pierre-André de Chalendar, o CEO de Saint-Gobain desde 2007, ficou impressionado com o retorno financeiro da Sika com a venda de adesivos industriais, argamassa e produtos químicos de construção. Nos últimos dez anos, a rentabilidade anual do capital investido foi de 12,6%, mais do dobro do retorno de 5,1% da Saint-Gobain. Assim, em 2014 quando a quarta geração da família Burkard, que fundou a Sika em 1910, propôs a venda de 52,4% dos direitos de voto da empresa, Chalendar se interessou.
Após a morte da matriarca em 2013, os Burkard concordaram em vender a holding Schenker-Winkler (SWH) para a empresa francesa por SFr2,75 bilhões (US$2,85 bilhões). Embora a SWH tenha a maioria dos direitos de voto, só detém 16% do capital do grupo suíço. Os principais executivos e investidores da Sika protestaram contra o acordo e, em outubro, um tribunal suíço decidiu que as regras da incorporação precisavam ser aprovadas pelo Conselho de Administração, antes que a participação da família fosse adquirida pela Saint-Gobain.
A imprensa local aplaudiu a decisão e cópias do contrato de compra da SWH foram divulgadas nos jornais. O contrato não fazia uma menção explícita às promessas públicas de Chalendar de proteger os empregos na Sika e de manter suas ações listadas na Bolsa de Valores da Suíça. Esse fato provocou suspeitas que a empresa francesa poderia ter um comportamento intransigente se conseguisse obter o controle do grupo suíço.
Em termos financeiros, é fácil perceber por que os suíços estão tão descontentes com a proposta de compra da Saint-Gobain. A Sika é um exemplo da excelência industrial europeia. As fábricas adaptam rapidamente o design dos produtos e o ritmo da produção às flutuações das demandas locais. Tem uma visão do futuro e concentra-se, em especial, na pesquisa de novos materiais, como cola, que irá substituir cada vez mais a soldagem na construção de casas e prédios. Os preços de suas ações quase dobraram em dez anos, enquanto os das ações da Saint-Gobain reduziram-se à metade.
A multinacional francesa, com mais de 350 anos de existência, ainda tem um valor de mercado bem maior, avaliado em €23,6 bilhões (US$25,5 bilhões), em comparação com €9,8 bilhões da Sika. Mas seus investidores não parecem entusiasmados com sua estratégia. A empresa Wendel Investissement diminuiu sua participação na Saint-Gobain em maio, de 12% para pouco mais de 6%, mesmo com a perda de €220 milhões.
Além de se preocuparem com o fato de as duas empresas competirem entre si em alguns mercados, sobretudo na venda de argamassa, os investidores da Sika queixam-se que Pierre-André de Chalendar deveria ter ambições maiores. Saint-Gobain ainda detém dois terços das vendas em uma Europa com o crescimento lento e a compra da Sika não resolveria esse problema. Seu registro de aquisições também é questionável. Críticos dizem que depreciou o valor das ações da British Plaster Board, uma das 100 empresas que compõem o índice FTSE 100 da Bolsa de Valores de Londres, após a compra por US$6,7 bilhões em 2005 Leia mais em opiniaoenoticia 17/12/2016
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Ruy Moura
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