28 junho 2016

Bradesco prepara seu banco digital independente

Embora os bancos brasileiros divulguem que querem as chamadas fintechs como parceiras, aproximando-se dessas startups financeiras, a maioria deles já estrutura sua própria versão de banco digital, a exemplo do pioneiro Banco Original. O mais avançado é o Bradesco, que deve lançar nos próximos meses sua versão de banco digital totalmente independente da estrutura tradicional. Segundo Maurício Minas, vice-presidente executivo do Bradesco, o banco montou uma estratégia digital em três pilares.

A primeira é a melhoria dos serviços do banco tradicional que já tem uma plataforma digital e está num esforço contínuo para ter atratividade nos canais eletrônicos e implementar o conceito multicanal. A ideia é permitir que um atendimento que comece num canal possa prosseguir em outro no ponto em que parou, um conceito que deve estar totalmente implementado em dois anos.

O segundo pilar é a evolução do conceito de segmentação (renda) e subsegmentação (comportamento) para o de personalização. Por técnicas de analytics e big data, o banco passará a ter conhecimento do cliente e poderá realizar ofertas no tempo em que as transações acontecem. "Um dos sucessos das fintechs é o conhecimento do usuário. É importante que o cliente perceba que o banco o conhece", diz Minas.

Já a proposta do banco digital será totalmente inovadora, não exatamente nos mesmos moldes do Banco Original, que Minas considera muito parecido com os bancos tradicionais. A ideia do banco digital do Bradesco visa torná-lo atrativo o suficiente para ser comparado às melhores experiências que o cliente já tem nas redes sociais.

"A plataforma tradicional dificilmente terá o mesmo sex appeal. Vamos desenvolver algo equivalente ao Facebook, ao Waze ou ao WhatsApp e, para isso, temos de repensar o banco do ponto de vista do cliente por meio de uma outra plataforma", descreve Minas.

O Banco do Brasil não chegará a fazer um spin off do digital, mas caminha para estruturar serviços digitais inclusive para clientes. Roberto Paiva Zorron, gerente executivo do BB, diz que a ideia é transformar a estrutura tradicional em um banco digital centrado no cliente e criar negócios digitais em áreas como agronegócios, independente de soluções financeiras. Marco Mastroeni assumiu a diretoria de negócios digitais do BB, com a missão de conduzir o projeto.

"O banco tem limitações de contratação, mas tem condições de criar inovações tão boas ou até melhores do que as fintechs, a exemplo da Wallet, lançada de forma pioneira e que já conta com 20 mil usuários beta", observa Mastroeni.

O movimento dos bancos é resultado do tsunami promovido pelas fintechs. Nas contas de Minas, do Bradesco, já existem mais de mil startups financeiras no Brasil, levando-se em conta que somente o banco recebe mais de 500 inscrições em seu programa InovaBra. O programa já selecionou oito empresas na primeira edição, das quais quatro já fazem negócios com o banco, e 12 na segunda, atualmente em processo de aceleração.

O Itaú já abriga 55 startups no Cubo, programa de coworking e inovação do banco, mas Erica Jannini, superintendente de TI e uma das idealizadoras do projeto, observa que apenas cinco são fintechs, porque o Itaú quer abraçar todo tipo de inovação. Ela apresentou dados informando que existem no mundo 12 mil fintechs, que receberam US$ 19,1 bilhões de investimentos em 2015, 57% a mais que em 2014. "No Brasil, a projeção de aportes é de US$ 125 milhões", diz Erica.

As fintechs mais atuantes são mapeadas por dois portais dedicados ao tema: o Fininnovation, ligado à Accenture, e o Radar FintechLab, iniciativa da Clay Innovation, agência de inovação. Ambos acompanham cerca de 150 startups. Algumas das principais participaram do Fintech Day, iniciativa do Ciab que reservou diversos painéis dedicados ao tema e um dia inteiro para apresentação de nove startups pré-selecionadas. Dessas, as três primeiras colocadas teriam reuniões de negócios com executivos de instituições financeiras.

As empresas que se apresentaram foram Adianta (antecipação de recebíveis), Bom para Crédito (crédito), Easy Crédito (crédito para não bancarizados), Foxbit (blockchain/bitcoin), KiiK (plataforma de adquirência), Mutual (empréstimo pessoa a pessoa), Paykey (transferências via Messenger), Qranio (treinamento com gamificação) e Quero Quitar! (plataforma de negociação on-line).

Muito do avanço das fintechs será facilitado quando os bancos decidirem abrir seus sistemas por meio de APIs (Application Programing Interfaces - softwares de integração) para os empreendedores criarem seus aplicativos. A Visa abriu 11 APIs para incentivar o conceito de open innovation em áreas como geolocalização e e-commerce.

"Vamos lançar um centro de inovação para reunir clientes e a comunidade fintech", informou Percival Jatobá, vice-presidente de produtos da Visa.

Guga Stocco, fundador do Banco Original, anunciou no Ciab que lança, em julho, um programa de APIs para desenvolvedores parceiros, sem dar muitos detalhes. O Banco do Brasil abriu suas APIs há dois meses para quem quiser usar. Já o Bradesco lança, em breve, um programa de APIs, mas ainda de forma controlada. Fernando Freitas, gerente de inovação do banco, informa que a iniciativa se dará por fases, inicialmente para o público interno e em seguida para parceiros. "Somente quando tivermos maturidade nessas duas fases vamos abrir para o mercado", conclui Feitas.  - Valor Econômico Leia mais em portal.newsnet 28/06/2016


28 junho 2016



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