13 janeiro 2016

Estrangeiros superam brasileiros em aquisições

Em meio à recessão econômica e incerteza política, o ano de 2015 foi marcado por uma queda nas transações de fusão e aquisição no Brasil. Por outro lado, a desvalorização cambial contribuiu para número recorde de compras de empresas brasileiras por estrangeiros, que superaram pela primeira vez desde 2003 as compras realizadas por investidores nacionais.

Foram realizadas 773 fusões e aquisições no Brasil em 2015, numa queda de 5,5% em relação a 2014, segundo pesquisa da consultoria KPMG, obtida em primeira mão pelo Valor. As operações de estrangeiros comprando de brasileiros empresas localizadas no país chegaram a 296, igualando o recorde de 2012.

Se somadas às 102 transações realizadas entre estrangeiros, envolvendo empresas no Brasil, pela primeira vez na série histórica da KPMG mais estrangeiros atuaram como compradores no país do que brasileiros. As empresas nacionais foram limitadas na possibilidade de crescimento inorgânico pelo avanço do endividamento, com a alta dos juros e queda de receitas.

"O atual cenário econômico e a desvalorização do real podem ter acelerado a entrada e expansão das empresas internacionais no Brasil, devido à redução do valor das empresas locais, apesar da piora das expectativas de crescimento e do  aumento do risco país", acredita o sócio da KPMG, Luis Motta.

A compra de uma carteira de ativos da Renova Energia pela TerraForm Global, veículo de investimento da americana SunEdison, foi a maior operação anunciada no ano, conforme levantamento da PricewaterhouseCoopers (PwC). O negócio de US$ 3,89 bilhões, no entanto, foi posteriormente cancelado pela SunEdison, que enfrentava rejeição dos investidores ao negócio, com queda nas ações.

A segunda maior transação de 2015 também ocorreu no setor elétrico: a compra das hidrelétricas de Jupiá e Ilha Solteira, antes concessões da Cesp devolvidas à União, pela China Three Gorges, por US$ 3,7 bilhões. O varejo de alimentos teve o terceiro destaque do ano: a incorporação do Grupo Pão de Açúcar pela colombiana Éxito, como parte de reorganização do francês Casino na América Latina.

Dentre as aquisições realizadas por investidores brasileiros, a compra de empresas no exterior foi o grande destaque, com 66 operações, contra 44 em 2014. "Parte das empresas brasileiras buscou expandir seus negócios em países em que percebem uma perspectiva econômica melhor e risco menor", afirma Motta.

Nesse tipo de transação, o setor de alimentos foi relevante, com grandes aquisições realizadas pela JBS. A compra da Moy Park, da Marfrig, e da divisão de suínos da Cargill pelo frigorífico de Joesley Batista foram dois dos grandes movimentos de internacionalização anunciados no ano passado.

Após um 2015 marcado pelo avanço estrangeiro no Brasil, 2016 já começa com o anúncio de diversas operações.

Ontem, a francesa Edenred, de serviços pré­pagos, anunciou uma sociedade com a brasileira Embratec para a criação de uma nova empresa de cartões de abastecimento de combustível. Por uma fatia de 65% na nova sociedade, a Edenred vai pagar R$ 790 milhões. A irlandesa Smurfit Kappa e as francesas Saint­Gobain, Bureau Veritas e Elis também já anunciaram aquisições no Brasil nos primeiros dias deste ano.

Apesar do aparente aquecimento do mercado, KPMG e PwC divergem quanto à tendência para o restante de 2016.

Otimista, a PwC espera uma aceleração na entrada de estrangeiros e avalia que a crise atual tem prazo para acabar.

"Em 2016 há uma redução da incerteza política e econômica e o dólar deve se manter no patamar de R$ 4, o que é um gatilho", afirma o sócio da PwC, Rogério Gollo. Além disso, avalia, empresas que querem entrar ou aumentar suas operações no Brasil devem buscar se antecipar a uma eventual mudança pró-­mercado do governo em 2018.

Já para Motta, da KPMG, o recente aumento do risco Brasil, com a perda do grau de investimento, deve inibir o interesse estrangeiro neste ano. "A expectativa de rentabilidade das empresas caiu, o que reduz o preço dos ativos, mas com a economia em situação pior, a tendência para o investimento é diminuir", acredita o especialista. Valor Econômico - Leia mais em abinee 13/01/2016


13 janeiro 2016



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