12 janeiro 2016

As estratégias de JBS e BRF no tabuleiro global de alimentos

As duas companhias almejam se consolidar nesses segmentos em regiões pouco exploradas por empresas brasileiras, mas com prioridades distintas

Diferentemente do que ocorre no Brasil, onde travam renhida disputa pelo mercado de alimentos processados, JBS e BRF não deverão se esbarrar - ao menos nos próximos três anos - no tabuleiro global de alimentos à base de carnes de frango e suína.

As duas companhias almejam se consolidar nesses segmentos em regiões pouco exploradas por empresas brasileiras, mas com prioridades distintas. Enquanto a JBS mira sobretudo países desenvolvidos, a BRF fixou o radar nos mercados emergentes, do Sudeste Asiático à África Subsaariana.

Apesar do objetivo semelhante, a diferença de estratégias das duas empresas reflete a combinação entre o porte de JBS e BRF e o atual momento da economia mundial, marcado pela apreciação do dólar, observa um executivo do setor.

Enquanto a JBS aproveitou o período pós-crise de 2008, com o real valorizado e o apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), para abocanhar ativos mais baratos nos Estados Unidos, tais como a Swift e a Pilgrim's Pride, a BRF teve diante de si o desafio de integrar Sadia e Perdigão, que tinham culturas bastante distintas, e acabou relegando as operações internacionais a um segundo plano.

Com essa estratégia, a JBS ampliou em dezenas de bilhões de reais a sua receita em relação à da BRF. Pouco menos de três anos após ter feito o IPO em 2007, o então frigorífico Friboi se tornou a maior companhia de proteína animal no mundo. Hoje, a empresa tem um faturamento anualizado de cerca de R$ 150 bilhões e mais de cem unidades no Brasil - entre frigoríficos e fábricas de alimentos processados -, mais de 40 nos EUA, além de plantas na União Europeia, Austrália e Nova Zelândia.

Por outro lado, a internacionalização da base produtiva da BRF só voltou ao topo das prioridades em 2013, com a chegada do empresário Abilio Diniz à presidência do conselho de administração. Agora, o objetivo declarado da companhia, que fatura cerca de R$ 30 bilhões ao ano, é figurar entre as maiores companhias globais de proteínas animais.

Em evento no fim do ano passado o CEO global da BRF, Pedro Faria, avaliou que a indústria de proteína animal passará por uma etapa do movimento de consolidação global que deverá concentrar o mercado mundial em torno de quatro grandes players. Desta vez, assegurou, a BRF estará entre eles.


Ao Valor, o vice-presidente de finanças e relações com investidores da BRF, Augusto Ribeiro Júnior, enfatizou o foco nos emergentes. "Não é que não investimos nos mercados desenvolvidos. Mas a estratégia nos próximos anos está concentrada nos emergentes", destacou.

Ribeiro Júnior também admitiu que uma aquisição nos EUA não está nos planos porque movimentaria soma muito grande de recursos, uma vez que a intenção da BRF é ser tão relevante nos outros países em que atuará como já é no Brasil, onde chega a ter 50% de participação em algumas categorias de alimentos processados e é líder na produção de frango e suínos.


Depois de 2018, porém, os Estados Unidos poderão se tornar uma opção. "No futuro, pode ter algo planejado [para lá], mas não agora". Até lá, a BRF espera já ter consolidado sua posição nos mercados emergentes, elevando a participação de produção fora do Brasil do atuais 7% para mais de 20%. E os passos para isso estão sendo dados.

No fim do ano passado, a BRF fez um anúncio simultâneo da aquisição de três companhias, por cerca de US$ 480 milhões. Uma delas foi a tailandesa Golden Foods Siam, empresa de carne de frango que tem quatro unidades. Com essa operação, que ainda precisa passar pelos órgãos reguladores do país, a BRF se tornou a primeira empresa brasileira a produzir aves na Tailândia, quarto maior exportador mundial de carne de frango - atrás de Brasil, EUA e de União Europeia. Os tailandeses, inclusive, vêm ganhando participação dos exportadores do Brasil em clientes como o Japão.


De acordo com Ribeiro Júnior, a compra da empresa tailandesa levou em consideração o perfil de risco sanitário do país e a oferta de grãos, questões fundamentais para a produção de carne de frango.

A questão sanitária é sensível porque a Tailândia já sofreu muito com a Influenza Aviária e teve que reinventar sua indústria. "Por isso, compramos [uma empresa que vende] frango cozido, e não in natura. Os embargos não pegam os cozidos", explicou ele.


A empresa divulgou também no fim do ano a aquisição da Campo Austral, de carne suína, na Argentina, outro país que tem sido foco da BRF. Em outubro, a empresa já havia comprado marcas de alimentos processados no país, complementando os negócios de carne de frango que tinha na Argentina e se tornando líder no mercado de alimentos processados. A BRF também quer fazer do país vizinho uma plataforma de exportações de carne de frango.

No pacote de três aquisições feito pela BRF, houve ainda uma transação no Reino Unido, um mercado desenvolvido. Segundo Ribeiro Júnior, essa foi uma compra "qualitativa" na área de distribuição de alimentos, com o intuito de aumentar margens eliminando um intermediário. Há outra razão para o negócio: boa parte das exportações da Tailândia vai para o Reino Unido.


Na JBS, por outro lado, o Reino Unido se tornou uma plataforma de produção de carne de frango. Mais do que isso. O país virou a base das operações da empresa na Europa no ano passado, com a compra Moy Park - que pertencia à Marfrig. Com essa base, a JBS vislumbra ampliar o raio de atuação no continente, com mais unidades produtivas em países como França, Espanha e Itália.

Além da Europa, JBS também já demonstrou mais de uma vez que vê oportunidades de crescimento nos EUA, onde no ano passado gastou cerca de US$ 1,5 bilhão para adquirir os ativos de suínos da Cargill.


Se estão divididas na prioridade por países desenvolvidos ou emergentes, JBS e BRF convergem na avaliação sobre a China, um dos mercados mais promissores para o consumo de carnes e onde a brasileira Marfrig já tem operações. Em diversas ocasiões, o CEO da JBS, Wesley Batista, disse que a China entrará no radar só depois que a empresa avançar na Europa e na América do Norte. A BRF considera que o mercado chinês é muito complexo e "demanda estudo cauteloso de entrada", argumentou Ribeiro Júnior. Fonte: Valor Econômico Leia mais em porkworld 11/01/2016

12 janeiro 2016



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