11 junho 2014

Grupos chineses agregam valor com aquisições no exterior

A ânsia da China por comprar multinacionais de alimentos avança em ritmo recorde este ano, como reflexo do apetite da crescente classe média da segunda maior economia do mundo por uma dieta mais rica. As fusões e aquisições nos setores de alimentos e bebidas realizadas por empresas chinesas fora do país responderam, nesses primeiros meses de 2014, por 17% do total de operações realizadas na própria China, segundo cálculos da Thomson Reuters. Os alvos incluem a Hollick, fabricante australiana de vinhos, e a Tnuva, fornecedora israelense de queijos e outros produtos, além de braços comerciais de tradings.

A onda ganha força um ano depois que a americana Smithfield Foods, do segmento de carne suína, foi engolida pela Shuanghui International, hoje conhecida como WH Group, em um negócio de US$ 7 bilhões - a maior aquisição de uma companhia chinesa feita no exterior até hoje. O que alimenta essa onda de negócios é a transição do gigante asiático de uma economia voltada a exportações e faminta por energia, recursos naturais e infraestrutura para uma economia conduzida por uma classe de consumidores em expansão. Em relatório recente, o Banco Mundial avaliou que a dieta dos chineses, com o crescimento acelerado do país nas últimas três décadas, "melhorou imensamente".

Cada habitante está ingerindo, em média, 40% mais calorias por dia que em 1980 com essa mudança de cardápio, hoje mais rico em produtos como carne e laticínios, por exemplo. E esse movimento tende a se aprofundar, num contexto em que a ampliação da riqueza também está levando à demanda por alimentos mais seguros, de melhor qualidade e de origem mais confiável - que, segundo a percepção local, estariam sendo oferecidos por marcas ocidentais -, principalmente após diversos escândalos envolvendo alimentos contaminados na China.

Wang Long, presidente do conselho de administração do WH Group, disse que "a liderança da Smithfield na produção e seus protocolos de segurança", além de um portfólio recheado de itens com maiores margens de lucro, como presuntos e salsichas, foram os principais atrativos observados pelo conglomerado chinês na companhia americana. Zhizhong Yang, presidente do conselho de administração e executivo-chefe da Nomura China, lembra que a oferta chinesa não é suficiente, de modo que as empresas do país precisam olhar para fora. E que a segurança dos alimentos é, de fato, um ponto cada vez mais importante. "Com capital abundante, o país prefere comprar a importar", afirma.

Muitos desses grupos que saíram às compras são estatais. É o caso da Cofco, que recentemente pagou US$ 1,5 bilhão por uma participação em uma joint venture nas áreas de açúcar, soja e trigo com o Noble Group, trading de commodities com sede em Cingapura. Um segundo grupo de compradores pertence a governos locais. Nele está a Bright Food, controlada pelo governo municipal de Xangai, que comprou a Weetabix, marca britânica de cereais matutinos, e que acaba de pagar pouco menos de US$ 1 bilhão por uma fatia do controle na Tnuva. "Essas empresas definem as aquisições por causa de tecnologias e competências que não têm ou por marcas que possam desenvolver na China", diz Camillo Greco, diretor de consultoria a fusões e aquisições do JP Morgan para Europa, Oriente Médio e África. Outra área prioritária da Bright Food é a agricultura moderna, um dos motivos por seu interesse na Tnuva. Lácteos, açúcar, destilados e vinhos também interessam. Fonte: Scheherazade Daneshkhu e Arash Massoudi/ Valor Econômico | Leia mais em canaldoprodutor 11/06/2014

11 junho 2014



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