04 junho 2013

Novatas alcançam 60% do mercado de resseguro

A lei da oferta e demanda tem sido sentida na pele por empresas de resseguro. Após cinco anos do fim do monopólio estatal, o setor atraiu mais de 100 companhias nacionais e estrangeiras, que inundaram o mercado de capacidade de absorção de risco.

 De 2007 para cá, a receita do segmento dobrou e as "novatas" conquistaram 60% do mercado. Os outros 40% são do IRB-Brasil Re, que deteve o monopólio por 69 anos e agora está no fim de um processo de desestatização.

 A maturidade desse mercado tem levado ao aumento do volume das indenizações pagas, como observado no ano passado. A sinistralidade das resseguradoras em 2012 (percentual do valor do seguro usado para pagar indenizações) subiu para 90%, ante 60% um ano antes. Isso ocorreu porque as variáveis da equação avançaram em ritmos diferentes: o volume de indenizações (numerador) cresceu mais que a receitas (denominador), uma vez que a concorrência acirrada tem pressionado as taxas cobradas dos clientes.

 Nesse cenário, as companhias precisam se diferenciar para serem rentáveis e já há quem fale em fusões. "O mercado tende à consolidação no futuro, pois o seu tamanho não resiste a tantos concorrentes no longo prazo", avalia André Gregori, sócio e chefe da área de seguros e resseguros do BTG Pactual. O banco iniciou sua operação de seguros e resseguros este ano. A seguradora é focada em seguros para projetos de infraestrutura e a resseguradora, num primeiro momento, só operará com a seguradora do grupo (cativa).

 A Austral, da gestora Vinci Partners, aposta na eficiência e na exploração de nichos de mercado. Tanto a resseguradora quanto a seguradora do grupo não só atingiram o "break even" (ponto de equilíbrio entre custos e despesas da operação) no primeiro ano como apresentaram lucro, o que não é comum no começo da operação, por conta do grande volume de reservas que precisam ser constituídas. "Somos eficientes em termos de custos", diz Bruno Freire, diretor-executivo da Austral Resseguradora. Ele conta que a companhia usa o modelo da Vinci em que os executivos são sócios do negócio e que a remuneração variável é mais relevante que a fixa. "Muitos começam a operação com custo alto para compor a equipe. Nós usamos esse modelo com uma equipe enxuta", afirma.

 Segundo Paulo Botti, diretor presidente da Terra Brasis Re, o mercado precisa buscar eficiência operacional para ter resultados sustentáveis no longo prazo. Ele observa que, apesar do aumento da sinistralidade no ano passado, as resseguradoras apresentaram bons resultados.

 Isso aconteceu porque as companhias tiveram resultados positivos da chamada retrocessão de resseguro. Para minimizar os riscos, algumas delas repassam parte deles para resseguradoras no exterior, assim como parte do prêmio (o que é chamado de retrocessão). Quando há um sinistro, as resseguradoras pagam a indenização de forma proporcional. O resultado positivo de retrocessão ocorre quando a resseguradora que cedeu o risco pagou um prêmio menor do que a indenização que recebeu no caso do sinistro. "É como se você batesse o carro e desse perda total. O valor que você pagou pelo seguro é menor do que o que você vai receber pelo dano. Isso gera um resultado positivo", explica Botti. "Mas isso não é sustentável no médio prazo, porque as resseguradoras lá fora vão registrar perdas e parar de fazer negócios com as locais."

 A Terra Brasis, do banco de investimento Brasil Plural, está operando desde novembro do ano passado e até maio faturou R$ 13 milhões em prêmios de resseguro. A meta é fechar este ano com R$ 40 milhões em receita.

 Em termos de produtos, a Austral Re busca linhas de negócios em que falta sofisticação no mercado local, caso de seguros de vida e para o setor agrícola, segundo Freire. "Temos cobertura não só para queda da produção, mas também para queda da receita, seja por menor produção ou preço da commodity", exemplifica.

 A seguradora da Austral também tem entrado em novas áreas, como a de riscos de petróleo. "É um mercado que movimenta R$ 450 milhões em prêmios de seguros por ano e está concentrado em apenas cinco seguradoras", diz Carlos Frederico Ferreira, diretor executivo da Austral Seguradora.

 A área de vida está no foco da Swiss Re. "Estamos investindo em vida e saúde, áreas em que estávamos parados na América Latina", diz Margo Black, presidente da Swiss Re Brasil. A companhia foi uma das primeiras a oferecer tele subscrição para seguro de vida, serviço em que profissionais da área da saúde entrevistam o cliente por telefone para a análise de risco. A Austral Re também oferece esse serviço.

 Entre as resseguradoras locais que começaram a operar no último ano, a AGCS, do grupo Allianz, tem como estratégia fazer apenas resseguro de riscos individuais (conhecidos como riscos facultativos) e não de contratos. As seguradoras fazem contratos com as resseguradoras em que podem colocar de forma automática, até um limite, os riscos de sua carteira. Acima desse teto e para riscos maiores são feitos contratos facultativos, específicos para uma grande obra, por exemplo.

 "Dentro disso, nosso carro chefe tem sido vender coberturas para as multinacionais brasileiras, que precisam de cobertura em outros países da América do Sul onde temos licença para operar", diz o presidente da AGCS Brasil, Ângelo Colombo.

 No Brasil existem três modalidades de resseguradoras: local (que constitui sociedade no Brasil, com capital base de no mínimo R$ 60 milhões, e tem reserva garantida de 40% do mercado), admitida (empresa com sede no exterior, mas com escritório de representação no país, com capital mínimo de US$ 5 milhões) e eventual (que precisa apenas de cadastro junto à Susep para atuar). Hoje, são 14 locais e pouco mais de 90 admitidas e eventuais.  Por Thais Folego | De São Paulo Valor Econômico -
Fonte: clippingmp 04/06/2013

04 junho 2013



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