18 fevereiro 2013

Wall Street vê nova onda de grandes fusões e aquisições

Uma série de aquisições anunciadas uma após a outra, de empresas que vão desde uma fabricante de ketchup até uma companhia aérea e uma atacadista de remédios, indica que a era dos grandes negócios está de volta a Wall Street, depois de seis anos de ausência.

 Fusões e aquisições sofreram um baque depois da crise financeira, com as incertezas econômicas e a paranoia que tomou conta dos conselhos de administração relegando este tipo de negócio ao segundo plano. Mas este ano está se mostrando diferente.

Só os negócios anunciados na quinta-feira, que somam US$ 40 bilhões, elevam o valor total das fusões e aquisições anunciadas desde janeiro para quase US$ 160 bilhões, o maior num início de ano desde 2005, segundo a firma de pesquisa Dealogic. Como historicamente os volumes de fusões e aquisições seguem o desempenho dos mercados de ações, o aumento, este ano, de 6,67% no índice de quinhentas empresas Standard & Poor's 500 é sinal que há mais negócios a caminho.

"As comportas se abriram", disse James B. Lee, um experiente negociador e vice-presidente do conselho do J.P. Morgan Chase & Co. Ele está orquestrando uma nova operação: a aquisição, por US$ 24,4 bilhões, da Dell Inc. por seu fundador e uma firma de investimento. "Essas forças são poderosas demais para serem contidas para sempre", disse Lee.

 Além da compra da Heinz, os destaques do surto da semana passada foram a fusão de US$ 11 bilhões entre a AMR Corp. e a US Airways Group, o acordo renegociado pelo qual a gigante das cervejas Anheuser-Busch InBev NV venderá algumas marcas para a concorrente Constellation Brands Inc. no valor de US$ 4,75 bilhões, e a compra da atacadista de remédios Cardinal Health Inc. pela rival AssuraMed, por US$ 2 bilhões.

 Os banqueiros de fusões e aquisições são conhecidos por seu otimismo, independentemente das condições. Mas Lee e outros argumentam que esse surto recente de grandes negócios — que incluem ainda os US$ 16 bilhões da fusão das empresas de mídia Liberty Global Inc. e Virgin Media Inc. e os US$ 18,1 bilhões que a operadora de TV a cabo Comcast Corp. pagou à General Electric Corp. para ficar com toda a rede NBCUniversal — não é mera coincidência.

 O argumento deles é o seguinte: as empresas já colheram em grande parte os benefícios das iniciativas de corte de custos e aumento de produtividade implementadas desde a recessão. Elas estão agora procurando outras maneiras de crescer a um ritmo que faça os acionistas felizes. Fusões e aquisições, diz a teoria econômica, são uma forma de fazer isso acontecer.

A produtividade das empresas deu um salto na esteira da recessão, já que elas demitiram funcionários e reduziram custos agressivamente. Entre 2008 e 2009, por exemplo, a produtividade aumentou 6%, segundo dados compilados pela regional de St. Louis do Federal Reserve, o banco central americano. 

O crescimento da taxa de produtividade diminuiu consideravelmente desde então e, no fim de 2012, já chegava a menos de 1% ao ano.

A nova tendência poderia ser exemplificada pela empresa de capital aberto 1-800-Flowers.com. Em uma teleconferência com analistas em 12 de fevereiro, o diretor financeiro da varejista de flores, William E. Shea, contou como as finanças da empresa mudaram desde 2008. Naquela época, a empresa tinha cerca de US$ 130 milhões em dívidas. Hoje, o total gira em torno de US$ 20 milhões.

 "Não estamos com medo de fazer aquisições", disse Shea. "Mas, durante esse período passado, isso não era o melhor para nós [...] Hoje, acreditamos que podemos obter crescimento orgânico se mudarmos de direção [...] E se encontrarmos a empresa certa e o negócio for bom, nós vamos fazê-lo."

Uma coisa que mudou foi o alinhamento tanto do crédito quanto do mercado de ações. Em 2013, ambos estão subindo ao mesmo tempo, oferecendo crédito barato aos compradores e preços aceitáveis aos vendedores.

 Tanto a aquisição da H.J. Heinz como a da Dell envolveram volumosos empréstimos bancários. Grupos financeiros estão novamente dispostos a viabilizar negócios desta dimensão porque os banqueiros estão confiantes de que podem rapidamente vender a dívida a investidores em busca de juros mais altos.

 Investidores em dívida também gostam de negócios grandes porque eles são mais fáceis de comprar e vender no mercado secundário. "Para mim, esta é a nata do mercado de dívida alavancada", disse Christine McConnell, que administra uma carteira de US$ 11 bilhões de investimentos em empréstimos na Fidelity Investments.

 Poucos esperam um retorno às transações extravagantes do fim dos anos 1990 ou meados dos 2000, quando crédito barato, empréstimos bancários abundantes e firmas de investimento agressivas levaram a algumas escolhas de aquisições equivocadas.

 Desde então, investidores ativistas ganharam uma influência maior nos conselhos de administração das empresas, geralmente exigindo uma rígida disciplina dos executivos, principalmente aqueles com propensão a usar a criatividade para fazer negócios.

 O governo americano também interveio, bloqueando, por exemplo, a aquisição da telefônica T-Mobile USA proposta pela AT&T em 2011 e, algumas semanas atrás, entrando na Justiça para impedir a operação de US$ 20,1 bilhões que daria à Anheuser-Busch InBev NV controle total da cervejaria mexicana Modelo SAB.

 Nos próximos meses, há dois caminhos prováveis para as fusões e aquisições. O primeiro vai usá-las para estabelecer ligações entre mercados nos Estados Unidos e no exterior, com capital fluindo para dentro das empresas americanas ao invés de para fora.

 O banco japonês Softbank Corp. está pagando US$ 33,4 bilhões pelo controle da telefônica americana Sprint Nextel Corp. As empresas chinesas, por exemplo, gastaram mais de US$ 10 bilhões em 46 negócios relacionados aos EUA em 2012. Os investidores também devem esperar mais negócios originários de conglomerados em rápido crescimento de países como Turquia, Coreia do Sul e Indonésia.

 "As fontes de capital são globais e a natureza fundamental do nosso negócio também", disse Antonio Weiss, diretor mundial da área de banco de investimento da firma financeira Lazard Ltd. "Está ocorrendo uma remobilização do capital que vinha sendo acumulado numa região em direção a outras."

O segundo caminho será os típicos negócios de racionalização de um setor, que podem ter sido contemplados por anos, mas careciam da confiança do mercado para se concretizarem. Os setores de energia, imobiliário e de serviços financeiros merecem atenção especial.

 No fim do ano passado, a Avalonbay Communities Inc. pagou US$ 15,9 bilhões por um outrora combalido fundo de investimento imobiliário chamado Archstone-Smith.

 E parece ser mera questão de tempo para que uma consolidação maior bata às portas de Wall Street, agora que os bancos, estabilizados por reestruturações internas, veem as fusões como um próximo e talvez inevitável passo, ainda que doloroso. Por FRANCESCO GUERRERA e DENNIS K. BERMAN (Colaboraram Matthieu Wirz e David Benoit.) Leia mais...
Fonte: thewallstreetjournal

18 fevereiro 2013



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