23 setembro 2012

Fusões agora chegam ao varejo de porte médio

Compra de Leader, Tok & Stok e de farmácias indica tendência. Negócios somam R$ 3,2 bilhões em 2012

Longe dos holofotes que cercaram a ruidosa troca de controle do Pão de Açúcar, que saiu das mãos da família Diniz para o grupo francês Ca­sino, uma série de negócios vem movimentando as redes médias do varejo brasileiro. Da compra das lojas Leader pelo BTG Pactuai, sacramentada semana passada, à aquisição do controle da Tok & Stok pelo fundo americano Carlyle, que em março já arrematara a rede de brinquedos Ri Happy, as transações no setor já movi­mentaram este ano mais de R$ 3,2 bilhões e devem continuar, avisam os especialistas.

  FUSÕES NO RAMO DE FARMÁCIAS

 Foi mais de uma dezena de operações envolvendo com­pras de participação e contro­le, movimentos que o consu­midor muitas vezes sequer no­ta, mas que geralmente envol­vem a transferência de marcas tradicionais do comércio para grupos muito maiores.

 Como aconteceu com o Pre- zunic, que hoje pertence ao grupo chileno Cencosud, tam­bém dono de outras bandeiras ainda mais populares no país, como G. Barbosa, no Nordeste, e Bretas, em Minas Gerais. O BTG Pactuai, que pagou R$ 1,16 bilhão pela Leader, criou em 2009 a BR Pharma e passou a comprar marcas regionais de farmácias. A BR Pharma abriu capital em 2011 e hoje é dona de uma das maiores redes de farmácias do país, com mais de mil pontos e bandeiras co­mo a Farmais, entre outras.

Além dos supermercados, em que cinco grupos respon­dem por quase 60% das ven­das, e das farmácias, onde 21 redes abocanham metade do faturamento, segmentos im­portantes do varejo como o de lojas de departamento/moda e de materiais de construção de­vem passar ainda por grandes transformações, diz Márcio Vi­eira, sócio da área de varejo da PriceWaterhouseCoopers (PwC).

Consumidor está mais bem informado 

Baixo desemprego e mobilidade social favorecem a expansão do varejo no país -são paulo -Um consumidor mais bem informado e exigente e um mercado que cresce três vezes mais que o PIB, impulsi­onado pelo baixo desemprego e pela mobilidade social, são os vetores do processo de mo­dernização e expansão do va­rejo brasileiro. Luiz Goes, da consultoria GS&MD Gouvêa de Souza, diz que, nesse con­texto, a consolidação de fusões e aquisições no varejo passa pelas redes regionais de médio porte — em vez de grandes ne­gócios.

 Como fizeram o Supermer­cado Andrezza, de Caxias do Sul (RS), e a Vale Verde Farmá­cias, de Londrina (PR), que es­te ano avançaram sobre redes concorrentes. O Andrezza ar­rematou cinco lojas do Imec, e passou a ter 21 pontos de ven­da na Serra Gaúcha, enquanto a Vale Verde incorporou qua­tro lojas da Farmácias Senador, tornando-se a maior rede do interior do Paraná, com 28 pontos de venda. 

— Essa estratégia tem como objetivo tornar a empresa mais musculosa e competitiva. Seja para se mostrar interessante a um investidor maior, ou para dificultar a sua entrada — diz Goes.

 Segundo ele, grandes varejis­tas internacionais que ainda não estão aqui acompanham de perto o mercado brasileiro, em busca de oportunidades. Questões como a estrutura tri­butária, a legislação trabalhis­ta e o tamanho do mercado, muito regionalizado, assustam e tornam a tarefa complexa.

 OPORTUNIDADE NA REGIONALIZAÇÃO 

Carlos Pires, sócio responsá­vel pela área de Consumer Market da KPMG, concorda que as oportunidades para aquisições e fusões estão na re­gionalização, e vê na investida dos fundos de private equity (como o Carlyle, e mesmo o brasileiro Vinci Partners, que em fevereiro comprou 40% da rede baiana de varejo Le Bis- cuit) um obstáculo a mais no caminho de novos grupos va­rejistas estrangeiros.

— A entrada de fundos como o Carlyle é também um baliza- dor de preços, mas para o alto, porque sinaliza um mercado em ascensão. Coloca uma ré­gua de preços em patamares altos num mercado jovem, em ascensão — diz Pires.

 Cláudio Felisoni, do Instituto Pró Varejo (Provar), da USP, lembra que hoje o varejo ven­de “commodities” cujos preços são facilmente comparados pelo consumidor pela internet e, consequentemente, levando a margens muito baixas. Para sobreviver, lojistas precisam vender muito.

 A dinâmica desses proces­sos emerge da queda dos cus­tos da informação, da facilida­de que o consumidor — tem para comparar preços e condições de pagamento — diz. Por Ronaldo D'Ercole
Fonte: O Globo 23/09/2012

23 setembro 2012



0 comentários: