Apesar de o Brasil ser atualmente considerado um país de menor risco para negócios, o setor de mineração brasileiro não tem se envolvido em um grande número de fusões e aquisições. A explicação para o país não estar no centro da tendência observada ao redor do mundo é simples: os ativos no Brasil, em geral, são caros.
"Os estrangeiros estão muito interessados no país. Temos verificado muitos processos de due dilligence (auditoria). Mas as transações, no fim, não são realizadas", afirmou ao Valor o líder global em mineração da empresa de auditoria Deloitte, Philip Hopwood.
Dados divulgados pela Deloitte mostram que, globalmente, o setor de mineração está entre os cinco que mais se envolveram em anúncios de fusões e aquisições de janeiro de 2010 a maio de 2011. Foram 4,9 mil acordos, totalizando um valor de US$ 321,2 bilhões. Os países que guiaram esses movimentos no período foram EUA, Canadá, Austrália e China. No Brasil, em 2010 foram verificados 35 acordos desse tipo (envolvendo empresas de capital nacional como compradoras ou alvo). Até setembro deste ano, apenas 11 negociações foram anunciadas.
Segundo o executivo, os ativos brasileiros representam pouco no montante global, pois estão valorizados e competem com ativos dos outros principais centros mineradores, economias com as quais as empresas conseguem ganhar boas margens. O setor no Brasil tem grandes desafios, como a forte competição das megaempresas, a busca por boas reservas e a falta de mão de obra.
Segundo a Deloitte, projetos greenfield (de construção a partir do zero) para unidades de aço no Brasil custam de 44% a 69% mais do que na Índia e na China.
"Os custos no sudeste asiático oferecem vantagem competitiva. Se o Brasil quiser brigar nesse ambiente competitivo, terá que mostrar como reduzir os custos. Mantê-los baixos é a grande questão do setor", afirmou Hopwood. "Mas, em uma situação de alta da inflação isso é difícil", completou.
Ele destaca que o foco nas estratégias de crescimento, por aquisições e com redução de custos, tem se intensificado diante do novo contexto econômico mundial. O fluxo de commodities tem se voltado cada vez mais para os países emergentes. Ao mesmo tempo, muitos mercados fornecedores têm se fechado ao comércio exterior, preocupados em garantir reservas de matérias-primas para atender primeiro o mercado doméstico. Vide a China com terras-raras. "Essas novas situações vêm afetando a forma como operam as companhias de mineração", destacou Hopwood.
O protecionismo intensifica uma das questões de maior atenção para o setor: o descolamento entre a oferta e a demanda. Enquanto os projetos de urbanização e infraestrutura na China apontam um futuro promissor para as commodities industriais, o fornecimento dessas matérias-primas está ficando cada vez mais apertado.
As minas tendem a envelhecer, o que diminui o teor de minérios. Além disso, o mundo ficou mais complexo no que tange às regulações. Os impostos incidentes sobre as operações mineradoras foram elevados por governos de várias regiões produtoras, como na Austrália e no Chile. No Brasil, o governo atualmente discute o novo marco regulatório, que também pode influenciar a indústria no país.
Diante desses fatores, o perfil de risco das mineradoras mudou. "Para aliviar essas limitações, algumas mineradoras tentam acessar reservas em lugares não tradicionais, como a África", afirmou o líder em mineração da Deloitte no Brasil, Eduardo Raffaini. Muitas vezes, por exemplo, as empresas têm o custo de investir em infraestrutura para operarem nesses locais. "Isso exige maior atenção das mineradoras. Temos que lidar ainda mais com a gestão de riscos", completou Hopwood.Por Vanessa Dezem
Fonte:Valor Econômico28/09/2011
28 setembro 2011
Ativos no Brasil estão muito caros, diz Deloitte
quarta-feira, setembro 28, 2011
Compra de empresa, Investimentos, Riscos, Tese Investimento, Transações MA
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Ruy Moura
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