24 julho 2020

BTG Pactual avança no mundo das startups e amplia fatia na CredPago

O banco de investimentos aumentou sua participação de 20% para 49% na startup que desenvolveu uma plataforma para eliminar a burocracia na locação de imóveis, um segmento que movimenta R$ 150 bilhões por ano no País

Fundada em 2016, com o plano de desburocratizar a relação entre imobiliárias, locadores e inquilinos, a CredPago ganhou um fiador de peso para o seu modelo quando, no fim de janeiro deste ano, quando um fundo gerido pelo BTG Pactual comprou uma fatia de 20% da startup.

Agora, passados seis meses do negócio, as duas empresas vão ocupar praticamente o mesmo espaço dentro da operação. O BTG Pactual está ampliando sua fatia na CredPago para 49%. Com o acordo, que ainda depende de aprovação do Banco Central e cujos termos financeiros não foram revelados, o banco passa a ter participação direta na companhia.

“A CredPago criou um modelo que é disruptivo, mas que respeita a dinâmica e os atores desse mercado”, afirma Leonardo Felix, sócio-responsável pela seguradora do BTG Pactual. “E a capacidade de execução que eles mostraram na pandemia nos fez enxergar um potencial ainda maior no negócio.”

Sandro Westphal, cofundador da CredPago, que, assim como os outros cinco acionistas da empresa, segue na operação, brinca que a lua-de-mel da dupla foi breve, de apenas 45 dias. “Logo veio a Covid-19 e o casamento entrou em teste”, diz. “E ela foi fundamental para renovar nossos votos de confiança.”

Alguns números ajudam a entender como essa relação foi selada. Após uma queda de 30% na operação, em março, a CredPago fechou junho com um crescimento de 173% na comparação com igual período de 2019. No primeiro semestre, a startup registrou um salto de 39,5% no número de contratos sob gestão.

Esses indicadores foram alcançados com um modelo que simplifica a locação ao eliminar a figura do fiador. Em menos de um minuto, um sistema faz a análise do perfil de risco do inquilino e, em caso de aprovação, emite a fiança locatícia, em poucos cliques.

A receita da empresa vem de taxas anuais que variam de 8% a 10% do valor da locação, cujo tíquete médio é de R$ 1.250. Essa cifra é cobrada do inquilino, que pode parcelá-la, em até 12 vezes, via cartão de crédito. A CredPago não oferece essa alternativa diretamente aos locatários. O formato é viabilizado por meio das imobiliárias, que têm acesso a uma plataforma gratuita fornecida pela startup.

A CredPago tem 4 mil imobiliárias ativas em sua base e mais de 60 mil contratos sob gestão
Hoje, a CredPago tem uma base de 11 mil imobiliárias cadastradas, das quais, 4 mil são ativas. São mais de 60 mil contratos sob gestão e a meta é fechar 2020 com um volume de 85 mil. A empresa projeta superar a marca de R$ 100 milhões de faturamento no ano, ante os R$ 52 milhões apurados em 2019.
Mercado bilionário

A CredPago não é a única startup querendo ganhar terreno em um mercado que movimenta R$ 150 bilhões por ano, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A empresa tem a companhia, por exemplo, do QuintoAndar, que se tornou unicórnio em setembro de 2019, ao receber um aporte de R$ 1 bilhão, liderado pelo Softbank.

Westphal não vê, porém, a empresa como um concorrente. “O QuintoAndar foi importante porque criou um pânico nas imobiliárias tradicionais”, diz. “O setor é muito incipiente no digital e nós somos uma alternativa gratuita para prover essa capacidade.”

Felix engrossa o coro: “Essa proposta mostrou ter apelo à medida que a CredPago criou capilaridade em um canal extremamente pulverizado”, diz. E acrescenta que a integração com essa rede abre um grande potencial para o banco ampliar sua presença nesse mercado. “Qualquer alternativa que envolva financiar, antecipar pagamentos ou qualquer atividade bancária é algo factível para o banco fazer.”
 
Sandro Westphal, sócio-fundador da CredPago
Do lado da CredPago, Westphal destaca que a ampliação dos laços com o BTG Pactual dá mais recursos para a startup desafiar aquelas que considera suas verdadeiras rivais: as companhias tradicionais e estabelecidas como Mapfre, Liberty e, em especial, a Porto Seguro, líder do segmento.

“Além do selo do BTG Pactual, nossas ofertas e conhecimentos setores são muito complementares”, explica Westphal. “Vamos poder explorar muito mais produtos financeiros associados ao setor imobiliário e não apenas para locação, mas, eventualmente, até para a compra e venda.”

Um dos primeiros passos dessa integração, dado nos primeiros meses da parceria, foi a inclusão da BTG Seguradora como emissora do seguro garantia de pagamento de aluguel. Mas já mais ofertas – disponíveis ou no forno – fruto dessa união.

Em agosto, a CredPago lança um seguro incêndio. Outra novidade recente do portfólio é o Fica Azul, plataforma os inquilinos inadimplentes podem quitar seus débitos. O locatário entra na ferramenta, escolhe a alternativa de parcelamento que mais lhe convém e faz o pagamento via cartão de crédito.

Para esse segundo semestre, a empresa também está estruturando uma oferta batizada de Aluguel em Dia, voltada aos proprietários dos imóveis, para garantir que recebam o valor da locação mesmo em caso de inadimplência.

“A ideia é aproveitar o canal da CredPago para entender tudo o que pode resolver as dores das imobiliárias”, Leonardo Felix, sócio-responsável pela seguradora do BTG Pactual

A principal novidade, porém, leva o nome de Ponta a Ponta. Trata-se de uma ferramenta pela qual os corretores poderão conduzir todo o processo de locação, digitalmente. Incluindo a assinatura dos contratos.

“A ideia é aproveitar o canal da CredPago para entender tudo o que pode resolver as dores das imobiliárias”, diz Felix. Westphal completa: “A capacidade do BTG Pactual criar e aprovar produtos vai nos dar mais segurança e condição para alcançar um mercado muito maior nos próximos anos.”

24 julho 2020



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