24 maio 2017

Estrangeiro aproveita baixa e vai às compras

Os investidores internacionais estão olhando para o novo capítulo da crise política, que colocou em xeque o governo de Michel Temer e a aprovação das reformas estruturais, de forma pragmática.

Desde quinta-feira passada, quando foi divulgado o áudio das conversas do presidente com o empresário Joesley Batista e os ativos locais derreteram, os estrangeiros aproveitaram para ampliar as posições no mercado de ações brasileiro.

Somente no dia 18, o fluxo externo na bolsa foi positivo em R$ 190 milhões.
No pregão seguinte, os estrangeiros colocaram mais R$ 192,8 milhões, atraídos pelos preços mais favoráveis. Incluindo a queda no pregão de quinta-feira, o Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, já acumula perdas de 8,76%. Levando em conta a desvalorização de 4,32% do real em relação à moeda americana no período, em dólar, a queda do índice chega a 12,19%, criando um ambiente ainda mais propício para o estrangeiro garimpar pechinchas.

Em maio, até o dia 19, segundo os dados mais recentes divulgados pela B3, as aplicações de estrangeiros em ações locais já alcançam R$ 1,142 bilhão, na contramão do registrado entre março e abril, quando as retiradas bateram R$ 3,37 bilhões. No ano, o saldo acumulado está positivo em R$ 4,6 bilhões.

Esse volume pode incluir recursos que migraram de ativos de renda fixa para variável por conta da trajetória de queda de juros, por exemplo.

Números divulgados ontem pelo Banco Central (BC) corroboram o interesse do estrangeiro pelo mercado de ações. Em maio, até o dia 19, ingressaram US$ 184 milhões no país para investir em ações. A expectativa do BC é que até o fim do ano US$ 10 bilhões sejam trazidos ao Brasil para compras no mercado acionário.

Maior fundo de índice de ações brasileiras negociado no exterior, o iShares MSCI Brazil Capped Index, conhecido como EWZ, é outro termômetro da demanda dos estrangeiros pelo país. Em Nova York, na última quinta-feira, as negociações com a cota do fundo movimentaram US$ 5,5 bilhões, mais do que o patrimônio total de US$ 5 bilhões do próprio EWZ e um recorde histórico, segundo a gestora BlackRock, que administra os fundos de índice do tipo iShares.

Embora ao fim do dia a cota tenha caído 6,2%, o grande volume de transações indica que o interesse em deter uma posição em ativos do país segue elevado, na avaliação de Nicolas Gomez, diretor da unidade iShares, na BlackRock, para a América Latina e Península Ibérica.

"Teve muita gente que vendeu o EWZ, mas é importante frisar que teve muita gente que comprou também", disse Gomez. "O investidor em ETF compra o fundo porque possui uma visão e uma convicção sobre a tendência de um mercado em particular." A própria BlackRock informou ontem que adquiriu ações preferenciais da Petrobras na sexta-feira (19), passando a deter uma participação de cerca de 5,03% das PNs de emissão da estatal.

O movimento dos estrangeiros é importante para a Bovespa porque são responsáveis por mais da metade dos negócios na bolsa de valores e, muitas vezes, têm um horizonte mais longo de aplicação.

Os investidores de fora respondem por 51,96% dos negócios com ações, segundo dados da B3. É praticamente o mesmo patamar de um ano atrás, mas está longe do período com a maior participação deles no mercado, de 63,90%, em março de 2014.

Ontem, a sinalização de que o Congresso Nacional deve continuar com o cronograma de aprovação das reformas estruturais trouxe certo alívio aos investidores. O senador Ricardo Ferraço (PSDB-CE) deu como lido o parecer sobre a reforma trabalhista na sessão da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, depois de a sessão ter sido interrompida por volta das 16h quando teve início um tumulto entre os senadores.. Mas, o texto poderá ser votado na semana que vem. Já o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou que pretende colocar a proposta de reforma da Previdência em votação no plenário da casa na primeira quinzena de junho.

O Ibovespa encerrou o dia em alta de 1,60% aos 62.662 pontos e giro financeiro de R$ 7,6 bilhões. "A bolsa resolveu olhar para a metade cheia do copo, que é a sinalização do governo de fazer todo o esforço possível para conseguir passar as medidas", diz Paulo Figueiredo, economista da gestora fluminense FN Capital. "Grandes fundos, que têm como principal foco o longo prazo, aproveitaram para adquirir papéis relativamente baratos", diz.

Alguns gestores que dividem a sua carteira entre os países emergentes e viram a parcela do seu patrimônio aplicada em Brasil encolher por conta da queda recente da Bovespa também recorreram às compras para recompor seu portfólio.

Entre as ações mais negociadas, o destaque de alta ficou com os papéis ordinários da JBS. Depois de cair mais de 7% no começo do pregão e entrar em leilão, as ações inverteram o movimento e fecharam o dia com alta de 9,53% a R$ 6,55. Apesar da valorização do papel, as ações têm queda de 35,97% neste mês. A ação da empresa de carnes, que vem sendo bastante pressionada após a divulgação da delação premiada dos irmãos Batista, teve o quarto maior giro financeiro do Ibovespa, de R$ 477,7 milhões.  - Valor Econômico Leia mais em portal.newsnet 24/05/2017

24 maio 2017



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