26 outubro 2016

Com outros planos, sócia deixa Hypermarcas

A família Gonçalves, fundadora da Neo Química, decidiu sair do bloco de controle da Hypermarcas, e de seu conselho de administração, para ter liberdade de se desfazer das ações da empresa, o que até então não era permitido. Segundo fonte, os sócios consideram a hipótese de vender sua parcela de forma gradual, ou usar parte dos papéis como garantia de pagamento de dívida. Ainda consideram, numa venda progressiva das ações, usar os recursos em negócios já controlados por eles, como um hotel e a fazenda da família, no norte de Goiás, apurou o Valor.

De acordo com informações, há ainda a possibilidade de que entrem em novo negócio, na área de farmacêutica veterinária, e isso seria possível com parte dos recursos de uma venda de ações. A participação atual da família é de 5,54% no capital total da Hypermarcas, equivalente hoje a R$ 990 milhões. Uma operação na área veterinária não seria impedimento dentro das regras do acordo de não concorrência de dois anos após saída do conselho, assinado entre as partes.

Procurada, a família não respondeu aos pedidos de entrevista.

Os outros sócios da empresa tinham o direito de preferência na compra dos papéis pelo acordo de acionistas, numa "janela" curta, de 15 dias. Considerando o prazo, a recente alta dos papéis, que encarece a transação, e volume que seria movimentado, os sócios decidiram não exercer o seu direito.

João Alves de Queiroz Filho, o Júnior, fundador da Hypermarcas, tem ações na empresa por meio de veículos como a Igarapava Participações. Somando ele e sócios mexicanos (Esteban Malpica, Alfredo Harp Helu e Roberto Ramirez), o grupo de controle chega a 40%.

Hoje, a Hypermarcas tem interesse na compra das ações no mercado, apurou o Valor. A empresa tem programa de recompra aberto. Se fizer uma movimentação, será por meio desse plano. De qualquer forma, apesar do interesse nos papéis dos sócios, pelas regras do período de silêncio, a empresa é impedida de fazer qualquer negociação nesta semana, lembra uma fonte a par do assunto. Esse período se encerra na sexta-feira, após a publicação do balanço trimestral.

Procurada, a companhia não comentou informações sobre planos de recompra de ações da família.

Na prática, a avaliação que se faz no mercado é que a saída da família do bloco de controle acaba sendo positiva para todos. Traz liquidez para as ações dos Gonçalves, que praticamente não interferiam nas definições estratégicas da companhia, apesar de estarem no conselho, e a Hypermarcas pode usar seu caixa para ampliar posição na empresa, mostrando confiança no negócio, com preço já descontado de uma queda nos papéis após divulgação da saída da acionista. Ontem, após anúncio da saída, a ação fechou pregão com queda de 5%, a maior desvalorização entre os ativos do Ibovespa.

A família Gonçalves chegou ao bloco de controle da Hypermarcas em 2010 com a venda do laboratório Neo Química para a companhia. Agora, deixam o acordo de acionistas, celebrado em junho daquele ano. Marcelo Henrique Limírio Gonçalves, Cleonice Barbosa Limírio Gonçalves, Marcelo Henrique Limírio Gonçalves Filho e Luana Barbosa Limírio Gonçalves de Sant'Anna Braga saem do bloco de controle da empresa, na qual detêm 5,54%. O acordo de acionistas firmado em 2010 tinha validade de dez anos e poderia ser prorrogado por mais dez. O termo recebeu aditivo para refletir a nova conformação do bloco controlador.

Marcelo Henrique e Marcelo Henrique Filho renunciaram aos assentos que ocupavam no conselho da Hypermarcas e o presidente do colegiado nomeou nova conselheira independente, Maria Carolina Ferreira Lacerda. Com isso, a companhia passa a ter quatro membros independentes no conselho, do total de dez assentos.

Para um analista que preferiu não se identificar, a decisão da família pode ser acompanhada pela venda de sua participação, uma vez que os papéis estão valorizados. Assim, a Hypermarcas pode usar também o caixa robusto para distribuir dividendos e parte dos proventos recebidos poderia ser usada pelos atuais signatários do acordo de acionistas para comprar ações dos Gonçalves.

Outro analista lembrou que o bloco de controle já havia sido alterado em março, quando Nelson José de Mello renunciou ao cargo de diretor de Relações Institucionais. Suas ações, à época equivalentes a 0,2% do capital total, foram desvinculadas. Na ocasião, disse que fez pagamentos indevidos à revelia da Hypermarcas e pediu sigilo sobre o caso. Poucos meses depois veio à tona a notícia de que é delator na Operação Lava-Jato. Mello pagou R$ 26,7 milhões à empresa, que não é investigada. Fonte: Valor Econômico Autor: Adriana Mattos e Stella Fontes  Leia mais em tudofarma 26/10/2016

26 outubro 2016



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