A Eneva e o Grupo Rede são um ponto fora da curva. As duas empresas de energia fazem parte de um pequeno grupo de companhias que entrou em recuperação judicial e conseguiu sair, sem decretar falência.
No Brasil, os indicadores apontam que apenas 7% das companhias conseguem cumprir o prazo de dois anos - estabelecido por lei - e sair do processo judicial. A maioria das recuperações se arrasta por anos, enquanto outra parte significativa dos negócios quebra no meio do caminho.
Em prazos diferentes, as duas empresas conseguiram cumprir as obrigações previstas no plano de recuperação e ganharam o carimbo do juiz para seguir em frente. Com as dívidas equacionadas, traçam agora novas estratégias para crescer.
Embora pertençam a um mesmo setor, as duas elétricas têm histórias diferentes. O Grupo Rede, que passou por uma intervenção do Estado e depois foi comprado pela Energisa, administra oito distribuidoras de energia. Apesar de ter a obrigação de investir na expansão e melhoria dos serviços, tem um fluxo de caixa mais controlável - fator que contribui bastante num processo de recuperação judicial.
Já a Eneva (ex-MPX, do empresário Eike Batista) é uma geradora de energia, com usinas em operação e outras em construção, o que demanda altos investimentos o sem geração de caixa por um período. "O grande risco de um gerador é não entregar o projeto no prazo previsto, o que resulta em uma série de multas e punições pelo descumprimento do contrato", diz o presidente da consultoria Thymos Energia, João Carlos Mello.
Foi o que ocorreu com a Eneva. Apesar de ter bons projetos, houve problemas na implementação das usinas, o que resultou em um série de custos e prejuízos, levando a companhia do céu ao inferno.
Mergulhada numa dívida de R$ 2,4 bilhões, com caixa debilitado e sem acordo para pagamento com os credores, restou à empresa o pedido de recuperação judicial. Mas o processo foi bem-sucedido e, antes dos dois anos do prazo regulamentar, a companhia anunciou sua saída do processo de recuperação judicial. A dívida caiu para cerca de R$ 1 bilhão e foi alongada. Procurada, a Eneva não comentou.
Tensão
Esse processo, porém, não foi fácil e esconde fortes momentos de tensão. Primeiro havia o risco do Grupo X, dono da Eneva, que foi mitigado pela venda do negócio à alemã E.On. Depois, em pleno processo de recuperação judicial, veio a prisão de André Esteves, dono do BTG e um dos credores da companhia, que tinha se tornado maior sócio da empresa.
"O que ajudou a manter o processo de pé foi o fato de a companhia ter projetos bons. Além disso, os acionistas, independentemente das crises, acreditavam que a Eneva poderia sair dessa situação", diz uma fonte que acompanhou o processo.
Para o advogado Flavio Galdino, do escritório GCM (Galdino, Coelho, Mendes Advogados), que coordenou o processo de recuperação da empresa, outros outro fator pesou a favor da Eneva: como a empresa não tem um controlador, o pedido de recuperação foi concentrado na holding - e não nas empresas abaixo do grupo -, o que ajudou na organização da recuperação. O executivo Fabio Bicudo, ex-Goldman Sachs, foi o principal gestor da Eneva no processo, e teve a assessoria da Íntegra Associados.
Os quatro bancos credores - Itaú, BTG, Citi e HSBC - aceitaram dar desconto na dívida e juros, acrescentou Galdino. Do total da dívida com bancos, 40% foram alongados, 20% "perdoados" e os outros 40% acabaram convertidos em ações.
As ações para organizar as contas e mostrar um projeto viável aos credores começaram a ser tomadas ainda antes do pedido de recuperação, em dezembro de 2014. A empresa vendeu, por R$ 300 milhões, a participação de 50% que tinha na usina Termoelétrica Pecém I, em São Gonçalo do Amarante (CE), para a portuguesa EDP (Energias do Brasil S/A), que já era dona dos outros 50%. Isso ajudou o caixa da companhia.
Além da estrutura de capital, a estabilidade operacional do grupo e a verticalização da empresa, com a entrada de ativos de produção de gás, ajudaram a dar uma guinada no negócio, afirma André Fernandes, diretor de riscos do BTG.
No início de outubro, a empresa concluiu aumento de capital de R$ 1,16 bilhão, incorporando a Parnaíba Gás Natural (PGN) como subsidiária integral. A empresa é a maior operadora de gás natural do Brasil. Passada a instabilidade da recuperação judicial, hoje a Eneva planeja novos investimentos e quer se consolidar no mercado. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo. Renée Pereira e Mônica Scaramuzzo
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Compra de empresa, Contingências, Plano de Negócio, Tese Investimento, Transações MA, Venda de Empresa
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Ruy Moura
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