02 outubro 2015

Crise torna o Brasil atraente para investimentos de private equity

A crise em andamento no Brasil pode proporcionar aos investidores de private equity justamente o que eles vêm buscando há algum tempo: uma porta de entrada no país.

A desaceleração da economia brasileira e a desvalorização do real neste ano está tornando o ambiente de negócios mais desafiador para empresas do país que são financiadas por private equity. Por outro lado, os investidores em participações têm em mãos capital ocioso que agora podem usar para comprar ativos a preços menores.

“Se você captou [fundos] em dólar, agora seria um momento muito atraente para comprar”, diz Cate Ambrose, presidente e diretora executiva da Associação Latino-Americana de Private Equity e Capital de Risco — ou Lavca, na sigla em inglês. Ela acrescenta que a desvalorização de 50% do real em relação ao dólar nos últimos quatro anos tornou o país mais competitivo como destino de investimentos.

Hugh MacArthur, líder da área global de private equity da consultoria de gestão Bain & Co., concorda, dizendo que muitos fundos hesitaram em investir no Brasil durante os últimos 12 meses devido à expectativa de novas quedas do real.

“Agora, o risco de desvalorização é geralmente visto como menor e, em 2015, esperamos um aumento nas atividades de firmas de private equity mirando setores menos cíclicos e menos vinculados ao consumo, como saúde [e] serviços financeiros”, diz ele.

Carlos Garcia, um dos sócios-diretores da Victoria Capital Partners, empresa de investimentos com foco na América Latina, diz que os preços dos ativos caíram com a redução das expectativas de crescimento, somada a um menor volume de capital fluindo para a região, e que a velocidade do declínio “se acelerou nos últimos meses”.

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A Victoria — que tem escritórios em Buenos Aires, São Paulo e Bogotá — se concentra em negócios no Brasil, Argentina, Colômbia, Peru e Chile.

Apesar da série de notícias políticas e econômicas negativas no Brasil — incluindo o encolhimento do produto interno bruto, o rebaixamento da nota de crédito para grau especulativo e um escândalo de corrupção —, os investidores de private equity continuaram a apostar no país. Segundo dados da Lavca, os investidores participaram de US$ 2,28 bilhões em negócios de private equity no primeiro semestre de 2015, ante US$ 1,89 bilhão no mesmo período do ano passado.

Os dados da Lavca mostram um número crescente de negócios na América Latina como um todo, com US$ 3,58 bilhões utilizados em aquisições no primeiro semestre de 2015, ante US$ 2,57 bilhões um ano atrás. No fronte da captação, os chamados parceiros limitados (que não têm responsabilidades na gerência do negócio) investiram US$ 4,27 bilhões em fundos latino-americanos na primeira metade do ano, continuando o impulso que gerou uma captação recorde de US$ 10,4 bilhões em 2014 todo.

A Bain informou, em seu relatório de 2015, que o capital disponível alocado para o Brasil cresceu à medida que fundos internacionais como Actis, Carlyle Group, General Atlantic, TPG Capital e Warburg Pincus abriram escritórios no país e saíram ativamente à caça de negócios.

No início de 2014, fundos de private equity tinham acumulado US$ 4,7 bilhões em capital comprometido destinado especificamente a investimentos no Brasil. Além disso, uma parte dos outros US$ 6,6 bilhões alocados para a América Latina provavelmente também acabará no Brasil, afirma a Bain.

Investidores de peso têm feito negócios no país. Em abril, o Carlyle Group investiu US$ 593 milhões na compra de uma fatia minoritária da operadora de hospitais Rede D’Or São Luiz SA e, em agosto, adquiriu a administradora de planos de saúde e assistência Tempo Participações SA por US$ 169 milhões, segundo a provedora de dados Dealogic Ltd. Em maio, o GIC Pte Ltd., fundo soberano de Cingapura, pagou US$ 508 milhões por uma fatia da Rede D’Or.

A Advent International, que no ano passado captou US$ 2,1 bilhões no maior fundo com foco na América Latina já levantado até hoje, anunciou, em março, sua intenção de comprar a Faculdade da Serra Gaúcha, um grupo educacional de capital fechado, e de adquirir uma participação de 13% na rede de diagnósticos médicos Fleury SA, em setembro.

Uma pessoa próxima à Advent diz que a firma americana está acompanhando o Fleury desde o ano passado, quando a empresa, que tem ações negociadas na Bovespa, divulgou que as negociações para a venda de uma fatia de 41,2% à Gávea Investimentos, pertencente ao banco americano J.P. Morgan Chase & Co., haviam fracassado.

Embora a cotação das ações do Fleury tenha se mantido praticamente estável durante os últimos 12 meses, a desvalorização do real levou o valor de mercado da empresa a aproximadamente US$ 670 milhões, cerca de 65% menor que mais de um ano atrás, quando as negociações com a Gávea estavam em andamento.

A espera também fez com que a Advent não tivesse o trabalho de integrar as aquisições que o Fleury fez do Labs D’Or, em 2011, e da Papaiz Associados, de diagnósticos dentais, em 2012.

“A empresa está muito mais madura e sólida que em 2013”, diz uma pessoa a par da situação.

Algumas firmas de private equity que atuam no Brasil afirmam que está mais fácil competir por negócios agora que as empresas enfrentam escassez de crédito. “Nos bons tempos, os empresários não queriam levantar capital com venda de participações porque não queriam que seu patrimônio fosse diluído”, diz Marcelo Hallack, sócio do banco BTG Pactual, que faz investimentos de private equity através de sua unidade Merchant Banking. “Entretanto, quando o dinheiro fica escasso, essa questão tende a desaparecer,” diz ele.

O acesso a capital está encolhendo no Brasil com o contínuo crescimento do custo dos empréstimos. A taxa Selic subiu para 14,25% ao ano em julho, ante 7,25% 18 meses atrás.

Os problemas macroeconômicos do país também afetam as firmas de private equity ao prejudicar as empresas que fazem parte de seus portfólios.

O BTG Pactual informou que sua joint venture com a Deep Sea Supply PLC é um exemplo. A empresa fornece embarcações para o suprimento das plataformas para a Petrobras.

“Esse investimento foi duplamente afetado tanto pela queda dos preços do petróleo como pelos eventos específicos da Petrobras, que resultaram em altos níveis de alavancagem e um corte significativo nos investimentos de capital planejados”, diz Hallack.

Ele diz, porém, que outros ativos no portfólio tiveram um bom desempenho porque seguiram a premissa de que conseguiriam crescer independentemente da expansão da economia brasileira. A empresa de estacionamentos Brazilian Parking Co., por exemplo, é resistente à crise, “particularmente em países como o Brasil, com uma infraestrutura de transporte público inferior”. A Rede D’Or, na qual o BTG Pactual também tem uma fatia, deve ter um desempenho superior na recessão atual devido à rapidez do envelhecimento da população brasileira, acrescenta Hallack.

A Victoria fez cinco investimentos no Brasil e no Chile no ano passado, em uma série de setores, desde empresas voltadas ao mercado local — incluindo iluminação e mídia doméstica — até exportadoras de milho, sementes de soja e materiais de construção. Mas a firma de private equity ainda não fechou nenhum negócio neste ano.

“Em 2015, até o momento, não investimos em nada ainda, [mas] não porque não quisemos”, diz Garcia, da Victoria. “Estivemos perto de fazer alguns poucos investimentos, mas a volatilidade intensa nos levou a fazer uma pequena pausa no processo.” Por AMY OR Leia mais em thewallstreetjournal 02/10/2015


02 outubro 2015



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