A Petrobras quer vender US$ 13,7 bilhões em ativos em um momento em que as investigações de corrupção mantêm a empresa fora do mercado internacional de dívida. O histórico sugere que a tarefa não será fácil.
A petroleira descumpre suas metas de desinvestimento desde 2011 e seus executivos têm reconhecido no passado a falta de experiência para a execução da medida em uma empresa acostumada às expansões. Desde então, o crescente escândalo de corrupção na indústria petrolífera do Brasil e a queda no preço do petróleo estão empurrando as avaliações para baixo, disse Marcel Kussaba, da Quantitas Asset Management.
"O número parece mais um 'o que gostaríamos de fazer' do que o que é possível fazer", disse Kussaba, que ajuda a administrar R$ 16 bilhões em ativos na gestora com sede em Porto Alegre. "Os ativos de petróleo neste momento valem menos, a receita da indústria é menor".
A Petrobras, que também está reduzindo investimentos, busca avaliar a proporção dos prejuízos decorrentes de um escândalo no qual os executivos da empresa são acusados de aceitar subornos de construtoras e, em troca, conceder contratos de construção inflados. A investigação, batizada de Operação Lava Jato, está atrasando a divulgação dos resultados financeiros auditados da empresa e, por outro lado, impedindo-a de vender bonds no exterior.
"No passado, a Petrobras buscou o melhor negócio possível por seus ativos", disse T.J. Conway, gerente de pesquisa e assessoria da Energy Intelligence Group, por telefone, de Washington. "Se eles continuarem fazendo isso e não reconhecerem que este é um mercado favorável ao comprador, isso pode levar a alguns desafios no processo de venda".
Campos de petróleo
Embora a empresa controlada pelo governo até o momento não esteja especificando o que planeja vender, os ativos que provavelmente seriam mais fáceis e lucrativos de desinvestir -- os grandes campos de petróleo ao longo da costa do Brasil -- provavelmente estão fora da lista devido à sua importância estratégica para o Estado, disse Conway.
A venda dos direitos para esses campos seria o melhor caminho de reforçar o balanço e enviar uma mensagem positiva aos mercados, disse Paulo Bilyk, diretor de investimento da Rio Bravo, que tem R$ 10 bilhões em ativos sob gestão.
"Esta seria, para o propósito de maximizar os efeitos macroeconômicos, a melhor decisão a tomar", disse Bilyk em entrevista em São Paulo. "Pode-se ganhar um bom dinheiro com isso. Pode-se também criar uma imensa concorrência. A venda dos direitos provavelmente criaria um novo e enorme interesse no Brasil".
Primeira vez
No dia 2 de março, a Petrobras anunciou planos de levantar US$ 13,7 bilhões por meio de desinvestimentos em 2015 e 2016, montante que representa um terço de seu valor de mercado. O valor também é maior do que a meta anterior de vender até US$ 11 bilhões até 2018. A assessoria de imprensa da empresa no Rio não forneceu mais comentários a respeito do processo quando procurada pela Bloomberg News.
A venda de ativos não está no DNA de uma empresa que começou como importadora de combustível, nos anos 1950, e depois expandiu a produção no Brasil e no exterior em um esforço para abastecer suas próprias refinarias.
A Petrobras iniciou um programa de desinvestimento só em 2011 quando descobriu o maior grupo de depósitos offshore deste século e procurou se desfazer de US$ 13,6 bilhões em operações de retorno mais baixo. Os recursos decorrentes das vendas de ativos totalizaram US$ 4,5 bilhões até o segundo trimestre de 2014, segundo comunicados financeiros da empresa. Em novembro, a Petrobras concluiu a venda de ativos no Peru por US$ 2,2 bilhões depois de impostos e taxas.
"A Petrobras é uma empresa que cresceu por meio de aquisições", disse a ex-presidente da empresa, Maria das Graças Foster, a analistas em março de 2013, explicando o baixo nível de desinvestimento. "É a primeira experiência da Petrobras com desinvestimentos".
Estágios iniciais
O plano de desinvestimento está nos estágios iniciais e é improvável que a empresa venda qualquer de seus ativos brasileiros ainda no primeiro semestre de 2015, disse uma fonte com conhecimento direto do processo à Bloomberg News. Advogados da petroleira estão revisando uma lista de potenciais desinvestimentos, enquanto a empresa avalia as opções comerciais e as condições de mercado, disse a fonte, que pediu anonimato porque a informação é privada.
A petroleira disse no comunicado de 2 de março que a meta de US$ 13,7 bilhões é uma "estimativa otimista" que pode mudar com a oscilação do câmbio e dos preços do petróleo.
Os possíveis ofertantes provavelmente estarão mais interessados em ativos brasileiros de exploração e produção e na rede de distribuição de combustível, disse Kussaba.
Os ativos da unidade de gás e energia da Petrobras deverão responder por 40 por cento das vendas, com exploração e produção e os ativos de abastecimento representando 30 por cento cada, disse a empresa no comunicado de 2 de março.
A política do Brasil de exigir que os bens e serviços sejam comprados de fornecedores locais pode desencorajar potenciais compradores, disse Bob Fryklund, vice-presidente da firma de consultoria de energia IHS CERA Upstream Research, de Cambridge, Massachusetts, EUA.
"O fator custo Brasil ainda está aí", disse ele em entrevista por telefone. "É preciso considerá-lo ao buscar onde investir o dinheiro".Título em inglês: Petrobras Battles Buyer's Market in Asset Dump: Corporate Brazil Juan Pablo Spinetto e Sabrina Valle (Bloomberg) Leia mais em Bol.Uol 05/03/2015
06 março 2015
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sexta-feira, março 06, 2015
Compra de empresa, Desinvestimento, Energia, Plano de Negócio, Tese Investimento, Transações MA, Venda de Empresa
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Ruy Moura
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