13 janeiro 2017

Setor sucroalcooleiro sai do radar das multinacionais

Os estrangeiros estão presente direta ou indiretamente em metade dos dez maiores grupos em operação no País

As multinacionais reduziram seu apetite no setor de açúcar e álcool no Brasil. Responsáveis por ajudar a impulsionar a expansão do setor entre 2003 e 2010, período marcado pela retomada do consumo de etanol com os carros flex e a promessa de que o combustível renovável se tornaria uma commodity global, tradicionais indústrias do País e novos investidores fizeram aportes estimados em cerca de R$ 15 bilhões para construção de usinas, fusões e aquisições nesse segmento.

Empolgadas com o potencial mercado que se abria para o consumo do etanol, grandes produtoras de grãos – como as tradings ADM, Bunge, Cargill e Louis Dreyfus – fizeram pesadas apostas e inflacionaram o setor com a compra de usinas e a construção de novas unidades, incentivando outros grupos estrangeiros a investir no setor no País, como a indiana Shree Renuka, uma das maiores produtoras de açúcar da Índia, fundos de investimentos e até petroleiras gigantes, como Shell (sócia da Cosan), BP e a própria Petrobrás.

Até então, dominado por tradicionais usineiros do País, o setor mudou de mãos e abriu novas fronteiras fora de São Paulo, maior Estado produtor.

O capital estrangeiro responde por uma participação relevante da produção de cana do País – cerca de 30% -, mas deve reduzir esse porcentual, uma vez que o setor continua mergulhado em uma forte crise, que provocou o fechamento de 80 unidades produtoras levou boa parte das usinas a pedir recuperação judicial.

Os estrangeiros estão presente direta ou indiretamente em metade dos dez maiores grupos em operação no País.

Frustração

“O boom de investimentos deu um novo fôlego e cara nova ao setor. Mas muitos investidores estrangeiros acharam que poderiam importar a gestão de suas matrizes para o negócio e se deram mal”, disse Júlio Maria Martins Borges, sócio consultoria JOB Economia.

“As tradings de grãos e gigantes petroleiras vieram com a promessa de expansão, que não se concretizou. A americana ADM (que vendeu sua usina e projetos para duas unidades em 2016) saiu, a indiana Renuka entrou em recuperação judicial (e não tem interessados no leilão de sua usina) e a petroleira BP estagnou”, afirmou Borges.

Fontes do mercado financeiro afirmaram ao Estado que grandes grupos só não saem do negócio porque não há comprador, citando a Bunge e a Louis Dreyfus, dona da Biosev no País. “As duas estão entre as maiores tradings globais, mas não tiveram o resultado esperado na produção de açúcar e etanol”, disse uma fonte de banco.

Para Plinio Nastari, da Datagro, outra importante consultoria do setor, enquanto não houver transparência de competitividade do etanol com a gasolina, esse segmento não vai ter o retorno esperado.

Antonio de Padua Rodrigues, diretor da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), disse que há perspectivas de melhora para o setor com a recuperação dos preços internacionais do açúcar. No entanto, lembrou que 50% da safra de cana do País é destinada à produção de etanol, que precisa de uma política que garanta estabilidade ao negócio. “O programa Renova Bio (lançado pelo governo federal em dezembro) promete dar um fôlego”, disse.

Com a crise que já perdura há pelo menos cinco anos, a expectativa era de que os preços dos ativos no setor recuassem atraindo novos investidores. “De fato, o valor das usinas caiu, mas ainda ninguém se arrisca a entrar no setor”, afirmou um executivo que reestrutura empresas no País. “Podemos ver a entrada de fundos especializados em empresas problemáticas, mas grandes negócios serão raros no curto prazo.”

A mais recente transação envolvendo o aumento de participação de grupo estrangeiro ocorreu em dezembro, com a venda da fatia da Petrobrás na Guarani, do grupo francês Tereos. A estatal também fez uma reestruturação societária para sair do grupo São Martinho. O grupo alemão Suedzucker informou em novembro que o Brasil é alvo de possível aquisição, mas ainda não fez movimento nesse sentido. “A chinesa Cofco (que incorporou as usinas da Noble Group após uma aquisição global) também poderá expandir, mas não é o momento”, disse outra fonte.

Procurada, a Bunge reiteirou a declaração dada pelo presidente global da companhia, Soren Schroder, em dezembro. Segundo ele, “a venda dos negócios de açúcar no Brasil não é o caminho certo, embora o setor esteja entrando num ciclo ascendente”. A Dreyfus informou, em nota, que “não tem planos de vender a Biosev”. Já a BP disse que o Brasil é estratégico, continua investindo em suas usinas e entende que os biocombustíveis têm papel fundamental dentro da matriz energética. A Cofco não retornou os pedidos de entrevista. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo. Por Estadão Leia mais em EXAME 12/01/2017 


13 janeiro 2017



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