13 outubro 2015

BlackRock entra na onda da geração Y e quer fazer o bem

Tudo começou como uma conversa informal entre dois funcionários de uns 20 anos sobre a intersecção entre dinheiro e idealismo. Ambos tinham lido sobre a prática de investir em companhias que visam fazer o bem e, mesmo assim, geram lucros.

Na época, há quatro anos, o chamado investimento de impacto ainda era bem novo e os funcionários, Zaneta Koplewicz e Robert Morris, perceberam que a companhia em que trabalhavam, a BlackRock Inc., maior gestora de recursos do mundo, não tinha nada nem parecido. Eles também repararam outra coisa: pessoas como eles - membros instruídos da geração Y - se sentiam profundamente atraídos por esse tipo de investimento. Se isso estava se tornando mais viável, havia um nicho de mercado a ser preenchido.

Assim começou uma campanha internacional, que durou três anos e envolveu 28 pessoas em videoconferências entre seis escritórios durante madrugadas e fins de semana, e que produziu um relatório de 40 páginas destinado ao comitê executivo internacional da empresa que foi elogiado pelo CEO Laurence D. Fink em pessoa.

Nesta terça-feira, a BlackRock lança seu primeiro fundo mútuo dos EUA que visa gerar um impacto. Suas dimensões são ínfimas em comparação com os US$ 4,7 trilhões que a BlackRock administra. (Um fundo semelhante que a empresa abriu em agosto na Europa já atraiu US$ 200 milhões até agora). Mas, no mundo incipiente do investimento de impacto - financiar empresas rentáveis que tentam fazer o bem social e ambiental -, esse fundo é um marco significativo.

Maior demanda

"Quando vemos organizações como a BlackRock, a Bain Capital, a Zurich e a AXA, entre outras, entrando no mercado de investimento de impacto, elas são conduzidas pelo que estão observando: um aumento na demanda de seus clientes, tanto institucionais quanto individuais", disse Amit Bouri, CEO e um dos fundadores da Global Impact Investing Network.

Os processadores de dados da BlackRock projetaram modelos para medir o retorno financeiro e o efeito societário potenciais de determinadas companhias de capital aberto. Especialistas em números que trabalhavam na Google Inc., na NASA e na Netflix Inc. vão analisar diariamente dados públicos e criar algoritmos para detectar investimentos e acompanhar os resultados. Eles se concentrarão nas companhias que utilizam tecnologias sustentáveis para o meio ambiente, que revelam um alto nível de satisfação entre os funcionários ou que realizam pesquisas para erradicar doenças. Empresas envolvidas em polêmicas éticas ou com um histórico litigioso serão evitadas.

De certo modo, esse tipo de investimento não é novo - e teve um sucesso limitado -, mas ele evoluiu de criticar setores, como o tabaco e os jogos, a fomentar resultados positivos.

Essa nova abordagem surge da decepção cada vez maior das pessoas com a política, disse Brad M. Barber, professor de finanças da Universidade da Califórnia em Davis.

Frustração política

"As pessoas estão cada vez mais frustradas com a incapacidade de nosso processo político para lidar com diversas questões, como a mudança climática e a desigualdade de renda", disse Barber. "Então, uma maneira de sentir que você está pelo menos tentando contribuir com a discussão é investir de um modo que seja coerente com suas crenças pessoais".

O grupo popular de Koplewicz consultou os maiores clientes da BlackRock em 2012 para coletar informações para a proposta e descobriu que muitos deles - escritórios familiares, fundações, instituições de doação e pensões - já dedicavam dinheiro a investimentos de impacto ou estavam pensando em fazê-lo.

"Assim surgiu a ideia", disse Koplewicz, 31. "Muitas vezes a filantropia não basta, então é necessário infundir uma abordagem mais baseada no mercado para gerar os resultados desejados".

O BlackRock Impact U.S. Equity Fund vai investir principalmente em mais de 400 companhias que estão no Russell 3000 Index. Ele excluirá as indústrias de tabaco, armas e bebidas alcoólicas, e buscará ações que privilegiem a saúde, o ambiente e o tratamento dos trabalhadores, de acordo com um fato relevante. As empresas que investigam doenças serão medidas pelo número de vidas alcançadas pelo trabalho delas.

Para aumentar as chances de sucesso financeiro, nem todas as companhias do fundo serão benfeitores; algumas têm um impacto neutro. E o fundo, que visa gerar retornos ás taxas do mercado, continua desenvolvendo para os investidores mecanismos que refletem o impacto que o fundo está gerando sobre a sociedade na comparação com o Russell 3000 Index como um todo.

A BlackRock começa a vender ativamente o fundo hoje. Título em inglês: 'BlackRock Tries Do-Good Investing as Millennials Build Clout (1)'  Margaret Collins e Sangwon Yoon (Bloomberg)  Leia mais em Bol.Uol 13/10/2015

13 outubro 2015



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