Com quase todos os indicadores do primeiro trimestre já conhecidos, já é possível dizer que o primeiro Produto Interno Bruto (PIB) que será divulgado já sob um novo governo em exercício poderá ser ainda pior do que previam inicialmente os analistas. Na última sexta-feira, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) mostrou contração de 1,44% no primeiro trimestre de 2016 na comparação com o fim de 2015, no pior resultado desde 2009. Isso porque o resultado do mês de março foi um recuo de 0,36%, índice que se mostrou pior que a mais pessimista das projeções colhidas pelo Valor Data, que era de -0,3%. Foi o 15º mês seguido de queda no indicador, que vinha de um recuo de 0,33% em fevereiro (revisado de queda de 0,29%).
Nos 12 meses encerrados em março, o IBC-Br aponta retração de 5,26% na série sem ajuste (baixa de 5,11% no dado ajustado). Devido às revisões constantes do indicador, o IBC-Br medido em 12 meses é mais estável do que a medição mensal, assim como o próprio PIB. Em comparação com março de 2015 a baixa é de 6,31% na série sem ajuste (6,64% com ajuste).
Chamado de "PIB do BC", o IBC-Br tem metodologia distinta das contas nacionais calculadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na análise do banco Fator, a retração de 1,44% do IBC-Br nos primeiros três meses de 2016 indica que o PIB no período foi muito semelhante ao observado no último trimestre de 2015, quando o indicador oficial do IBGE recuou 1,4%. A avaliação é dos economistas José Francisco de Lima Gonçalves e Júlia Araújo.
O índice do BC teve em março queda mais forte que o projetado pelo Fator (-0,1%) e pela estimativa média de 18 instituições ouvidas pelo Valor Data (-0,05%). "O dado do Banco Central, como uma 'proxy' do PIB, continua pior do que o previsto para essa variável. Nossa projeção, até o momento, indica contração de 4% no produto de 2016", afirmam Gonçalves e Júlia.
Com o resultado de março, a contração no acumulado em doze meses piorou de 4,66% para 5,26%. Em março, embora os dados da indústria tenham surpreendido positivamente (alta de 1,4%), os serviços (-5,9%) e o comércio (-0,9%) ainda vieram mais negativos que o esperado, o que deve pesar para o PIB do trimestre.
Apesar do quadro bem pessimista desenhado pelo IBC-Br na sexta-feira, outro indicador prévio do PIB, divulgado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) apontou uma melhora da economia no fim do primeiro trimestre, que levaria a um quadro bem melhor para o período do que o antecipado pelo índice do BC. Entre fevereiro e março, na série com ajuste sazonal do Monitor do PIB da FGV, a economia brasileira deve ter crescido 3%, o que levaria o trimestre a mostrar recuo de apenas 0,3%.
O dado, no entanto, é excessivamente otimista na avaliação da consultoria Pezco. O economista Helcio Takeda diz que as retrações registradas no comércio e em serviços tornam improvável que o número positivo previsto pela FGV se concretize. "Olhando os dados, não faz sentido um crescimento tão forte em março", disse Takeda.
A diferença de resultados entre os indicadores da FGV e do BC, é mais uma questão metodológica, embora nos últimos trimestres os resultados tenham sido próximos. O Monitor do PIB é ajustado ao PIB do IBGE sempre que há mudanças metodológicas e a cada trimestre divulgado. Recentemente o BC também fez mudanças metodológicas no IBC-br.
Para o coordenador do Monitor do PIB, Claudio Considera, é mais importante analisar qual a direção da economia para os próximos meses. Para ele, mesmo com ações rápidas do novo governo, a economia brasileira ainda tem um carregamento estatístico de 2,5 pontos percentuais negativo para este ano. "Ou seja, se nada acontecesse, nem para cima, nem para baixo [na atividade], a economia ainda cairia 2,5% este ano", afirmou. Na avaliação do especialista, não é possível melhora imediata na economia este ano, nem mesmo com a perspectiva de novo governo. Valor Econômico - Leia mais em abinee 16/05/2016
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