16 maio 2016

Recessão econômica acerta em cheio as farmácias pequenas

No setor de farmácias e drogarias, em que as grandes redes tiveram alta de 13,3% no primeiro trimestre deste ano, quem parece pagar a conta da crise econômica são as pequenas e médias. Com perdas expressivas, as independentes reclamam da dificuldade de competir nos preços, de conseguir crédito, e dos tributos.

A gravidade da situação chegou ao ponto de o dono da farmácia Maxifarma, Edenir Sandona, afirmar que: "Quando conseguimos fechar o mês no azul é uma glória". A empresa, localizada em Curitiba (PR), terminou o ano passado com uma retração de 15% no faturamento, em comparação com 2014. Para este ano o cenário deve continuar nebuloso. "Tivemos resultados parecidos com os de 2015 neste primeiro trimestre. Não vejo nenhuma perspectiva de mudança", afirma.

Sandona não é o único que reclama da saúde financeira dos negócios. Na realidade, o cenário se repete em outras farmácias ouvidas pelo DCI. A Interdroga, localizada na capital paulista, teve um recuo de 5% no volume de vendas em 2015; e a Pirapora, em Jundiaí (SP), também afirma ter tido uma queda de cerca de 5%.

Segundo os empresários, tem pesado nos resultados principalmente a falta de escala, que prejudica na negociação com os fornecedores. Em geral, as farmácias independentes são obrigadas a comprar de distribuidores. Isso, por si só, já encareceria o preço das mercadorias. Aliada ao fato dessas empresas comprarem em quantidades muito menores, o resultado é ainda pior.

"Sentimos uma grande dificuldade em conseguir competir nos preços. As grandes redes costumam ter centros de distribuição próprio, o que dá um diferencial muito grande", afirma o dono da Pirapora, Julio Pedroni. O proprietário da Interdroga, Marcos de Souza, concorda. "A maior dificuldade é o volume de compras. Para conseguir uma boa negociação é preciso ter um grande volume e uma constância", diz o empresário.

Associativismo
Diante desse cenário, as drogarias pequenas têm se mobilizado e tentado encontrar saídas para a situação. Uma delas é a união nas chamadas redes associativistas, modelo que vem ganhando força nos últimos anos.

De acordo com a Federação Brasileira de Redes Associativistas e Independentes de Farmácias (Febrafar), existem atualmente milhares de redes nesses moldes. Apenas associadas à entidade são 49, espalhadas por todas as regiões do Brasil e englobando um total de 8,8 mil farmácias independentes.

O funcionamento das redes é simples, e traz vantagens consideráveis para os membros. O presidente da entidade, Wilson Galli, explica que há uma estrutura nas sedes dessas associações que concentra, além do poder de compra - viabilizado pelo volume - um amplo apoio aos associados, que vai desde treinamentos oferecidos aos integrantes à assessoria jurídica, contábil, tributária e sanitária. "São aspectos que a pequena farmácia tem muita dificuldade em conseguir sozinha", diz.

A drogaria Pirapora faz parte de uma dessas redes, junto com mais 72 lojas da região de Jundiaí. Segundo Pedroni, cada uma das farmácias tem sua própria administração e a grande vantagem consiste na negociação mais forte com os fornecedores. "Nossa associação firma convênios com as indústrias da região, e, com isso, conseguimos preços melhores em alguns produtos", diz o empresário.

O dono da Interdroga, De Souza, ainda não se uniu a nenhuma dessas redes, mas diz que não descarta a possibilidade no futuro, considerando as vantagens do modelo.

Tributação
Além da melhor negociação com os fornecedores, a assessoria jurídica e tributária é outro aspecto de extrema importância que ganha viabilidade pelas redes associativistas, já que a cobrança dos tributos é uma reclamação recorrente das farmácias independentes.

A principal queixa está relacionada a implantação da substituição tributária, sistema que antecipa a cobrança do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), que passa a ser coletado direto da indústria, e repassado para o varejo na hora da venda. De acordo com o presidente da Associação Brasileira do Comércio Farmacêutico (Abcfarma) e advogado, Renato Tamarozzi, o sistema é muito prejudicial para as farmácias pequenas, e praticamente anula os benefícios do Simples Nacional (SN).

"Antes era mais justo porque a tributação era em cima de um valor real. Hoje é uma ficção jurídica", diz Tamarozzi. "A tributação é feita com base em uma pesquisa, pegando uma média de margem de lucro das empresas do setor", complementa. Segundo o advogado, isso faz com que as pequenas empresas tenham que pagar uma alíquota maior do que a cobrada antes da implementação do sistema.

Outro aspecto prejudicial para as independentes, com a substituição tributária, é que o ICMS dos produtos vencidos ou que não foram vendidos acaba sendo cobrado da mesma forma, já que ele é pago antes da venda para o consumidor final. "Mesmo tendo direito de restituir esse imposto, as empresas deixam de lado pela dificuldade do processo", diz Tamarozzi. "São valores pequenos, mas que juntando durante um período acabam tendo uma relevância", finaliza o advogado.

A dificuldade em conseguir crédito com os bancos é outro aspecto que segura o crescimento dessas empresas, de acordo com De Souza, da Interdroga. "As farmácias independentes têm um desempenho pior do que as grandes por conta do investimento alto que elas fazem , através de crédito e captação de recursos. As pequenas não têm essa condição", diz.

Por todos esses aspectos, a grande preocupação das independentes atualmente parece ser uma só: cortar gastos. "A saída é cortar despesas, é a única forma de conseguir sobreviver. Procurar comprar por um preço menor e fazer uma melhor gestão da empresa", diz Sandona. DCI - Leia mais em datamark  13/05/2016

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