30 novembro 2015

Empresas dos EUA desistem de abrir o capital e preferem ser vendidas

A Petco, varejista de produtos para animais de estimação, chegou a planejar uma oferta pública inicial de ações na bolsa dos Estados Unidos, mas acabou sendo vendida por US$ 4,6 bilhões para a firma de private equity CVC Capital Partners e um fundo canadense de pensão. ENLARGE
A Petco, varejista de produtos para animais de estimação, chegou a planejar uma oferta pública inicial de ações na bolsa dos Estados Unidos, mas acabou sendo vendida por US$ 4,6 bilhões para a firma de private equity CVC Capital Partners e um fundo canadense de pensão.

Empresas americanas estão desistindo de abrir o capital e optando por ser vendidas no ritmo mais acelerado dos últimos três anos, o que destaca a diferença atual entre a volatilidade das bolsas e a força do mercado de fusões e aquisições nos Estados Unidos.

Enquanto o montante de fusões e aquisições dispara à medida que as empresas buscam ganhar escala e impulsionar os lucros num cenário de fraqueza econômica, a grande maioria dos investidores prevê que os mercados continuarão voláteis por uma série de razões. Essa volatilidade, que é normalmente ruim para as aberturas de capital, é o resultado da alta de juros que o Federal Reserve, o banco central americano, vai provavelmente fazer em dezembro, de avaliações de ações acima de suas médias históricas e de preocupações com o terrorismo e outros riscos geopolíticos.

Como consequência, muitos candidatos à abertura de capital estão recebendo ofertas melhores de potenciais compradores, incluindo rivais estratégicos e empresas financeiras.

O valor em dólar das ofertas públicas iniciais de ações nas bolsas americanas caiu 63% neste ano ante 2014, para um total de US$ 36 bilhões. Ao mesmo tempo, mais de US$ 2,3 trilhões em acordos de fusões e aquisições foram anunciados neste ano, um valor recorde que está 46% acima do total de 2014.

“Quando os donos da empresa vendem, eles tiram os riscos do mercado da mesa, ao contrário de uma abertura de capital. Isso é muito atraente nesse momento”, diz Pete Lyon, um dos diretores de serviços de banco de investimento para as Américas do banco Goldman Sachs Group Inc.

Pelo menos 18 empresas desistiram de abrir capital na bolsa dos EUA neste ano porque estão sendo adquiridas, segundo uma análise dos dados da Dealogic feita pelo do The Wall Street Journal, número que representa cerca de 10% das empresas que solicitaram abertura de capital e estrearam nas bolsas ou foram vendidas em 2015.

É a maior proporção desde 2012 e quase o dobro da registrada em 2014, ano que apresentou o maior número de aberturas de capital desde que o boom da internet terminou, mostra a análise do WSJ.

Os números desde 2012 podem ainda ser maiores devido aos pedidos confidenciais de abertura de capital. Naquele ano, uma nova lei entrou em vigor, permitindo que empresas com menos de US$ 1 bilhão de receita pudessem solicitar a abertura de capital confidencialmente.

A Petco Holdings Inc., varejista de produtos para animais de estimação, concordou neste mês em ser vendida por cerca de US$ 4,6 bilhões para a empresa de private equity CVC Capital Partners Ltd. e para o fundo de pensão canadense CPPIB. No início do ano, a Petco havia protocolado um pedido para abrir o capital, buscando arrecadar cerca de US$ 4 bilhões, conforme relatou o WSJ.

A Interactive Data Corp., fornecedora de dados financeiros, e a cervejaria Ballast Point Brewing & Spirits Inc. também informaram que foram vendidas depois de solicitar uma oferta pública inicial de ações. Outras empresas também estão cancelando sua abertura de capital mesmo sem a opção de ser vendidas. A rede de supermercados Albertsons Cos. e o banco LoanDepot Inc. recentemente adiaram suas estreias na bolsa, citando condições de mercado desfavoráveis.

Os volumes em dólar resultantes de aberturas de capital e de fusões e aquisições divergiram dessa forma — caindo numa categoria em relação ao ano anterior e subindo na outra — em somente sete dos últimos 20 anos, revelam os dados da Dealogic. O fraco desempenho de algumas estreias recentes na bolsa ajudou a provocar algumas desistências. Até 20 de novembro, as ações das empresas que abriram o capital neste ano caíram em média 2% em relação ao preço de estreia, comparado com um ganho de 19% nas ofertas de 2014 até o fim do ano, segundo a Dealogic.

Isso assustou muitos investidores, principalmente com o aumento da volatilidade das bolsas nos últimos meses, que dificultou ainda mais a previsão do desempenho de aberturas de capital no curto prazo.

Como resultado, os investidores estão exigindo grandes concessões de preços das empresas. Nas 20 aberturas de capital mais recentes até 20 de novembro, mais da metade foi precificada abaixo do intervalo projetado, mostram os dados da Dealogic. E o número de ofertas públicas iniciais de empresas de assistência médica e tecnologia, que geralmente têm um potencial de ganho maior, caiu 43% até 20 de novembro ante um ano atrás, segundo a Dealogic. “Abrir o capital agora não está tão animador”, diz David Rudow, analista sênior de ações da gestora de recursos Thrivent Asset Management.

O fraco desempenho das ofertas iniciais afetou especialmente os gestores de fundos ativos, que são os principais compradores em aberturas de capital. Muitos perderam terreno no mercado, num momento em que as estratégias “passivas” atreladas a índices ganham popularidade. Os investidores sacaram US$ 125 bilhões líquidos de fundos mútuos de ações nos EUA neste ano até o fim de outubro, segundo o Investment Company Institute, ante retiradas líquidas de US$ 33 bilhões no mesmo período de 2014.

Os gestores de fundos ativos estão como que “em greve para comprar ações estreantes”, diz Joseph Amato, diretor-superintendente e de investimentos da Neuberger Berman. Enquanto isso, as ações de empresas americanas de capital aberto que anunciaram acordos de compra acima de US$ 1 bilhão subiram uma média de 2% no dia seguinte ao anúncio, de acordo com a Dealogic, revertendo a queda média de 1% registrada nos últimos 20 anos.

É verdade que os ganhos com fusões e aquisições parecem estar caindo. A alta de 2% neste ano, por exemplo, é menor que a de 3% em 2014 e de 4% em 2013.

Também há indicações que os investidores estão começando a evitar a compra de mais títulos de dívida corporativos. Alguns grandes compradores de empresas tiveram que cortar os preços dos títulos de dívida que estavam vendendo.

Ainda assim, num momento em que o crescimento de receita é raro, as aquisições devem se manter populares.

“Estamos em um ambiente de baixo crescimento de receita para a maioria das empresas, e fusões e aquisições continuam sendo uma das melhores formas de aumentar os lucros, principalmente se elas podem criar sinergias e cortar custos com as fusões”, diz Chris Bartel, diretor de pesquisa global de ações da gestora Fidelity Investments.  Por TELIS DEMOS e  CORRIE DRIEBUSCH Leia mais em wallstreetjournal 30/11/2015

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