O Facebook pagou 19 bilhões de dólares pelo aplicativo de mensagens WhatsApp – mas ninguém sabe como e quando a conta vai fechar.
Zuckerberg: a compra do WhatsApp foi a 44ª em 10 anos de empresa.
Mark Zuckerberg transformou o Facebook em uma das empresas mais bem-sucedidas do mundo por teimosia. Recusou ofertas bilionárias para vender quando o negócio começava a decolar, se fez de desentendido quando perguntaram sobre lucratividade e manteve o controle de um déspota sobre a companhia, mesmo depois da abertura do capital na bolsa (ele é dono de 55% das ações com direito a voto).
O foco de Zuckerberg na missão de “dar às pessoas o poder de compartilhar e tornar o mundo mais aberto e conectado” é concentrado como os raios de sol através de uma lupa. Mas uma coisa Zuckerberg não fez na curta e espetacular história do Facebook: queimar dinheiro.
É por isso que a fortuna que ele aceitou pagar pelo WhatsApp, um simples aplicativo de troca de mensagens por celular, provocou em muita gente duas reações, uma seguida da outra. A primeira foi arregalar os olhos — 19 bilhões de dólares. Bilhões, com B. A segunda foi coçar a cabeça: o que é que ele pode ter visto no WhatsApp para justificar tanto dinheiro?
Empresas de tecnologia trocam de mãos o tempo todo. “Isso é parte fundamental do que é o Vale do Silício”, diz Donna Hitscherich, diretora do programa de private equity da Universidade Colúmbia, de Nova York. “Empresas vendidas permitem que os investidores de risco recuperem seu dinheiro com lucro, sem a necessidade de abertura do capital na bolsa.”
Isso garante a saúde de todo o ecossistema e se traduz em mais incentivo — e também mais dinheiro — para a inovação. A fabricante de equipamentos de rede Cisco já adquiriu 160 empresas e lidera o ranking do site CrunchBase, que acompanha esse tipo de movimentação. O Google vem em segundo lugar, com 141, seguido pela Microsoft, com 130, e pela IBM, com 116.
O WhatsApp foi a 44ª aquisição do Facebook em seus quase 10 anos de vida. Mas, no caso da empresa de Zuckerberg, quase todos os negócios foram “aquisicontratações”, como se diz no Vale do Silício. A ideia é “comprar os talentos, atrair os bons engenheiros”, afirma Lenny Grover, analista e fundador da FinToolbox, empresa que produz software para investidores.
Em muitos casos, os produtos ou serviços das companhias compradas simplesmente são abandonados. Um bom exemplo é o FriendFeed, arrematado pelo Facebook em 2007 por 47,5 milhões de dólares. Em tese, o serviço ainda existe, só que nunca mais foi atualizado.
O FriendFeed tinha apenas 12 funcionários, mas seu fundador, Bret Taylor, foi escolhido para a posição-chave de diretor de tecnologia do Facebook por três anos — até pedir demissão para abrir mais uma startup.
Cada funcionário do FriendFeed custou a Zuckerberg quase 4 milhões de dólares.
Cada funcionário do WhatsApp, quase 350 milhões. Por mais brilhantes que sejam, não foi por 55 cabeças que Zuckerberg pagou 10% do valor de mercado do Facebook. “É difícil entender a matemática”, diz Gene Munster, analista-chefe do setor de tecnologia do banco de investimento Piper Jaffray.
O WhatsApp é um serviço gratuito no primeiro ano e, a partir do segundo, custa apenas 99 centavos de dólar anuais. O crescimento no número de usuários é o mais rápido já visto, mas, mesmo que os atuais 465 milhões cheguem a 1 bilhão, todos pagantes, ainda falta um bom pedaço até que a conta da negociação se feche.
Ainda mais quando se lê o seguinte na página inicial do WhatsApp na web: “A publicidade nos faz correr atrás de carros e roupas, trabalhando em empregos que odiamos só para comprar m… de que não precisamos”.
A frase é de Tyler Durden, protagonista do filme Clube da Luta, e leva a um post intitulado “Por que não vendemos anúncios”. Nele, Jan Koum, fundador e presidente do WhatsApp, explica que seu objetivo com o aplicativo é “fazer o que a maioria das pessoas busca todos os dias: fugir da publicidade”.... Por Sérgio Teixeira Jr,
Leias mais em Exame 08/03/2014
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