21 março 2019

Luiza Trajano: “O propósito é a espinha dorsal de uma empresa”

Empresária se apresentou durante o CCLAC 2019, evento sobre capitalismo consciente realizado em São Paulo

Propósito, amor, respeito, intuição, muito trabalho e um tanto de fé. Essa é a receita do sucesso de Luiza Trajano, presidente do conselho de administração do Magazine Luiza. Ela sabe do que fala. Sua empresa, com quase mil lojas pelo país e uma presença digital invejável, faturou R$ 20 bilhões em 2018. Mesmo assim, reforça: “o propósito deve estar acima do dinheiro e do ego”.

Luiza se apresentou durante o “Capitalismo Consciente Latin-American Conference 2019”, evento que acontece em São Paulo. Durante sua apresentação, não falou somente do império fundado por seu tio e administrado por ela mesma ao longo das últimas décadas, mas discutiu a importância da humanização dentro do dia a dia de um negócio.

Na sua visão, respeito à diversidade, cuidado com a equipe, olhar com “carinho” para os clientes e se atentar às novas tecnologias foram elementos que fizeram a diferença na história do Magazine Luiza. Outro tópico de extrema relevância dentro da companhia é a questão das mulheres. “Vocês não sabem a revolução que foi uma mulher vir do interior entrar num mercado repleto de homens”, diz ela ao público presente.

Luiza é fundadora do Grupo Mulheres do Brasil, rede criada em 2013 por mulheres executivas, com o intuito de engajar a sociedade por meio do empreendedorismo feminino. Ao longo do painel, lembrou de situações marcantes na sua história. “Quando comecei, esperavam que as empresárias fossem bravas e usassem um determinado tipo de roupa. Mas eu mantive meu feminino. Eu não uso calça comprida para trabalhar. Segui meu coração, certa de que não podia perder minha essência”, diz.

Intuição, inclusive, é outra palavra mandatória para Luiza. Ao menos, foi o que garantiu à empresária a certeza de que estava no caminho certo. “Fui muito criticada quando comecei a me arriscar”, afirma. A saída foi se agarrar ao objetivo — e à fé — para continuar em frente. “Quando você sabe o que quer, fica mais fácil.”

Segundo a empresária, o que ela queria era ir além do lucro. “Também queria uma empresa que fosse boa para as pessoas e com propósito. O propósito é a espinha dorsal de uma empresa”, diz.

Das decisões arriscadas que diz ter tomado, cita dois exemplos: quando fez a transformação digital do negócio e uma parceria fechada com um fundo de investimentos. Alguns anos depois, pode-se dizer que a primeira decisão deu muito certo — são mais de R$ 4 bilhões em vendas nas plataformas digitais e nas lojas físicas.

A segunda, no entanto, serviu como aprendizado. Luiza não dá detalhes do caso, mas conta que o fundo havia aportado R$ 40 milhões no negócio. Segundo ela, o dinheiro ajudaria muito a empresa — e a família Trajano — naquele momento. A parceria, porém, não se mostrou frutífera. Os responsáveis pelo fundo começaram a mudar demais o negócio — e Luiza viu seu propósito se perdendo pelo caminho.

O que ela decidiu fazer? Cancelou o contrato e devolveu o aporte. Depois de 15 dias, viu o antigo Unibanco se interessar e investir no negócio. Dessa parceria, a Magazine Luiza colheu frutos que ela entende que jamais colheria se ainda tivesse com os primeiros investidores. “Querem saber uma regra de ouro? Os valores da empresa têm que estar nos sócios, não no papel”, afirma a empresária, sob aplausos da plateia.

Empresa de mulheres
Uma questão que Luiza não deixa passar em branco é o combate ao assédio que, segundo ela, “é um dos pontos mais fortes da empresa”. A empresária conta que, um ano atrás, o Magazine Luiza fez uma pesquisa com todos seus funcionários, a fim de saber se todos sabiam o que era considerado assédio sexual e/ou moral.

A partir das respostas, desenvolveu um programa de proteção às funcionárias — tanto no ambiente de trabalho, quando em ambientes pessoais. Durante esse período, surgiram a proibição da frase “é só uma brincadeira” e a campanha publicitária “Eu meto a colher sim”, em referência às mulheres que sofrem de violência doméstica. Além disso, a rede desenvolveu um aplicativo para mulheres denunciarem casos de assédio e, mensalmente, líderes se reúnem para discutir a questão.

“Mesmo assim, dois meses atrás, tivemos um gerente que agrediu sua esposa. Se isso acontece na minha empresa, onde eu batalho tanto, imagine lá fora?”, diz. No fim, insiste Luiza, é tudo sobre o tal do propósito. “Não pode ser só dinheiro. Essa vai ser a grande salvação das empresas.”.. Leia mais em epocanegocios 21/03/2019

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