Caixa já anunciou a intenção de abrir capital de 4 subsidiárias; gestora do BB pode seguir os mesmos passos
Em seu primeiro dia de trabalho na Caixa Econômica Federal, o novo presidente Pedro Guimarães anunciou a intenção de abrir capital de 4 subsidiárias do banco estatal. No dia seguinte, veio a notícia de que o governo Bolsonaro quer fazer o mesmo com a gestora BB DTVM e possivelmente outras subsidiárias do Banco do Brasil.
Enquanto isso, o ministro de Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, já falou em privatizar ou liquidar cerca de 100 estatais federais, incluindo subsidiárias do BNDEs (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e da Petrobras.
Freitas não especificou as subsidiárias analisadas ou o formato em que pretende privatizá-las. Ainda assim, em momento de euforia na bolsa de valores, é razoável prever que outras aberturas de capital, além das já mencionadas, já estejam em consideração.
Em nível estadual, o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, disse ser contra a privatização da Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae), mas não descartou um IPO da empresa “no futuro”.
O InfoMoney conversou com alguns analistas e gestores especialistas em mercado financeiro para entender o que esperar de cada um dos IPOs mais consolidados para ocorrer no governo Bolsonaro. Confira:
Caixa Seguridade
Provavelmente, o primeiro IPO dessa lista será o da Caixa Seguridade, anunciado já para 2019. A operação é potencialmente mais simples do que as demais porque o banco chegou a ensaiá-la: em 2015, a subsidiária ficou por um triz de abrir capital, mas o preço que o mercado aceitaria pagar não estava de acordo com as expectativas da empresa.
Especialistas divergem sobre a potencial euforia da chegada da seguradora na bolsa. Em tese, a operação poderia repetir a euforia que cercou o IPO BB Seguridade, a seguradora do Banco do Brasil que protagonizou o que foi, na época, a maioria abertura de capital da história da bolsa brasileira.
O problema são as dúvidas sobre a governança corporativa da Caixa, que, diferentemente do BB, não tem capital aberto. Carlos Daltozo, Head de Renda Variável da Eleven Financial, acredita que investidores, principalmente estrangeiros, podem desconfiar do papel pelo histórico de ingerência pública na CEF.
Por outro lado, há quem acredite que, no momento atual e com as mudanças de gestão do banco, o mercado está disposto a dar à empresa o benefício da dúvida. Por este ponto de vista, a estreia tem grande potencial graças à dicotomia entre o tamanho da operação geral e a de seguros. Com 90 mil clientes, a Caixa ainda vende número comparativamente reduzido de apólices, e há muito mercado que pode explorar via fidelização, diz o analista da XP Investimentos André Martins. (Leia mais aqui).
Daltozo estima que a Caixa Seguridade valha atualmente entre R$ 17 bilhões e R$ 21 bilhões. Para fazer este cálculo, levou em consideração um crescimento de lucro em 2019 de 8,7% e o múltiplo Preço/Lucro atual da BB Seguridade. (esse índice mede a relação entre o preço da ação e o lucro da empresa por ação). Comparativamente, a BB Seguridade vale atualmente R$ 56,7 bilhões, e o IRB, resseguradora estatal que abriu capitla em 2017, R$ 3,5 bilhões.
No IPO, porém, deve ser listada uma fatia entre 25% e 50% do capital da Caixa Seguridade. Com isso, a empresa deve levantar algo entre R$ 4,2 bi e R$ 10,5 bi para seu caixa.
BB DTVM
Assim como as subsidiárias da Caixa, a gestora BBDTVM tende a oferecer apenas uma parcela de suas ações ao mercado privado via abertura de capital. Não deve ser, portanto, totalmente privatizada. Hoje, a maior gestora do país vale mais de R$ 21 bilhões, informam analistas.
Para Rodrigo Glatt, sócio da GT Capital, essa abertura tem potencial para ser uma das maiores do ano. “O Brasil vai passar por um momento de movimento mais liberal nos próximos anos, e nada melhor do que um IPO de uma empresa grande como a gestora do Banco do Brasil para mostrar isso ao mercado”, opina.
Ajuda o fato de que o BB já tem experiência com IPOs de sucesso com a BB Seguridade. A holding chegou a dobrar em valor de mercado dois anos depois do IPO. Hoje, acumula alta de cerca de 60%, próxima à valorização do Ibovespa no mesmo período.
O ponto de atenção é a ausência de outras gestoras de fundos na bolsa brasileira. Glatt não vê paralelo nem mesmo com a Tarpon, que está em processo de fechar capital. A saída seria comparar a BBDTVM com outras gestoras de capital aberto no exterior, como a Blackstone e a Blackrock. Mas a operação de uma gestora estatal, focada em fundos de renda fixa, ainda é novidade.
Caixa Cartões
Também esperado ainda para este ano, graças às falas do presidente da Caixa, o IPO da subsidiária de cartões do banco pode ser ofuscado pela enorme competitividade do setor de pagamentos em geral.
Não há na bolsa brasileira atualmente uma empresa exclusivamente de cartões, mas o cenário dos meios de pagamento pode ser estudado por meio das adquirentes, como a Cielo. Esta, vale lembrar, protagonizou a maior queda da bolsa em 2018 (mais de 60%) e teve de apertar margens para lidar com os preços competitivos de concorrentes como Pagseguro e Stone.
Há quem duvide até que a estatal tenha tempo hábil para criar as condições da abertura de capital ainda em 2019. Diferentemente da seguradora, que já tem operações relativamente independentes do banco, a área de cartões é altamente centralizada – será necessário, portanto, um longo trabalho de fragmentação antes da abertura.
O Itaú BBA comparou esta subsidiária ao negócio de cartões do BB. Com 63% do volume dos cartões do BB, a Caixa Cartões deve valer aproximadamente R$ 6,7 bilhões.
Caixa Assets
Em ativos sob gestão, a asset da Caixa é menor que a do BB em 37%. O BBA estima que a companhia valha R$ 17 bilhões atualmente.
Ainda assim, Glatt vê grande potencial também para este negócio na bolsa. “De um modo geral, vai criar uma transparência, uma visibilidade para a empresa”, diz. “Isso é bom para a governança”, conclui, considerando um ambiente em que os IPOs anteriores da própria Caixa sejam bem-sucedidos.
Para este braço, vale o mesmo que o de cartões: hoje, a gestora é totalmente dependente do negócio geral da Caixa, atuando sob uma vice-presidência, alerta Daltozo, da Eleven. Graças a isso, o especialista acha pouco provável que ocorra um terceiro IPO da Caixa ainda em 2019.
Loterias
Até a Caixa admite: um eventual IPO da parte de loterias da empresa é uma enorme incógnita. O executivo diz que essa ideia ainda precisa “amadurecer”; o mercado tem todas as dúvidas do mundo.
Sem qualquer paralelo no mercado, o Itaú BBA fez uma estimativa de piso para um eventual leilão da lotérica: R$ 542 milhões. Segundo dados da própria Caixa, o negócio não é pequeno: arrecadou R$ 9,9 bilhões no acumulado de 2018 até o terceiro trimestre, repassando R$ 3,7 bilhões aos programas sociais do governo federal. Mas não seria fácil estimar o potencial de uma ação listada nesta categoria... Leia mais em infomoney 10/01/2018
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