15 janeiro 2019

IPOs à espera dos 100 dias de governo Bolsonaro

O otimismo de investidores e de empresários com o governo de Jair Bolsonaro e o reaquecimento da economia devem se refletir nas atividades de mercado de capitais especialmente a partir de abril. "Muitos investidores e empresas estão aguardando os cem primeiros dias do novo governo para colocar suas operações na rua e traçar melhores projeções", diz Marcos Ribeiro, advogado de mercado de capitais do escritório Stocche Forbes.

Esse prazo vale principalmente para ofertas iniciais de ações (IPOs), segundo bancos de investimentos. "Tem muito investidor aguardando dados mais concretos, o que leva algumas empresas a esperarem para captar", diz Antonio Pereira, chefe do banco de investimento do Goldman Sachs.

"A retomada de ofertas de ações deve ser mais robusta na segunda janela de mercado, a partir de abril. Até lá, o fluxo de estrangeiros já deve ter voltado assumindo um avanço nas reformas", corrobora Eduardo Miras, responsável pelo banco de investimento do Citi. O cenário base do Citi, tanto para mercado de capitais quanto para fusões e aquisições (M&A), passa, por exemplo, pela aprovação da reforma da Previdência este ano.

Além de considerarem que cem dias é um prazo razoável para julgar o desempenho inicial do governo, as companhias que pretendem emitir ações também tendem a aguardar o segundo trimestre para usar os números consolidados de 2018 na apresentação a investidores. Antes disso, a maioria delas terá apenas dados até o terceiro trimestre.

Ainda assim, segundo três bancos, há ao menos um IPO e duas ofertas subsequentes ("follow-ons") já previstos para o período de janeiro a março. "Algumas empresas que já tinham se preparado no ano passado podem fazer oferta no primeiro trimestre", diz Alessandro Zema, chefe de banco de investimento do Morgan Stanley. "A concentração maior no segundo trimestre é menos uma questão tática e mais uma questão de estar pronto. Quem começou o trabalho agora não tem tempo hábil para um IPO antes de abril", pondera.

Os bancos ponderam que os resultados de governo parecem mais relevantes para os investidores estrangeiros, que ainda não retomaram fluxo para a bolsa brasileira, apesar do desempenho positivo das ações. E, para que grandes ofertas sejam viáveis, esse comprador é fundamental. "Os investidores locais foram relevantes nas últimas ofertas do ano, mas a participação de estrangeiros é determinante para a retomada de volume de ofertas iniciais", diz Fábio Nazari, chefe de mercado de capitais para ações do BTG Pactual. "É a tensão de demanda entre o investidor local e o estrangeiro que faz um IPO."

A expectativa do Bank of America Merrill Lynch é um volume de R$ 40 bilhões em ofertas de ações este ano. "Minha expectativa é de 25 a 30 operações iniciais e follow-ons no ano", diz Hans Lins, responsável pelo banco de investimento.

O otimismo dos bancos está não só na retomada da economia, mas na pauta pública, que pode aumentar também o volume de operações de M&A. "Além de operações de empresas que crescem com o ciclo econômico, deve aumentar o volume de transações ligadas à agenda de liberalismo econômico, com privatizações, desinvestimentos e concessões", diz Pereira, do Goldman Sachs. "Tem ainda a agenda de cortes de subsídios, que fará com que algumas empresas tenham que acessar o mercado de capitais ou buscar sócios."

Segundo Miras, do Citi, já há uma mudança de perfil dos mandatos de M&A. "São empresas em busca de expansão e crescimento do negócio, além de melhora da estrutura de capital." Para Henrique Lima, diretor do Bradesco BBI, o ano será melhor em todos os segmentos. "Tem muita empresa se preparando ao mesmo tempo para aproveitar esse cenário de lua de mel com governo novo e a possibilidade de aprovação de reformas", resume. Valor Econômico - Leia mais em abinee. 15/01/2019

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