21 maio 2018

Está dando tudo errado na Campbell, e a empresa pode ser vendida

Kraft seria comprador lógico, mas há problemas

Uma das empresas mais icônicas dos Estados Unidos, a Campbell Soup está com seu futuro em aberto, o que pode incluir uma cisão de parte do portfólio ou até mesmo a venda integral do negócio. Neste caso, a Kraft Heinz é tida como favorita.

Após resultados pífios no terceiro trimestre fiscal, a CEO Denise Morrison renunciou ao cargo na sexta-feira, a última vítima da dificuldade das empresas de Big Food na transição para um portfólio de comidas mais frescas e saudáveis.

As ações da Campbell caíram quase 13% na sexta-feira e, por volta das 13 horas de hoje, caem mais 1,5%. A empresa vale US$ 10,3 bilhões na Bolsa de Nova York.

Considerada a 'voz da mudança' na indústria de alimentos processados, Morrison foi pioneira em investir na aquisição de marcas de comida 'fresh' para fazer frente à estagnação das vendas no core business de enlatados e caixinhas que dominaram por décadas as prateleiras dos supermercados.

Em 2012, meses após ela assumir como CEO, a Campbell anunciou a compra da Bolthouse Farms, uma fabricante de cenouras-baby e de sucos congelados, por US$ 1,55 bilhão. Desde então, foi engatando aquisições: no ano seguinte, foi a vez da Plum Organics, de papinhas orgânicas para bebês, por um valor não revelado. Em 2015, levou a Garden Fresh Gourmet, de molhos refrigerados, por US$ 231 milhões e, no ano passado, pagou US$ 700 milhões pela Pacific Foods, de sopas orgânicas e leites vegetais.

O problema é que a aposta não se pagou: as vendas no conceito 'mesmas lojas' da Campbell seguem em queda há três anos, e os desafios de operar uma cadeia mais complexa de suprimentos e logística pesaram sobre a rentabilidade. Os problemas com as safras de cenoura da Bolthouse Farm, por exemplo, viraram rotina nos calls de resultado nos últimos anos.

No terceiro trimestre fiscal, as vendas da divisão Campbell Fresh subiram apenas 1%, e a unidade teve prejuízo operacional. A empresa fez ainda uma baixa contábil de US$ 619 milhões referente ao segmento após rodar 'um cenário de longo prazo para ganhos e fluxos de caixa futuros'.

"Vamos fazer uma revisão profunda e crítica de todos os aspectos de nosso posicionamento estratégico e planos operacionais, incluindo a composição de todo nosso portfólio", o CEO interino e membro do conselho, Keith McLoughlin, disse na teleconferência com investidores. "Esse trabalho vai nos dizer nossas prioridades em alocação de capital. Tudo está na mesa. Não há vacas sagradas."

O declínio das ações — que perdem 29% no ano — torna a Campbell um alvo mais provável de aquisição. Segundo o The Wall Street Journal, analistas e banqueiros apontam a Kraft Heinz como uma das possíveis pretendentes, ainda que o desempenho na Bolsa sugira que a aposta não é prevalente. Os papéis da Kraft Heinz caem quase 3% desde sexta-feira.

A aposta tem, digamos, precedente histórico: no fim de 2014, a Kraft estava em dificuldades e o CEO renunciou de forma inesperada. Meses depois, foi anunciada a fusão com a Heinz, então controlada pela 3G.

Mas há obstáculos para uma aquisição agora. A Campbell está muito endividada depois da compra da Snyder's-Lance, de chips e pretzels, no fim do ano passado. A aquisição de US$ 6,1 bilhões — a maior da história de 150 anos da companhia — foi financiada com dívida, e a integração do negócio, considerado complexo, deve levar anos.

A aquisição elevou a participação de 'snacks' no faturamento da Campbell para 40% das vendas, e já foi vista como um desvio de rota da estratégia de expansão em comida saudável.

Outro problema: a Campbell ainda é essencialmente uma empresa familiar. Os herdeiros de Arthur Dorrance, que criou o negócio de sopa enlatada, ainda têm cerca de 42% do capital, assentos no conselho e estão envolvidos em boa parte das decisões, o que dificulta um takeover.

Sem um novo controlador, a Campbell terá que fazer o corte de custos sozinha — o que pode incluir se desfazer de alguns dos principais ativos. Analistas já apostam na cisão da divisão de Fresh como um dos cenários mais prováveis.

"Em ordens de probabilidade, esperamos que o board considere sair do negócio de Fresh e do ecommerce (que ainda está na aceleradora de projetos) ou cindi-los para dissociá-los do core business", os analistas do Credit Suisse disseram num relatório. "Eles poderiam cindir o negócio de snacks, mas a imensa carga de dívida torna essa possibilidade difícil no curto prazo".

O banco cortou o preço-alvo de US$ 38 para US$ 30 e recomenda a venda da ação após o balanço de qualidade 'extremamente baixa'. No terceiro trimestre fiscal, a Campbell teve um prejuízo de US$ 393 milhões, comparado a um lucro de US$ 176 milhões no mesmo trimestre do ano passado.
Natalia Viri Leia mais em braziljournal 21/05/2018

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