24 abril 2018

NotreDame Intermédica abre a safra mais curta de ofertas iniciais de ações

Papel GNDI3 mostrou valorização de 22,73% na estreia e fechou cotado a R$ 20,25 no pregão de ontem, bem acima da precificação obtida junto aos investidores do IPO, de R$ 16,50 por ação ON

A NotreDame Intermédica abriu ontem a temporada de ofertas públicas iniciais (IPOs) de ações em 2018. Mas a expectativa é que a safra de operações do mercado de capitais será curta e pode durar apenas até o final de mês de maio.

Numa visão mais otimista – a do presidente da B3, Gilson Finkelsztain – haverá uma sequência de IPOs. “Estamos só no começo, foi o primeiro [o da NotreDame Intermédica] e teremos outro nessa semana [o da Hapvida], e temos outros na fila. Essa fila para o ano continua grande, e vamos torcer para que se materialize”, respondeu Gilson Finkelsztain ao DCI.

Ao mesmo tempo, sobre a expectativa ventilada no início do ano, de 9 a 10 ofertas de ações, ele ponderou que a conclusão de operações de IPOs e de follow-ons (aumento de capital) está condicionada a diversos fatores.

“Vai depender do cenário eleitoral e político, que torna isso mais desafiador. Nessa janela [safra], temos essas duas agora, e outras duas empresas com road-shows [apresentações aos investidores]. Mas também há muita expectativa do mercado de capitais ficar aberto no segundo e no terceiro trimestre”, diz o presidente da B3.

Na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), há seis pedidos de análise ao regulador: Hapvida, Banco Inter, Dass Nordeste, JHSF Malls, SBF e Blaú Farmacêutica.

Entre os profissionais de mercado ainda há dúvidas se o exercício terá todo esse dinamismo. “A janela dura até maio. Depois temos as férias no Hemisfério Norte em julho e agosto, e as eleições aqui no Brasil”, lembra o especialista em ações da Levante, Eduardo Guimarães.

Sobre a possível operação de levantamento de capital do Banco Inter que provavelmente deverá ser fechada até a próxima semana, Guimarães diz que não recomenda a entrada de pessoas físicas no IPO.

“O preço está um pouco elevado. É um banco tradicional com preço de fintech, talvez a relação risco e retorno não seja tão favorável. A demanda está menor e considerando o histórico, o controlador [a MRV Engenharia] pode retirar a oferta se não concordar com a precificação final”, alertou o especialista de renda variável.

Por outro lado, ele contou que as ofertas atuais – NotreDame Intermédica e Hapvida – tiveram demanda muito superior ao das ofertas. “Houve overbooking e forte participação de estrangeiros”, disse.

O diretor financeiro e de relações com investidores (RI) da NotreDame Intermédica, Glauco Desiderio confirmou o interesse de investidores estrangeiros pela companhia de hospitais e planos de saúde. “Os estrangeiros foram os principais compradores da oferta. Os fundos de investimentos ficaram 10%”, disse.

O CEO do Grupo NotreDame Intermédica, Irlau Machado Filho, preferiu destacar, justamente, a tradição da empresa ao comentar o sucesso do IPO. “Só posso falar do passado, e somos uma empresa sólida, com 50 anos, e crescemos muito nos últimos três anos e meio”, respondeu.

Sobre o interesse de estrangeiros, Finkelsztain, da B3, comentou que os investidores estão atentos às oportunidades e participaram com mais da metade do volume no primeiro IPO de 2018. “Os estrangeiros gostam de boas histórias de sucesso no Brasil e tem uma demanda por essas empresas e setores que tem muito potencial para crescer”, afirmou o presidente executivo da B3.

Para efeito de comparação, segundo dados da bolsa, no ano passado, os estrangeiros participaram de 46% do volume em ofertas de ações (IPOs e follow-ons), fundos com 33%, e a pessoa física com uma fatia de 5% no volume. Um perfil bem diferente do ano de 2007, época do boom de IPOs na bolsa brasileira, quando os estrangeiros registram uma fatia de 69%, os fundos com 18%, e a pessoa física com 8%.

Quanto à participação de pessoas físicas (varejo) vale lembrar que naquele ano, antes da crise global de 2008, a média em 76 ofertas (IPOs e follow-ons) foi de 14.626 pessoas físicas por operação.

Em 2010, quando foram realizadas as ofertas de aumento de capital da Petrobras (104.109 pessoas) e do Banco do Brasil (103.471), o número de participação foi puxada para cima, 11.062 por operação. Em 2017, essa média ficou em apenas 1,46 mil pessoas físicas por oferta de ações realizada.

Valorização de entrada
O IPO da NotreDame Intermédica recebeu demanda superior a cinco vezes o valor da operação prevista. O preço no book (livro de ofertas) encerrou em R$ 16,50 por ação, volume acima de R$ 2,7 bilhões, sendo cerca de R$ 2,4 bilhões para o caixa da companhia.

Ontem, na primeira meia hora após a cerimônia de abertura dos negócios na bolsa de valores (B3), o preço do papel (GNDI3) abriu em alta de mais de 10% e encerrou o pregão com valorização de 22,73%, cotado a R$ 20,25. Ao passo que o Ibovespa fechou o mesmo pregão em leve alta de 0,06%, aos 85.602 pontos.

A expectativa em torno da estreia da Hapvida no mercado secundário também está no radar. Guimarães, da Levante, ressalta que a demanda pelos papéis da operadora de saúde no IPO está “muito” elevada. “Investidores âncoras estão garantindo a oferta”, destacou.ERNANI FAGUNDES Leia mais em dci  24/04/2018 

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