28 novembro 2017

Tarpon vende Cremer por meio bi; retorno de 24,5% ao ano

Compradora é a Mafra, última investida de Edson Bueno

A Tarpon anunciou hoje a venda da Cremer para a Mafra Hospitalar, desfazendo-se de um dos ativos mais antigos da carteira enquanto aguarda o turnaround de sua maior aposta, a BRF.

Ainda que o valor de venda, de R$ 499 milhões, coloque apenas um esparadrapo num portfólio bilionário e com alguns arranhões, a taxa interna de retorno do negócio ao longo de quase 10 anos -- 24,5% ao ano -- transforma a Cremer num dos principais casos de sucesso da gestora liderada por José Carlos Magalhães, o Zeca.

A Cremer foi o primeiro laboratório da estratégia que a Tarpon tentou colocar em prática em outras investidas, como a própria BRF. A gestora começou a comprar ações da Cremer quando ela foi à Bolsa, em 2007, com controle pulverizado.

O ativismo mais agressivo começou em 2009, quando a Tarpon chegou a 25% do capital e se associou a outras gestoras -- Guepardo, Poland e Hedging-Griffo -- para instalar o sócio Alexandre Borges como CEO da companhia.

Desde então, a ideia era que, com a casa em ordem, a fabricante de produtos de primeiros socorros, cirúrgicos e de higiene poderia entrar no radar da concorrência e ser vendida para uma gigante do setor, como a Johnson&Johnson.

Borges reduziu o portfólio e focou em produtos mais rentáveis, ao mesmo tempo em que expandiu o leque adquirindo concorrentes. Em 2012, a Tarpon consolidou o controle com 51% da ações e, após novas compras em Bolsa, chegou a 70% da companhia em 2014.

Para continuar avançando, no ano seguinte lançou uma oferta pública de aquisição para tirar a companhia do Novo Mercado, que exige um free float mínimo de 25%. Após a OPA, a Tarpon ficou com 90% das ações, mas não fechou o capital da companhia.

Sem liquidez, a ação era cotada a R$ 9,40 na sexta-feira – e sobe mais 40% no pregão de hoje, rumo ao preço de R$ 17,58 por ação anunciado no negócio.

O valor por ação é o praticamente o mesmo da OPA de 2014, mas os valores não são comparáveis. Ao longo do caminho, a Tarpon fez o spinoff do negócio odontológico da Cremer, a Cremer Dental, vendida no ano passado à Henry Schein, líder mundial no setor, por um valor não revelado.


Num comunicado enviado hoje a seus cotistas, a Tarpon afirmou que colocou a Cremer à venda no ano passado e chegou a receber propostas pelo negócio como um todo, mas optou pela cisão porque concluiu que os ativos valiam mais separados.

De acordo com a companhia, a venda anunciada hoje precificou a Cremer em 11,3 EV/EBITDA -- segundo a revista Exame, que reportou a transação na época, no caso da Dental o múltiplo foi perto de 15 vezes.

A Mafra é líder no setor de produtos médicos hospitalares e deve faturar com R$ 2,1 bilhões este ano. (A Cremer faturou R$ 870 milhões no ano passado.)

Controlada pela família que lhe empresta o nome, no ano passado a companhia de Ribeirão Preto ganhou um sócio de peso: Edson Bueno comprou 37% do capital, num dos últimos investimentos antes de seu falecimento.

A maioria dos clientes da Mafra são hospitais e a base é muito pulverizada. A companhia também vende para clínicas, convênios e home care.

A Mafra disse esta manhã que a aquisição vai “expandir e diversificar os negócios atualmente praticados” e “resultará na criação de sinergias e compartilhamento de custos e despesas operacionais”.

O negócio ainda depende da aprovação do Cade e a Mafra vai lançar uma oferta pública de aquisição para os 9% da Cremer que ainda estão na Bolsa.

A venda da Cremer deve ser apenas um dos desinvestimentos da Tarpon. A companhia negocia há meses a venda do controle da Somos Educação, para a Kroton.

Neste ano, a Ômega, de energia renovável, investida da companhia desde 2008, abriu seu capital na Bolsa, mas a gestora não se desfez de sua participação. Numa oferta que saiu a fórceps, a Tarpon acabou entrando com R$ 84 milhões para sinalizar confiança no negócio.

De acordo com o último release de resultados da Tarpon, os fundos long-only (que investem apenas em companhias listadas) acumulam alta de 6,8% em 12 meses, e um recuo de 13% em dois anos, em reais. No caso dos fundos hybrid equity (que concentram investimentos em bolsa e ilíquidos), as taxas são de 4,7% e -13,2%, respectivamente.Natalia Viri e Geraldo Samor Leia mais em braziljournal 27/11/2017

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