Parente chamou atenção para o elevado endividamento da empresa, que no pior momento chegou a US$ 132 bilhões em termos brutos
O presidente da Petrobras, Pedro Parente, fez palestra na manhã de hoje na Associação Comercial de São Paulo (ACSP) aos integrantes do Conselho de Economia (COE) e do Conselho Político e Social (CPS), da entidade. Ele falou sobre assuntos como rumos da estatal, redução da dívida, desinvestimento, parcerias com empresas estrangeiras e política de preço.
Dívida
Para controlar e reduzir a alta dívida líquida da empresa, de quase US$ 90 bilhões, Parente explicou que a Petrobras trabalha com quatro pilares fundamentais: preços competitivos, eficiência nos investimentos (investir menos e produzir mais), redução de custos e programa de parcerias, e desinvestimentos da companhia.
Para garantir a execução desse programa, a estatal introduziu um novo sistema de gestão com desdobramento de metas da presidência até o nível da operação. A ideia é arrecadar US$ 21 bilhões com desinvestimentos até o final de 2018. “Estamos vendendo nossa distribuição no Paraguai, gasodutos no Norte e Nordeste, unidades fertilizantes e ativos na África”, disse, citando ainda o IPO da BR Distribuidora e a venda de participações em 71 campos terrestres e 31 campos de água rasa.
A retomada dos leilões irá beneficiar especialmente os Estados do Rio de Janeiro e de São Paulo. “A recuperação dos leilões é fundamental, mas existe um tempo entre o leilão e o início de investimento. Vamos ver uma rampa de investimentos, o que vai ajudar não apenas o Rio, mas também São Paulo, que deve se tornar o segundo maior produtor de petróleo no País”.
Além disso, a empresa está estabelecendo parcerias com companhias mundiais, como a Total, gigante do setor petroquímico com grande conhecimento nos campos da costa oeste da África, cuja geologia é idêntica à dos campos onde opera a Petrobras. Assim, espera-se que a estatal brasileira reduza seus riscos exploratórios no Atlântico.
O executivo lembrou que a Petrobras estava, no momento em que ele tomou posse na presidência (em junho de 2016) em um ponto dramático. “A Petrobras foi vítima. Ela não foi agente da corrupção. Foi uma coisa feita fora da empresa por maus executivos com agentes externos com o objetivo de saquear a empresa, e não de beneficiá-la”, enfatizou.
Parente chamou atenção para o elevado endividamento da empresa, que no pior momento chegou a US$ 132 bilhões em termos brutos. “Era mais de cinco vezes a geração operacional de caixa e sabemos que isso é um indicador muito ruim, especialmente num país como o Brasil, onde as taxas de juros são muito altas”, disse, comentando ainda que a meta atual da empresa é trabalhar, no máximo, com uma dívida líquida 2,5 vezes o tamanho da geração operacional de caixa.
A Petrobras é atualmente a segunda maior devedora do Brasil, atrás apenas do governo federal. Sua dívida é maior do que a de todos os estados juntos, excetuando-se São Paulo.
Futuro
Parente destacou que seu trabalho à frente da estatal não está pronto, que “há muito o que fazer ainda e que é preciso preparar a companhia para os grandes desafios do futuro, especialmente em relação às novas formas de produção de energia limpa e à inevitável redução na demanda por petróleo. Para ele, as demais empresas do mundo no setor energético ainda não sabem o que farão para substituir óleo e gás nos volumes praticados hoje, “o que não significa que vamos ficar parados”.
Tomadora
O palestrante deixou claro que a Petrobras não é formadora de preço, mas, sim, “tomadora de preço”, explicando a política de variação de preço do combustível no mercado interno, o que, de acordo com ele, não agrada ao consumidor, mas é a atitude correta a ser tomada do ponto de vista de administração do negócio.
Diante desse cenário, e sob o comando de Parente, a Petrobras reestruturou a visão e a missão da empresa. “Nosso foco, nesses cinco anos, será óleo e gás. Vamos sair de petroquímicos, biocombustíveis, fertilizantes”, disse o palestrante, reconhecendo, porém, a demanda crescente da sociedade por combustíveis renováveis e economia de baixo carbono.
Segurança
Um dos programas desenvolvidos pela Petrobras foi o “Compromisso com a Vida”, focado nas questões de segurança, envolvendo treinamento contínuo dos funcionários e o estabelecimento de “dez regras de ouro” para a redução de acidentes.
Um dos objetivos informados por Parente é que a Petrobras chegue ao final de 2018 com redução de 36% na taxa de acidentados registráveis, que é a soma de acidentados com e sem afastamento.
Ele revelou que, em breve, será assinado um acordo com Statoil, petrolífera norueguesa que desenvolveu uma tecnologia para aumentar a taxa de extração dos campos. “Vai ser o petróleo mais barato que vamos ter”.
Sobre a variação no preço dos combustíveis ― um dos pilares da nova estratégia da Petrobras ―, Parente disse que, como qualquer empresa, tem que operar “com um olho no market share e um olho na margem”. “É um aprendizado, é um processo novo”, comentou.
Esforços
Quanto aos investimentos, ao contrário dos atores mundiais, a Petrobras vinha concentrando cada vez menos recursos na área de exploração e produção. “Hoje aplicamos um percentual acima de 80% a essa área”. Antes, eram 50%. Parente afirmou que o foco da empresa será concentrar todos os esforços em águas profundas e ultraprofundas no pré-sal, saindo da exploração terrestre e em águas rasas. “Não somos mais competitivos nessa área”. No caso do Campo de Libra, que começou a produzir neste fim de semana, há um programa para que ele produza a um custo não superior a US$ 35 por barril.
Governança
Parente destacou as mudanças de governança na Petrobras, como a alteração na forma em que executivos são nomeados, a investigação da vida pregressa dos funcionários e a exigência de conhecimento compatível com a função. Mudanças no processo decisório da companhia e implementação de um canal de denúncia independente com garantia de anonimato também foram citados pelo presidente da estatal. “Vimos claramente que a empresa saiu das páginas policiais e voltou às páginas de negócio, da onde nunca deveria ter saído. Estamos felizes em ver que a Petrobras recupera sua saúde financeira e sua reputação”, disse.... Leia mais em setorenergetico 27/11/2017
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