11 abril 2017

Preços de ativos no Brasil sugerem cautela, diz banco americano

Os investidores com exposição ao Brasil devem ser cautelosos, já que os preços de ativos parecem elevados dados os riscos crescentes no país, adverte o banco de investimento Brown Brothers Harriman (BBH). Em nota divulgada nesta segunda-feira, o BBH diz que o cenário econômico "continua pobre", enquanto o quadro político tem mostrado deterioração.

"O presidente [Michel] Temer teve algum sucesso com as reformas estruturais, mas os seus esforços começam a diminuir", afirma o BBH. O banco lembra que Temer conseguiu apoio no Congresso para aprovar no fim do ano passado a regra que limita a expansão dos gastos públicos federais.

"No entanto, a popularidade de Temer (e, por extensão, a de seu partido, o PMDB) está em níveis recordes de baixa", diz a nota, avaliando que a austeridade fiscal, a recessão em curso e investigações sobre corrupção são os principais fatores trabalhando contra Temer.

Ao falar da reforma da Previdência, o BBH diz que recentes relatos da imprensa sugerem que o governo vai fazer concessões à sua proposta. Com a crescente oposição no Congresso, Temer deve apresentar uma nova proposta em 18 de abril, cortando cerca de 20% da economia estimada com o projeto inicial. "O plano original projetava economias de R$ 678 bilhões ao longo dos próximos dez anos." O BBH aponta as dificuldades na economia, lembrando que o Fundo Monetário Internacional (FMI) projeta crescimento de 0,2% neste ano e de 1,5% em 2018. Indicadores do primeiro trimestre, porém, sugerem um "possível retorno" ao terreno positivo nos três primeiros meses do ano, diz o banco. As pressões inflacionárias, por sua vez, estão em queda, levando o IPCA a acumular variação de 4,57% nos 12 meses até março, o nível mais baixo desde agosto de 2010, e um nível próximo aos 4,5% da meta perseguida pelo Banco Central (BC).

O cenário marcado por inflação em baixa e atividade fraca abre espaço para ampliar o corte dos juros na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) desta semana, reduzindo a Selic em 1 ponto percentual, e não mais em 0,75 ponto, como fez nos dois encontros anteriores. Hoje, os juros estão em 12,25% ao ano.

Para o BBH, Temer apertou a política fiscal, mas melhoras adicionais são difíceis até que a economia se recupere. O banco espera que o déficit nominal (que inclui gastos com juros) fique em 9% do PIB em 2017 e 8% do PIB em 2018, depois de atingir 10,4% do PIB em 2015 e 9,1% do PIB em 2016. No entanto, haveria um risco de números piores, dada a fraqueza da economia e a crescente oposição à reforma da Previdência.

"De fato, as estimativas orçamentárias do governo acabaram de ser revisadas", nota o BBH, lembrando que a previsão do déficit primário do governo federal em 2018 passou de R$ 79 bilhões para R$ 129 bilhões, com pouca melhora ante a projeção de um rombo de R$ 139 bilhões neste ano.
Ao tratar das contas externas, o BBH diz que o Brasil tem uma vulnerabilidade externa muito baixa, dado o volume de reservas, de US$ 370 bilhões, e o fluxo elevado de investimentos diretos no país (IDP).

O BBH também analisa o comportamento dos ativos brasileiros. A moeda brasileira, por exemplo, deixou de ter um desempenho tão melhor que o da média do mercado, segundo o banco. Em 2016, o real se valorizou 22% em relação ao dólar, a melhor performance entre os mercados emergentes, à frente dos 20% do rublo russo, dos 13% do rand sul­africano e dos 6% do peso colombiano. Já em 2017 a moeda brasileira acumula alta de 3% no ano, atrás dos 11% do peso mexicano, dos 7% do rublo e dos 6% do won sulcoreano.

O BBH avalia que as ações brasileiras, que tiveram um desempenho "estelar" em 2016, devem manter o desempenho abaixo da média do mercado registrado neste ano. Em 2016, o índice MSCI para o Brasil subiu 57% (em dólares), enquanto o índice geral para mercados emergentes teve alta de 7%.

Neste ano, o MSCI Brazil subiu 9,9%, menos que os 11,6% do indicador para mercados emergentes. - Valor Econômico Jornalista: Sergio Lamucci Leia mais em portal.newsnet 11/04/2017

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