As iniciativas da Natura para melhorar o desempenho de vendas no Brasil e estancar a perda de participação de mercado, intensamente cobradas pelos investidores nos últimos tempos, mostraram seus primeiros sinais no segundo trimestre. A queda das vendas brutas foi interrompida depois de seis trimestres e a produtividade das vendedoras avançou após oito trimestres. As ações reagiram com alta de 10% na BM&FBovespa, a R$ 30, a maior cotação desde 8 de março.
Ainda há dificuldades como a inflação, o aumento tributário, o câmbio e a desaceleração econômica. "Ainda estamos nos recuperando de todos esses impactos muito negativos", disse o presidente Roberto Lima ontem a analistas. "Apesar disso, os resultados positivos mostram que estamos no caminho certo."
A empresa adotou iniciativas como a simplificação do portfólio da venda direta e a ida a novos canais, como farmácias e lojas físicas. A segmentação do perfil de crédito de vendedoras e a adição de tecnologias, como máquinas de cartão começaram a mostrar resultados positivos.
A receita líquida subiu 5%, para R$ 2 bilhões, em linha com a expectativa média de seis casas de análise (BTG Pactual, Deutsche Bank, Citi, Itaú BBA, Morgan Stanley, Votorantim Corretora) consultadas pelo Valor. No Brasil a receita bruta subiu 1,2%, para R$ 2 bilhões. A operação internacional cresceu mais de 20% e continua forte, apesar de a alta do real em relação a outras moedas ter diminuído a contribuição das vendas.
O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) caiu 3,5% no trimestre, para R$ 345 milhões, mas superou os R$ 337,3 milhões previstos pelas casas de análise, em média. O lucro líquido somou R$ 91 milhões, queda de 22% em bases anuais, e abaixo dos R$ 114,5 milhões esperados - mas o aumento de despesas financeiras que afetou o resultado final era difícil de prever, dizem analistas.
"As iniciativas da Natura para engajar a base de consultoras e atrair consumidores cautelosos no Brasil começam a dar resultados e a queda de participação de mercado começa a ceder", escreveu o analista Guilherme Assis em relatório da Brasil Plural Corretora.
A Natura prevê estancar a perda de participação de mercado ainda este ano, para voltar a ganhar espaço em relação a concorrência em 2017. "O objetivo é parar a queda em 2016 e retornar um crescimento mais pujante a partir de 2017", disse Andrea Álvares, vice-presidente de marketing, em teleconferência.
A produtividade das vendedoras subiu 1,2% de abril a junho, pela primeira vez desde o primeiro trimestre de 2014. Segundo João Paulo Ferreira, vice-presidente comercial, a melhora reflete o foco maior na qualificação da base e a ênfase menor em volumes.
No segundo trimestre o número de vendedoras permaneceu estável em comparação com o ano passado, em 1,8 milhão, afetado pela retração da atividade econômica. Os volumes caíram 11% no trimestre, mas foram compensados pelo aumento de 14,7% do preço médio.
A fabricante de cosméticos diminuiu a intensidade de promoções e pretende continuar a simplificar o portfólio. A gestão de estoques deve ser aprimorada no segundo semestre, após alta de 7,9%, a R$ 1,04 bilhão, entre dezembro de 2015 e junho deste ano. O aumento refletiu tanto uma estratégia de segurança, para não faltar produto, quanto novos hábitos de consumo, pois o tíquete médio diminuiu em meio a crise.
Aos poucos as tendências estão mudando para melhor, diz o Credit Suisse. "A Natura parece bem preparada para se beneficiar da melhora do ambiente econômico", afirma o analista Tobias Stingelin.
Jornalista: Tatiane Bortolozi - Valor Econômico Leia mais em portal.newsnet 29/07/2016
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