Esse impulso pelo mercado externo iniciado na indústria pode servir como estopim para um ciclo positivo, observa Leonardo de Carvalho. O problema é que o Brasil é um país fechado ao comércio exterior e isso pode deixar a recuperação mais lenta.
Por outro lado, alerta o economista do Ipea, deixa o país menos vulnerável à turbulência internacional provocada pelo anúncio da saída do Reino Unido da União Europeia. "Ainda é cedo para afirmar qual será o impacto, mas gera incertezas", analisou. "Como tudo tem dois lados, em caso de uma crise o Brasil também é afetado, mas nem tanto se tivesse uma abertura maior. O fato é que a gente não está imune de modo nenhum", acrescentou.
Para a crise interna do país, á luz no fim do túnel, acredita o Ipea, mas o trajeto é longo e os indicadores mostram que a recuperação cíclica ainda é lenta. "Pelo menos as coisas pararam de piorar. Antes de iniciar qualquer recuperação é preciso parar de cair", destacou Carvalho.
A queda de 0,3% do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre, foi bem menor do que o tombo de 1,3% no fim do ano passado. "O ajuste proveniente do setor externo começa a gerar efeitos positivos, notadamente nos setores industriais mais voltados para o comércio exterior". A ajuda do câmbio se dá pelo aumento das exportações, principalmente de setores têxteis, calçados e madeira, e estimula a substituição de importações, reforçou o instituto.
A indústria vem reduzindo o tamanho das quedas desde o segundo trimestre do ano passado, quando o PIB do setor recuou 3,7%. Entre janeiro e março de 2016, a indústria caiu 1,2%. "Ainda assim, o carregamento estatístico do setor passou de -2,9% para - 4,3%", afirmou o Ipea.
Os indicadores parecem mostrar que a indústria já atingiu o pior momento, mas "o caminho de recuperação aparentemente será longo. O nível da produção industrial, tendo por base a série com ajuste sazonal, permanece pouco acima do patamar verificado em dezembro de 2008, que foi o mínimo atingido na recessão provocada pela crise financeira internacional".
Desde março de 2014, na comparação com igual mês do ano anterior, a indústria tem resultados negativos: são 26 taxas seguidas. E o indicador acumulado em 12 meses até ficou menos negativo, de retração de 9,7% para queda de 9,6% entre março e abril, mas ainda está num nível muito ruim.
A atividade econômica ainda terá que superar outro problema: "espera-se recuperação mais lenta do consumo de bens e serviços, cujo desempenho está fortemente associado à dinâmica do mercado de trabalho", destacou o Ipea.
O primeiro trimestre revelou que a queda na demanda interna foi tão intensa que, pela primeira vez desde 1996, início da série histórica do IBGE para esse indicador, houve variação negativa em termos nominais, de 0,7%. "A trajetória de deterioração da absorção doméstica reflete os impactos negativos provenientes do desempenho do mercado de trabalho sobre o comportamento do consumo das famílias", afirmou o Ipea na carta.
Apesar de um ajuste nos estoques e um crescimento do otimismo no empresariado, o investimento medido pela Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) permanece baixo e tende a continuar assim. A queda de 2,7% na passagem do fim do ano passado para o primeiro trimestre de 2016 foi o 11º recuo nessa comparação. Período no qual, segundo o Ipea, o recuo acumulado é de 27,1%.
O Ipea aposta num avanço de 2,8% em abril, com ajuste sazonal. "A melhora da confiança dos investidores em relação ao futuro da economia brasileira pode contribuir para aumentar o retorno esperado dos investimentos", completou o texto. O problema, destaca o instituto, é a queda continuada da demanda doméstica, que reduziu a utilização da capacidade industrial e "poderá retardar a recuperação dos investimentos", ponderou o Ipea.
O consumo das famílias está acelerando a queda, após recuar 0,9% no último trimestre de 2015 perdeu 1,7% entre janeiro e março. Esse é o lado mais severo da recessão, conclui o Ipea. Valor Econômico - Leia mais em abinee 27/06/2016
Nenhum comentário:
Postar um comentário