A chinesa CNOOC (China National Offshore Oil Corporation) tem interesse na compra da participação da Petrobras na Braskem e as americanas Dow e ExxonMobil podem entrar na disputa mais à frente, quando o processo de venda ganhar contornos mais concretos, com a abertura do "data room", apurou o Valor.
Essas companhias engrossam a lista de potenciais compradores da fatia da estatal, que inclui também a canadense Brookfield e a saudita Saudi Arabian Oil Company, conhecida como Saudi Aramco. A venda, porém, pode ser mais difícil e demorada do que se esperava por causa de direitos garantidos à controladora Odebrecht em um acordo de acionistas.
A Petrobras já confirmou que pretende se desfazer da participação na Braskem, como parte do programa de venda de ativos para reforçar o caixa, e o banco Bradesco teria o mandato da operação. Pelas cotações atuais, obteria cerca de R$ 5,85 bilhões com a alienação da fatia de 36,1% do capital total da Braskem. Na sexta-feira, enquanto as ações PNA da petroquímica recuaram 1,19%, a R$ 24,06 cada, as ON subiram 9%, a R$ 17,45.
A percepção é a de que as conversas com possíveis compradores ainda são preliminares, embora a operação da Braskem seja considerada atrativa e tenha despertado o interesse de multinacionais. Além disso, o fato de a Petrobras ser a principal fornecedora de matéria-prima da Braskem e poder estabelecer um novo contrato para venda de nafta, com prazo mais longo, poderia ser usado nas negociações. Ainda assim, a operação de venda pode ter se tornado mais complexa do que aparentava à primeira vista.
A Odebrecht, acionista majoritária da petroquímica, com 38,3% do capital total, têm direitos em caso de venda das ações da Petrobras, previstos em acordo de acionistas, que podem encarecer e dificultar o processo. Além do direito de preferência na compra dessa participação, a Odebrecht pode escolher o sócio que terá na Braskem. Há rumores de que essa última condição estaria dificultando o avanço das conversas entre Petrobras e potenciais compradores.
Um segundo direito, de tag along, obriga o comprador a estender a oferta à Odebrecht nas mesmas condições apresentadas à Petrobras, caso a Odebrecht também queira vender suas ações. A controladora nega que vá fazer isso e essa negativa foi reforçada na sexta-feira, após o jornal "Folha de S. Paulo" informar que o grupo poderá usar ações da Braskem como garantia firme em uma negociação com credores da Odebrecht Agroindustrial, empresa do grupo que produz e distribui etanol.
A Agroindustrial tem R$ 10 bilhões de dívidas em atraso e a holding já anunciou que está disposta a aportar R$ 2 bilhões na empresa, usando dinheiro do caixa, desde que os bancos concordem com o alongamento do passivo.
Conforme a reportagem, a Odebrecht, porém, teria preferência por não empenhar esse ativo e estaria negociando sua venda. Consultada, a Odebrecht Agroindustrial não negou a possibilidade de uso de ações da petroquímica em negociações com os bancos e a holding descartou a intenção de venda de sua posição na Braskem.
Contudo, caso a Odebrecht, que foi envolvida na Operação Lava-Jato, queira vender o ativo para fazer caixa, o comprador da parte da Petrobras terá de levar também sua participação, que valia, conforme as cotações na BM&FBovespa, cerca de R$ 6,2 bilhões na sexta-feira. Essa obrigação do comprador dispararia ainda outro direito, dessa vez dos minoritários, de tag along de 100% por troca de controle. Isso adicionaria ao menos R$ 4,1 bilhões à operação, que ultrapassaria a casa de R$ 16 bilhões no total, considerando-se apenas a cotação das ações em bolsa. Não inclui o prêmio de controle societário.
Na avaliação de fontes do setor, todos os nomes vinculados a uma potencial compra das ações da Petrobras na Braskem teriam condições de bancar a compra de 100%. No ano passado, por exemplo, a agência Bloomberg reportou, com base em fontes, que a Saudi Aramco planejava investir entre US$ 50 bilhões e US$ 80 bilhões em aquisições e investimentos no mercado internacional até 2020. Já a Brookfield teria interesse em comprar ações da Braskem desde que tivesse o controle a petroquímica.
Em resposta ao Valor, a Odebrecht informou que, na condição de acionista controladora da Braskem, tem acompanhado as notícias sobre o plano de venda de ações da Petrobras. "Uma vez que a Odebrecht S.A. não tem a intenção de alienar sua participação na Braskem, não faz sentido em atribuir à Odebrecht S.A. responsabilidade sobre a eventual paralisia no processo de venda da participação da Petrobras na Braskem", disse.
A Odebrecht afirmou ainda que "considera a Braskem um valioso ativo, com higidez financeira, geradora de sólidos resultados e em plena expansão internacional, o que tem gerado alto interesse de investidores e do mercado".
Procurada, a Petrobras informou que não vai comentar o assunto. A Dow informou, por meio de assessoria de imprensa, que não comenta rumores de mercado. - Valor Econômico - Valor Econômico Leia mais em portal.newsnet 14/03/2016
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