04 novembro 2015

Oi e TIM juntas teriam sinergias de R$ 30 bi

A eventual combinação de Oi e TIM Brasil tem capacidade de gerar sinergias totais que podem alcançar a casa dos R$ 30 bilhões. Esse total é o valor presente das economias que, juntas, as companhias podem conseguir em custos e despesas operacionais e também em investimentos.

Não se trata de uma estimativa qualquer, mas cálculos feitos das conversas preliminares entre Oi e Telecom Italia - e importante fator de apetite de ambos os lados nessa transação.

O montante também foi relevante para o conselho de administração da Oi aceitar - na semana passada - assinar uma proposta de exclusividade com o fundo LetterOne, do bilionário russo Mikhail Fridman, em busca de uma união com TIM Brasil.

A estimativa de sinergia toma como base o atual quadro regulatório das empresas.

Nesse complexo roteiro de consolidação da Oi e do fundo russo, o próximo passo é iniciar o debate com os órgãos reguladores técnicos para verificar quais evoluções são possíveis.

A partir da percepção das visões do regulador, serão então trabalhadas as condições para uma proposta à Telecom Italia.

A Oi, por exemplo, quer conseguir avançar em pleitos antigos que afetam diretamente seu caixa.

A tele encerrou junho com R$ 14 bilhões em depósitos judiciais. Desse total, segundo a nota explicativa número 12 das demonstrações financeiras, R$ 9,2 bilhões são pendências cíveis, R$ 2,6 bilhões são tributárias e R$ 2,2 bilhões, trabalhistas.

Segundo fonte a par do tema, desse total bloqueado, R$ 6 bilhões são depósitos referentes às disputadas com os acionistas originários dos planos de expansão, que obtiveram correção dos valores a receber - soma da antiga Brasil Telecom com Oi. E tal saldo não tem previsão de redução.

Há, porém, um valor significativo atrelado a multas da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) - justamente vinculado às obrigações de universalização que estariam em dissonância com a realidade do setor, tanto tecnológica quanto de valor.

Caso obtenha liberação das multas (ainda que com compromisso de investimento), a Oi terá condições de incluir esse valor no modelo de combinação com a TIM Brasil, para a proposta aos controladores italianos, e até mesmo na definição do preço das ações a serem adquiridas pelo LetterOne.

O primeiro documento à Telecom Italia, cuja função é a abertura oficial de uma negociação, deverá conter variações e flutuações que podem ocorrer conforme as regras setoriais.

A eventual fusão de Oi e TIM Brasil demandará diversos passos e envolve muitas condicionantes. A Telecom Italia só se dispõe a dialogar após evidente disposição de mudança regulatória. O fundo LetterOne vincula o aporte de US$ 4 bilhões na Oi à combinação com a TIM Brasil.

Por fim, há ainda o elemento concorrência. A união da segunda e da quarta maior empresa de telefonia móvel motivará a avaliação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

Vender capacidade móvel para operadores virtuais (MVNO) pode ser proposta ao Cade e à Anatel

O Valor apurou que, para essa questão, está em estudo uma proposta ousada ao regulador setorial. Caso o Cade veja necessidade de venda de capacidade móvel, a ideia é propor que esse excedente seja cedido em modelo de operadora virtual de rede móvel (MVNO, na sigla em inglês).

Nesse modelo, é como se, combinadas, as empresas pudessem vender a capacidade extra no atacado, e não mais no varejo.

Hoje, isso já é possível. A Telefônica Vivo, por exemplo, vende capacidade à AD Celular (MVNO dedicada à comunidade religiosa da Assembleia de Deus). Mas há espaço para tornar essa venda mais interessante do que é hoje para as operadoras detentoras da rede.

Essa proposta, que serviria como resposta ao Cade, também contribuiria positivamente para a percepção popular de uma consolidação desse porte. A união das duas companhias corre risco de ser percebida como redução do número de competidores - ainda que separadas e no atual cenário nenhuma das duas tenha condições de serem agressivas no enfrentamento dos outros competidores.

A TIM Brasil tem 74,6 milhões de usuários e a Oi, cerca de 50 milhões. A Telefônica Vivo, por sua vez, mais de 80 milhões e a Claro, mais de 72 milhões.

Mas o maior desafio a ser superado nessa almejada consolidação não está nem no Brasil nem na Itália, mas sim na França.

Atualmente, 30% do capital votante da Telecom Italia está nas mãos de franceses - 20% com a Vivendi, cujo conselho de administração é comandado por Vincent Bolloré.

A Oi e seus representantes sabem que o sucesso desse negócio passa por apresentar a transação de forma que seja interessante a Bolloré. Ainda não está claro se, diante do cenário de queda no valor dos ativos no Brasil, o empresário teria mais interesse em manter caminhos abertos para ser um consolidador setorial ou para poder sair com facilidade e vender sua fatia diante de uma futura oportunidade.

Segundo o Valor apurou, o LetterOne tem se mostrado aberto tanto para dialogar a composição de um acordo de acionistas quanto de um contrato que regule saída de sócios, para facilitar tais caminhos.

Junto com TIM Brasil, a Oi poderia sair do círculo vicioso em que está praticamente desde a privatização. Mas os analistas - ainda céticos diante da complexidade do negócio e da quantidade de condicionantes - enfatizam que esse ainda não seria o negócio derradeiro. Mesmo combinada, a tele resultante ainda deve ser alvo de uma consolidação dos grupos globais que restarão nesse setor.

A história da Oi foi construída sobre dívidas. Ainda em 1998, a antiga Tele Norte Leste Participações (Telemar) foi comprada com endividamento dos controladores. Para completar o cenário, dez anos após o leilões da Telebrás, houve ainda compra da Brasil Telecom, o que elevou o grau de alavancagem.

Os controladores, desde então, sempre submeteram a Oi a um regime de pagamentos significativos de dividendos - pouco compatíveis com a realidade de investimentos pesados do setor e de dívidas expressivas das sociedades operadoras, além das holdings.

A composição do controle da Oi sofreu diversas alterações. Ainda assim, a dupla AG Telecom (Andrade Gutierrez) e La Fonte Telecom (família Jereissati), com fundos de pensão e BNDESPar com investimentos minoritários, sempre foi prevalente. Houve períodos de influências importantes como a sociedade da GP Investimentos, até 2008, e a Portugal Telecom (PT), a partir de 2010.

Agora, após uma longa reestruturação, iniciada em 2013, a Oi hoje é uma companhia com menos amarras. Ainda que tenha grandes acionistas, não possui mais um dono. Nem mesmo um grupo organizado sob um acordo de acionistas ou de voto.

Na opinião de espectadores da transação, esse é o fator que pode fazer o modelo de consolidação agora em pauta ter êxito.Valor Econômico - Graziella Valenti - Leia mais em mmaa  03/11/2015

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