Investidores estão à espera da melhor oportunidade para se posicionar num momento estratégico, antecipando-se para quando economia brasileira retomar o crescimento. A grande dúvida ainda é o momento certo de entrar, diz em entrevista Roberto Padovani, economista do Banco Votorantim. "Está todo mundo desesperado para comprar Brasil".
O economista vê "luz no fim do túnel" aparecendo em 2018, ou antes se o mandato de Dilma for abreviado. O Brasil deve entrar em um novo ciclo político, com um novo governo, provavelmente do PMDB ou PSDB, mais pragmático, agindo mais por necessidade do que por ideologia. A dúvida sobre o momento certo de entrar, contudo, deve-se à percepção de que a economia ainda deve piorar antes de melhorar, com o elevado endividamento aprofundando a recessão e podendo levar o desemprego a 11% entre abril e maio.
O Brasil entrou na recessão com um nível de endividamento não visto em crises anteriores, o que pode ser um fator de aprofundamento da própria crise, diz Padovani. As condições de renda ainda devem piorar muito e o desempregado hoje vive situação mais dramática do que no passado. Primeiro, porque está endividado. Segundo, porque passou 10 anos aumentando o seu padrão de consumo e agora se vê ameaçado de regredir de classe social.
Segundo o economista, deve ser a primeira vez desde o pós- guerra que o Brasil tem dois anos sucessivos de recessão. "Desde 1952, toda vez em que economia afundou, houve troca de orientação política". A recessão deve ser profunda e longa e com muito endividamento em todas as áreas, nas famílias, empresas e governo. Mesmo as grandes empresas enfrentam falta de crédito.
A deterioração econômica mina a governabilidade, observa Padovani. A presidente Dilma fica mais fraca, com menor capacidade de atrair apoio e aprovar medidas no Congresso. E a situação pode piorar em 2016, quando congressistas voltarão do recesso de fim de ano com fortes queixas de suas bases eleitorais.
Se o quadro político continuar em impasse, a crise pode se retroalimentar. Segundo Padovani, uma ameaça poderia vir em caso de muitas empresas quebrarem, tendo de buscar a recuperação judicial. Nesses casos, ocorre uma "destruição de capital" que acaba prejudicando a capacidade de crescimento do País.
As condições estão dadas para uma explosão no País, afirma o economista. O gatilho pode vir das ruas, com soma do desemprego e do descontentamento do setor privado. Para completar, o quadro externo, com apostas em alta dos juros nos EUA e desaceleração na China, é desfavorável. "Temos tempestade perfeita".
Condições para retomada após agravamento da crise
A despeito do cenário de deterioração contínua no curto e médio prazos, algumas condições começam a ser construídas para uma futura retomada. O câmbio mais desvalorizado deve ser um aspecto favorável do início do próximo ciclo, diz Padovani. O caso da venda de unidade da Hypermarcas para a multinacional Coty foi "emblemático" desta percepção de que o Brasil pode estar barato. Ao mesmo tempo, o dólar caro favorece a competitividade das exportações brasileiras.
O desemprego, apesar de sua face dramática, tem seu papel no ajuste da economia, ao permitir que as empresas contratem gente "boa e barata". Antes da crise, um dos fatores que vinham limitando o crescimento, segundo os analistas, era a escassez e o custo crescente da mão-de-obra.
Entre as ações que o governo pode implementar para debelar a crise, Padovani cita concessões, privatizações, "despedaladas" dos gastos e reorientação de bancos públicos. A reforma da Previdência, que representaria um grande avanço estrutural para as contas públicas, deve "amadurecer" em termos de debate, mas sem aprovação no atual governo.
Independentemente de o governo fazer sua parte, contudo, o próprio ajuste do setor privado deve ajudar a preparar o terreno para a recuperação, diz o economista do Votorantim. As empresas estão reduzido suas deficiências. Até o início do próximo ciclo, terão feito um "choque de produtividade". Marisa Castellani e Josué Leonel (Bloomberg) -- Leia mais em bol.uol 03/11/2015
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